O pacto... 'De uma paixão sobre-humana'

Era bem jovem e irremediavelmente atraente. Vinte e poucos anos. Beirar os 30 seria obsoleto e desarmonioso constatar.

Pensou em se matar, sem versos pobres de Fernando Pessoa, porque talvez a dor das perdas instantaneas e atrozes, nem mesmo o poeta dúbio saberia e comportaria em sua alma.

Amava um, enamorara-se de outros poucos...Muitos o suficiente para cravarem um punhal contra seu peito e fazerem sangrar intensa e lentamente o coração. O verdadeiro amor, perdera pela dimensão e profanação do tempo. Profana-ação que desencadearia na jovem, cheia de vidas e laços, um instinto maior de sobrevivência. Ora entre Deus e suas velas acesas: Nossa Senhora no encalço brando e alguns pedidos precedidos de Luz! Ora Luz se apagava e vinha Satã com suas farpas agonizantes e dolorosas. A voz de mil homens sedutores e calmos:

-Venha, minha Dama! Aqui em meus braços serás feliz!

A jovem resistia porque aos olhos da mãe e do pai, já cansados da amargura da filha, entendia-os com pesar e dor sobre-humana. A própria filhinha dizia entre horas de descanço e paz:

-Tu és a mais linda das flores, mamãe!

Mas a jovem teimava em vibrar no tempo uma paixão sem rédea dos céus. Afogara-se nos instintivos e demoníacos nós de Lúcifer. Lúcifer era um bonito nome e parecia-lhe aprazível tê-lo como mentor... O Anjo das tempestades! Arrependimento imperdoável...

Rolava na cama várias noites. De companhia, somente o cãozinho trazido pelo ex-marido e imposto contra a vontade da família. Para a jovem, o amigo que ela não encontrava há tempos. O cãozinho passou a sentir as dores, as lágrimas e creio, deveras, que ele sentia ora Deus ora o inimigo rodeando os pensamentos da jovem desolada.

Blasfemava, tentava barganhar a alma por nehum valor! De nada adiantavam as velas acesas, as noites chorosas e lastimáveis no ombro do melhor e mais fiel amigo (desta vez, não o cãozinho);

mas um menino, mais homem que qualquer mortal, que lhe prometera amor eterno e incondicional.

Chorava com ela pelo militar errante, distante e irrevogável.

Chorava pelos instantes de fúria e desterros da mulher amada.

Choravam juntos e tentavam buscar solução.

A solução viria somente a ser o silêncio. Silêncio oportuno e brando, fiel apenas àquelas horas de colo e conforto.

O marido, esquecera! Como se esquece um retalho mal cortado.

Agora seria outro. Justamente aquele impróprio e desafetuoso.

Por ele guardou broquéis, puras sedas, lingeries caríssimas e os perfumes mais puros... Por ele, TUDO e dele um sonoro e mortificante NADA! Telefonemas amenos, pela educação imposta aos militares. Uma mensagem e só. Dizia a metade de quase tudo que ela poderia desejar ouvir nos rompantes apaixonados...

Viria o dia da morte que os amigos infiéis aguardavam? Viria os podres e pobres versos de Fernando? Fernando Pessoa em crivo e Fernando (o militar) em pensamentos...

Foi-se pactos e amuletos...

Noites escuras e nebulosas de lágrimas...

E nenhum destino à vista!

Desgraçados Fernandos...

Se pelo menos, calassem os dois ou deles viessem as palavras necessárias...

Mas ainda esperava ela, em Cristo, e por Ele pedia que pudesse queimar todo o mal do Amor ou consumar seus desejos. Mas Cristo não rabisca caminhos sinuosos, tortuosamente bélicos...

Voltava, então, para cama, todas as noites, com a alma vazia e cansada de sonhar e esperar em vão. A maquiagem borrrada pelas enchentes de lágrimas...

Os dias passavam escuros...

As noites, macabras...

Somente um Anjo de Luz para colher suas preces e por mais que Ele tentasse colher, ela não haveria de enxergar...

Nunca haveria! Enquanto no peito 'direito' e esquerdo batessem mais fortes os beijos implícitos e ainda desejáveis de treze anos atrás...

Nem Anjos de luz nem anjos da noite poderiam ser maiores que as trombetas profanas daquela paixão. E enquanto esta não se consumasse inteira e puramente, o fogo arderia sem cessar. Sem cessar na alma e no peito Dela. Pura e simplesmente!

Ana Beatriz F. Mota

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 12/11/2010
Reeditado em 12/11/2010
Código do texto: T2610724
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