Clara.
 
 
Meu nome é Cláudio.
Mesmo aos 50 anos nunca dispenso uma balada ou um encontro com meus amigos em barzinhos as sexta-feira.
Pois foi justo numa sexta-feira quando estava num barzinho bem transado, que me encantei com uma linda mulher.
Estava em companhia de dois amigos, Ricardo e Marcelo, quando três gatas entraram e se sentaram quase na ultima mesa dos fundos, pois o local estava bem cheio de gente e com certeza logo mais já não haveria nenhuma mesa disponível.
Não despreguei mais os olhos de uma delas. Morena, cabelos lindos que caiam além dos ombros, dona de uma boca sensual, olhos castanhos bem claros e um corpo que parecia de uma deusa.
Falei a meus amigos.
 
- Não se atrevam a colocarem seus olhos naquela morena.
 
Eles riram e passaram a me sacanear.
 
- Xiiii o Cláudio gamou naquela ali.
 
Mas a morena nem olhava em direção a nós. Parecia que não existíamos. A certa altura, já impaciente por não sentir a menor chance dela me notar, resolvi chamar o garçom e mandar-lhe um “aviãozinho”. Um cartão de visitas com uma frase escrita atrás: “Você é linda. Gostaria de conhecê-la”. Indiquei a moça para ele. Logo o vi entregando. Ela mostrou as amigas e o garçom saiu de perto. Depois o chamaram e pelos modos queria saber que havia mandado aquele “aviãozinho”. Quando ele saiu, a morena discretamente olhou em nossa direção, como se olhasse de forma distraída e não para nós na mesa.
 
- Ela já me viu – disse aos amigos.
 
Notei que uma delas sorria e olhava para nós. Era bonita também, mas a morena tinha algo que as outras não tinham. Não sabia explicar. Apenas sentia algo de diferente naquela mulher. Convidei os amigos a me acompanharem até a mesa delas e nos apresentarmos. Eles toparam e meu coração disparou. Fomos até a mesa delas e eu ao chegar disse com a maior cara de pau:
 
- Boa Noite. Chamo-me Cláudio Tavares. Estes são meus amigos Ricardo e Marcelo. Podemos nos sentar com vocês?
 
A morena nem levantou a cabeça. Segurava um sorriso, que eu achei ser de nervoso, mas a amiga dela foi rápida na resposta.
 
- Estava achando que nunca viriam até nós – e soltou um largo sorriso para o Ricardo,completando em seguida – Sim podem sentar, mas terão que juntar a mesa ao lado.
 
Foi o que fizemos e eu não esperei ser convidado para ficar sentado ao lado da morena.
Meus amigos estavam se saindo melhor que eu. A conversa com as duas e eles ia muito bem. Então arrisquei.
- Não sei seu nome ainda.
- Clara.
- Lindo nome.
- Também acho. Gosto dele.
 
Reparei que ela usava pouca maquiagem. Lápis em volta dos olhos, batom, e algum produto muito de leve no seu lindo rosto.
 
- Usa sempre destes modos para se aproximar de alguma mulher?
- Está falando do cartão de visitas?
- Sim.
- Quando alguém me interessa costumo usar sim.
- E por que eu iria te interessar? Que interesse é este?
- Gostei de você...
- Como pode gostar de alguém se nem a conhece?
 
Ela tava a fim de me desarmar. Que sabidinha. Pois então teria que contra-atacar.
 
- Olhei para você e gostei. Senti algo de diferente em você.
- Diferente? Como assim? Sou igual a todo mundo.
- Ai que se engana. Você tem algo que elas não tem.
- Então seria anormal, pois somos mulheres do mesmo jeito.
 
Caramba! Ela estava a fim de curtir com minha cara,
 
- Nada disso. Você é diferente mesmo.
 
Ela fez que não ouviu e perguntou a amiga se queria mais vinho. Fez isso só para encerrar aquela conversa. A amiga respondeu que si e ela a serviu.
Resolvi mudar de tática. Iria ignorá-la. Então passei a conversar com suas amigas e meus dois amigos. Nem olhava mais para Clara.
 
A certa altura Clara falou algo e eu sabia que era para eu responder. Na respondi. Fiz de conta que não era comigo. E assim aconteceu mais 3 vezes. Fiquei ignorando-a direto. Apenas quando ela perguntava algo bem simples eu respondia com “sim” e “não”.

Pensei com meus botões: “Você está ferrada comigo, minha amiga, mas até o final da noite você vai descobrir mais de mim”.

Esta minha indifereça a incomodava. Otimo. Era isso que eu queria.

E assim passamos a noite até que ela para matar a sua curiosidade e chamar mais atenção, perguntou:
 
- Tem família?
- Não sou casado, se é isso que deseja saber. Já fui, mas estou divorciado há 5 anos.
- Entendo... E não encontrou alguém durante este tempo?
 
Estava querendo saber se eu tinha uma namorada ou uma ficante, imaginei isso.
 
- Não. Não tenho ninguém. Pensei em ter uma pessoa, mas acho que me enganei.
- Como assim? Ela não te quis ou não deu certo?
- Ela não me quer.
- E você desiste assim tão fácil?
 
Olhei para ela, bem dentro de seus olhos e respondi.
 
- Ela é linda. Muito linda, mas não me deixa ir além de olhar pra ela e manter uma conversa muito simplória.
 
Clara não entendera o recado, ou se entendeu fingiu muito bem.
 
- Vai ver você não soube como envolvê-la.
- É possível. Ou vai ver ela tem alguém.
- Será?
- Acho que sim.
 
Olhei mais uma vez dentro de seus lindos olhos e disse.
 
- Ela é a mulher mais encantadora que eu já vi. Quando fala, parece uma criança falando. Tem a expressão mais linda que já vi numa mulher. Seu perfume é incrivelmente sensual. Seus lábios um convite a um beijo.
- Hummmm... Mas que mulher poderosa! Deve ser muito linda mesmo, se ela é assim com diz.
- É mesmo.
- E por que você não está agora com ela? Devia estar lá perto dela tentando conquistá-la.
 
Agora seria tudo ou nada. Ela parecia estar bem curiosa e confusa a respeito da tal mulher que eu falava. Deveria estar pensando se fosse verdade, o que eu estaria fazendo ali ao lado dela. Então respondi.
 
- Ela está neste bar.
 
Senti que ela estremeceu e sua expressão havia mudado. Como se sentissem medo de que a tal mulher viesse até a mesa. Levantou o olhar e deu uma boa olhada em volta e depois disse.
 
- Aqui só tem casais. Se ela estiver aqui então está em companhia de alguém.
- Está em companhia de alguém sim.
- Sério? Onde ela está?
Sorri olhando para ela e disse:
- Bem aqui diante de mim.
 
Clara parecia não saber onde esconder seu rosto. Aquilo a pegou de surpresa. Ficou toda desconcertada. Aproveitei e peguei em sua mão sobre a mesa para então continuar:
 
- Clara, vamos acabar com este joguinho de esconde-esconde. Logo que a vi senti uma atração muito grande por você. Foi muito forte. Não sentia isso há muitos anos.
- Cláudio, vamos parar com esta conversa. Sai de um casamento há poucos anos e não quero sofrer mais nesta vida. Não quero ninguém.
- Mas se o destino fez com que isso acontecesse e nos colocou hoje juntos? Você não estaria deixando de viver a sua verdadeira felicidade por puro medo?
- Não acredito em destino. Também não vou abrir mão de minha vida do jeito que ela estar para viver outra ilusão.
- Mas não é ilusão. Olhe para mim.
Ela olhou meio sem graça.
- Pareço ser um aventureiro? .
- Não, mas todos vocês homens são iguais. Depois que tem uma mulher se dão por satisfeitos...
- Epa! Não é assim.
- É sim. Olhe ali seu amigo. Já está aos beijos com minha amiga. Mal se conheceram e já está a iludi-la. Vocês todos são assim.

Olhei e vi Ricardo aos beijos com uma das amigas de Clara.
                                                                                                       
- A vida deles diz respeito a eles. A nossa vida diz respeito a nós. Quando te vi, senti como se já a conhecesse. Pareceu-me já ter te conhecido bem antes de hoje. É como se tudo de ti eu já tivesse conhecido antes.
- Que conversa é esta? Uma nova tática?
- Não. Estou sendo franco e sincero. Parece que já vivemos um romance antes. Não sei explicar, mas é como sinto. É como estivesse novamente te encontrando após anos de separação.
- Que entranho...
- O que é estranho?
- Eu senti algo de diferente em você também. No inicio tentei negar e evitar conversar contigo, mas algo era forte e me incomodava.
- Por que não se dá uma chance?
- Não. Não quero. Nem pense nisso – e tirou sua mão debaixo da minha sobre a mesa.
- Clara...
- Já disse que não. Por favor, não insista.
 
Ficamos conversando em grupo e não voltamos mais a falar sobre aquele assunto. Eu sentia como estivesse perdendo o maior amor de minha vida. Mal podia concentra-me na conversa.
Quando decidiram ir embora, lembrei a Clara que no meu cartão tinha meu telefone. Pedi o dela, mas me negou.
No dia seguinte, ainda dormia quando meu celular tocou.
Ao ouvir aquela foz sabia que era Clara.

- Bom dia Clara. Que bom ouvir sua voz logo tão cedo.

 - Não dormi bem. Alias, acho que nem dormi se é que dormir aos pedaços pode se chamar de que se tenha dormido.
- O que houve?
- Não sei. Ficava com você aqui andando dentro de minha cabeça.
- Lamento que tenha tirado seu sono. Vamos almoçar juntos?
- Está certo. A que horas pode vir me buscar?
- As dose. Onde você mora?
Ela passou o endereço e perguntou:
- Onde será o restaurante que vai me levar?
- Tem um muito bom perto da represa. Conhece?
- Sim. Gosto da comida que servem lá e é um lindo restaurante.
- Ok então. Às doze horas passo ai par te apanhar.
 
Exatamente no horário marcado eu desci do carro diante do prédio em que ela morava. Peguei o elevador e quando cheguei diante da porta do seu apartamento toque a campanhinha.
Uma mulher com um avental preso a cintura abriu a porta e perguntou:
 
- É o Sr, Cláudio?
- Sim.
- Faça o favor de entrar e esperar na sala que dona Clara já vem.
 
Sentei-me no sofá. A sala era bem decorada. Os moveis de quem tinha bom gosto. Peguei uma revista em cima da mesa de centro para ajudar a passar o tempo, mas mal abri a primeira pagina e Clara apareceu. Estava linda. Trajava um vestido preto de um tecido bem macio e leve. Ela veio em minha direção e foi cumprimentar-me beijando meu rosto, mas habilmente desviei e colei meus lábios nos dela.
 
Clara tentou reagir, mas mantive meus lábios colados ao dela e logo nos beijávamos. Foi um beijo diferente de todos os que eu já havia vivido até então. Não há palavras para descrevê-lo.
Ela se separou e disse:
 
- Isso não era para ter acontecido.
- Mas aconteceu e foi o beijo mais doce de minha vida.
E novamente nos beijamos. Uma, duas, três vezes...
 
Nossas emoções estavam a flor da pele. Parecia que já esperávamos por aqueles beijos há séculos. Como se eles estivessem guardados dentro de nós para serem revividos neste belo sábado.
Tudo a nossa volta parecia rodar. Era como se estivéssemos em uma outra dimensão e não ali na sala de seu apartamento.
 
- Clara, é como se eu já conhecesse teus beijos. É como se eu os esperasse por toda a minha vida.
- Eu também sinto isso. Por favor, não brinque comigo...
E novamente trocamos mais beijos.

Não me recordo como aconteceu, mas de repente me dei conta que estava em seu quarto amando-a. Tudo parecia um sonho. O mais belo sonho que já tinha vivido em toda a minha vida.

Clara é uma mulher fantástica. Carinhosa e supreendente em tudo que faz. Ao seu lado vi o quanto ela precisava de amor. O quanto era carente de um amor que a fizesse sentir-se mais viva.
Seus beijos eram cheio de uma ternura incrível e altamente apaixonantes.

 
Até hoje, estamos vivendo este lindo sonho. Ele nunca vai acabar. Será eterno para todo o sempre de nossas vidas. Um amor que apareceu e se enraizou nos nossos corações de tal forma, que nunca um só dia deixamos de um pensar no outro, mesmo quando estamos juntos.
 
 
 





 
  
 
 
Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 18/11/2010
Reeditado em 18/11/2010
Código do texto: T2621943
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