BRENO
Breno é um cara maneiro, ligado em Reggae, Rock’n Roll e Arquivo X, de vinte anos e com um filho de três.
Só lembra da mãe quando está sem dinheiro para beber ou precisando de creme de barbear, daqueles caros que ele gosta. Anda com camisas outrora pretas e tênis sujos, o único par que tem por que ele não tem saco para ficar escolhendo roupas nem sapatos na hora de comprar ou de sair. Ele é um cara prático.
Mas, uma vez a cada século, sempre que está por perto e a caminho de algum lugar divertido, passa para fazer uma visitinha, pegar algum dinheiro e dizer que está com saudades, perguntando o que a mãe tem feito e como vão os gatinhos.
Mora com o pai por que a mãe é louca e eles não se entendem, já que ele é mais ou menos normal, e sempre que ele volta para a casa dela, ela dispensa a empregada e deixa uma lista de tarefas para ele fazer durante o dia, no horário da manhã, pois ele só estuda à tarde.
(Ela diz que não vai sustentar marmanjo com o luxo de uma empregada para ele dormir o dia todo, e que se ele quiser grana, tem que ajudar na casa e etc. e tal)
Ele fica por lá até se encher e voltar para a casa do pai, com duas empregadas e uma babá, que cuidam dele e dos dois filhos da madrasta, com vinte e quatro e dezessete anos, respectivamente, e
do filho dele, o Bebê.
Daí que, no final de tudo, ele acaba tendo o que quer: casa, comida, roupa lavada, o filho por perto e bem cuidado e dinheiro sempre que quer ir para um show ou beber com os amigos ou ir ao cinema com a namorada menor de dezoito anos.
(Não vá fazer outro filho, pelamordedeus, olha que você vai para a cadeia, heim? - Eu sei, mãe, eu sei... saco!).
Dia desses ele se lembrou da mãe e convidou-a para um show, apresentou-a aos amigos novos e até lhe indicou um ou dois que tinham tara por coroas e que eram legais, pagou a entrada, as bebidas e voltou de táxi com ela para o apartamento que a mãe comprou e mobiliou para ele morar com a esposa-menina, quando ela estava grávida, mas como eles se separaram antes de Bebê completar dois anos, agora é a mãe de Breno quem mora lá.
Ainda arranjou tempo e paciência para dar um jeito no computador dela, vasculhar as pratelerias comentando os livros e filmes que ela comprara desde a última vez em que ele a visitara, repor as quatro lâmpadas queimadas há uma semana, jogar as inúmeras sacolas de lixo fora e não se incomodou nem quando ela ficou fazendo cafuné nos cabelos dele, enquanto reviam um dos dvds do X-Files, que sabiam de cor e salteado, e que ficavam pausando para comentar, debater e rir das caras de Mulder e Scully, e reviram também os extras, neste dia, por que ele estava com preguiça de ir se deitar para dormir às cinco da manhã.
Acontece que depois de gastar com a mãe no final de semana todo, precisava de dinheiro, que ele não gosta de ficar liso, sabe como é, filho, namorada, cinema, batata frita e cerveja, etc.
E os amigos da mãe dele não entendem a diferença entre sustentar os luxos de um marmanjo dentro de casa ou na casa do pai do marmanjo.
Ao que ela responde, resignada:
_Questão de princípios!
(E, além do mais, sou louca por ele! – Completa, baixinho, com os olhos úmidos de saudades do seu filhinho).
Já que eles brigaram de novo por que ele não estava lavando os pratos.