Eu te amo!
- Eu te amo!
Foi a única coisa que eu consegui ouvir antes de fechar a porta. Meu coração parou. Eu estava novamente sem chão e não havia passado nem mesmo um minuto desde que eu estivera na mesma situação. Após alguns segundos eu fechei meus olhos porque não queria ver a porta e imaginá-la do outro lado, mas não foi o que aconteceu, eu a vi, nitidamente, viva e sorridente como ela sempre fora.
A imagem penetrou minha cabeça como uma adaga e doeu, doeu o bastante para eu me recordar. Abri meus olhos novamente e não foi a porta o que eu vi, foram dois olhos me fitando.
- Você não vai dizer nada? – Eu me escondi onde pensei que ela não veria minhas lágrimas. – Eu acabei de dizer que te amo.
- O que você espera que eu diga? Que está tudo bem agora, porque você descobriu que me ama? – Ela me segurou e olhou dentro de mim.
- Não, porque eu não “descobri” que te amo. Eu sempre soube. – Ela estava no controle da situação e isso me assustava. – Você não pode negar que sente algo por mim também, eu estou aqui assistindo você sofrer porque me viu com uma outra garota. – Eu odiava a forma como ela estava certa, absolutamente precisa nas suas análises. Senti as mãos dela em torno do meu braço e gostei da sensação de pertencer a ela, de ser dela naquele segundo, mas não deixei que ela percebesse.
- Eu não estou sofrendo. – Menti descaradamente – Só não esperava encontrar duas amigas minhas se pegando assim tão livremente. Eu já disse que você não pode tirar conclusões precipitadas, mas não adianta, você sempre vai olhar pro mundo e sentir que todos a desejam. Vou te dizer uma coisa, nem todo mundo tem uma queda por você. Você não é tão irresistível como pensa que é. – Cada palavra saiu como um golpe de karatê, preciso, rápido e letal.
Ela simplesmente soltou meu braço e eu morri por não ser mais dela. Estava tudo terminado, eu estava acabada, eu havia terminado uma relação de amizade em menos de um segundo. Quando ela percebeu que não havia o que fazer, virou as costas e voltou à porta. Meu coração estava querendo explodir a cada batimento.
- Só não esqueça que eu amo você, não importa o que aconteça, eu vou amar você mesmo que você não queira que eu apareça na sua frente. – Ela disse ainda de costas para mim. – Eu te amo, Lina.
Eu corri e a abracei. Envolvi meus braços na cintura dela tomando posse de seu corpo. Ficamos assim por alguns segundos até que eu perdi a consciência. Meus braços se moveram por vontade própria, eu não estava controlando nem mesmo um centímetro do meu corpo, minhas mãos começaram a acariciar a pele descoberta dos braços dela, meu tronco colou nas suas costas sentindo o calor que ela emanava. Diferente dos inúmeros abraços que dávamos todos os dias, esse tinha intenções e eu temia estas tais intenções.
Ela virou de frente para mim e olhou novamente para dentro do meu ser com aqueles olhos de criança que tudo enxerga. Abraçou-me e deu um beijo na minha bochecha, não resisti ao carinho e procurei a boca dela sem pensar duas vezes no que estava fazendo.
- Espera. – O quê? – O que você está fazendo?
- Eu...eu não sei. – Larguei o pescoço dela que já segurava forte – Desculpe.
Um silêncio constrangedor nos atacou. Eu mal podia olhá-la nos olhos e ela estava de pé sem saber se ia embora ou entrava de vez. Pude sentir meu corpo se revoltar com a atitude puritana dela. Nunca fiquei tão frustrada em toda a minha vida. Só conseguia pensar em como ela conseguiu me parar tão facilmente, sem nem ficar ofegante.
- Você está bem?- Ela perguntou só para checar, eu sabia.
- Estou... – Eu não sabia o que dizer, mas não queria que a conversa morresse uma vez que enfim tinha iniciado. – Na verdade estou um pouco cansada...
- Se quiser eu vou embora...
- NÃO! – Nós duas nos assustamos com o grito que eu acabara de dar. – Desculpa eu... - Tarde demais, ela já havia me segurado novamente e estava me beijando (na BOCA).
Fiquei sem ar, mas não estava me incomodando, ela estava me beijando e eu não estava sonhando. O beijo se tornou mais brando, mas eu logo mudei a direção dos acontecimentos com um simples empurrão. Encostei-a na porta já fechada, então ela percebeu que eu não estava querendo parar.
Quando enfim abri meus olhos, estávamos no meu quarto, era dia e eu não tinha roupas.