O SEGREDO DO JULIANO = EC
A chegada do Juliano na pequena cidade distante dos grandes centros, com seu carrinho velho repleto de quinquilharias, quebrou a monotonia da pacata cidadezinha.
Todo mundo queria saber quem era ele, de onde vinha, se tinha família e principalmente o que o teria levado até ali.
Ele logo alugou uma portinha e começou seu negócio. Na cidade só havia dois ou três armazéns de secos e molhados e uma loja onde se vendia algum tecido, aviamentos, nenhuma novidade.
A lojinha do Juliano vendia de tudo, bijuteria, bibelôs, perfumes, brinquedos, material escolar, etc. etc. etc.. muitas coisas que o pessoal dali nem conhecia.
Nem preciso dizer que fez sucesso, principalmente entre as jovens, pois era um rapaz bonito, alegre que esbanjava simpatia.
O povo da cidade era muito simples, mas não era pobre. A maioria eram proprietários de fazendas de café. Tinham muito dinheiro e pouco em que gastar e o Juliano vendia muito mais do que imaginara.
Mas logo começaram a estranhar o jeito dele, alegre, conversador, mas não falava nada de si, não parecia ter família e nunca saia da cidade.
Recebia a mercadoria pelo correio em várias caixas com o tamanho máximo permitido mandado por uma mulher com quem mantinha correspondência. Alguma pessoa da família ou seria diretamente da distribuidora?
Bem, isso pouco importava.
Quem conferia era a Nilma, agente do correio que conhecia todos os moradores da cidade, sabia tudo da vida de todos e adorava uma fofoca.
Passaram-se alguns anos e todos acabaram acostumando com as esquisitices do rapaz.
Não havia dúvida de que ele devia ter um segredo, alguma coisa que ele não abria para ninguém.
Embora fizesse muito sucesso entre as garotas, elas estivessem o tempo todo na sua lojinha, comprando ou simplesmente olhando e conversando, não perdesse festas e nos bailes dançasse com todas, nunca teve uma namorada.
Mas o amor faz das suas e de repente Juliano e Nair se apaixonaram, mas, o pai de Nair era severo, conservador e exigiu que Juliano falasse sobre o seu passado, apresentasse sua família, contasse quem era a mulher com quem se correspondia, etc.
No dia seguinte, de madrugada, o carrinho velho, cheio de quinquilharias deixou para sempre a cidade sem que ninguém ficasse sabendo do segredo do Juliano.
Na caixa do correio, entretanto, havia uma carta dele para Nair.
Com o coração aos saltos ela leu a sua triste mensagem
Querida Nair,
Estou saindo de sua cidade e de sua vida, pois tomei consciência de que não posso passar o resto de minha vida escondendo um segredo.
Sou um fugitivo da cadeia. Tive a infelicidade de me envolver com a venda de drogas, tentando ganhar dinheiro fácil, mas fui preso e quando sai pela primeira vez para passar um feriado com minha mãe, ela me ajudou a fugir, pois não se conformava em me ver preso. Todo este tempo que passei aqui, agi com honestidade, mas sempre sobressaltado com o medo de ser reconhecido, de ser preso de novo.
Vou me apresentar em uma delegacia e ver como posso consertar o que fiz errado. Acho que vou pegar uma pena muito maior por causa da fuga, mas não será perpétua. Um dia ainda vou resgatar a minha liberdade e a minha dignidade, mas não vale a pena esperar por mim. Seu pai nunca permitirá que se case comigo. É melhor me esquecer, ou melhor, ainda, lembre-se de mim como alguém que muito a amou e que vai lembrar sempre de você,
Adeus!
Juliano
Nair leu a carta e jogou-a entre as labaredas do fogão. Embora ele não tivesse pedido isso, ela jamais revelaria o seu segredo.
Este texto faz parte do Exercício Criativo Inconfessável segredo
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