Minhas esquecidas lembranças tristes
Acordei ainda de madrugada. Meus olhos pesados piscando no escuro. Você estava do meu lado. Ainda dormindo. Linda... nua.. quente. Cheirava a amor. Eu. Anestesiado. Me levantei sorrateiramente. Já estava na porta do quarto. Voltei os olhos para você. Pouco se via pois o cobertor parecia ser sua segunda pele. Mas o que ele não conseguia esconder bastava para não querer te perder de meus olhos. Ombros tão lindos, curvas tão sedutoras, seu cabelo ainda molhado da água daquele nosso gostoso banho gelado. Eu ali parado. Vontade de ficar. Não podia. Girei a maçaneta devagar, e andei como se pisasse no ar, fugindo do barulho que eu poderia causar. Meus pensamentos me obrigavam a desejar –te, querer seu corpo mais uma vez. Eu relutante, obstinado, fugi pra longe do meu querer. Sai porta a fora. Pensei em correr... voltar... te ter... te amar. Mais não. Tinha que ir pra algum lugar. Não sei onde. Não sei o por que de querer me afastar. Desci os três degraus da entrada correndo. Quase cai. Era uma guerra. Fugi. O carteiro passava deixando cartas. Uma criança pilotava um triciclo e o som de um motor com sua boca roncava. Árvores, carros nas garagens, um fiesta prata parado na rua. Molecada jogando bola. Tomei uma bolada. Nem parei. Mas já não corria, depressa eu andava . Pensei. Pra onde vou. Por que vou? Não sei. Mais uns metros. Uma ponte. Já não era dia. O sol deu lugar para a lua que no céu algo me dizia. Volte! Quero te seduzir. Estranhamente tive medo. Não posso. Tenho que seguir. Depois do rio uma praia. Um lual. Meus melhores amigos estavam lá. Uma mulher dançando em cima da mesa. Quase nua.Tentei não olhar. Mas de sua formosura minha sede não conseguiu escapar. A fitei. Ela me olhou. Um amigo disse. É ele. Até que enfim chegou. Estou louco! Pensei. Outro disse. Venha se despedir! Mas eu mal cheguei? Andei mais um pouco e de repente uma enorme e linda igreja.Um padre na porta. Eu com cara de confuso. Assustado. Então o que deseja? Eu permaneci calado. Você quer? O que? Perguntei desconfiado. Sim ou não? Não! Respondi determinado. Não me despedi e andei mais cem metros. Uma casa. Parei. Minha casa! A casa de... reconheci. Me assustei. Meu pai. Ele estava bem ali perto dos arbustos. Mas inexplicavelmente cerca de quinze anos mais novo. Me assustei. Pai! Chamei. Ele não me ouviu. Outro susto. Minha mãe chegou do trabalho. Meu pai curiosamente se esconde.Ela entrou para casa, deixando a porta cerrada. Trazia uma sacola bonita, de um vermelho muito vivo. Letras SS estampadas. Ela também mais nova. O que havia de errado? Eu não a via já fazia tanto tempo. Um estranho chega. Barulho. Era ele. O atual marido de minha mãe. Me perdi. Ele entra. A porta se abre e fecha. Eu corri. Meu pai também. Uma lágrima. Senti. Entendi. Olhei para janela de meu antigo quarto e lá estava eu. Apenas dez anos. Pijama, olhos molhados. Como tudo aconteceu. Fechei os olhos. Sofrimento. Lembranças guardadas em um cofre flutuavam em meus pensamentos. Abri os olhos. Mas estava escuro. Não enxergava nada, não haviam casas, apenas barulho. Várias pessoas conversando. Absurdo! Onde estou? Uma voz responde. Aquela voz. Sou eu amor! Eu gritei assustado. Corri. Tropecei em algo e cai. Minha cabeça bateu forte e eu adormeci. Minha cama. Susto. Onde estou? Loucura! Um sonho louco me despertou. Telefone. Procurei. Aqui, achei! Número. Agenda. Liguei. Tocou uma vez... duas vezes... três... exitei. Atenda. Desejei. Quase desisti. Ouvi. Oi, alô. Voz de sono. Mas estava ali. Querida. Sim,é você? Sim sou eu. O que foi? Me desculpe! Fui um tolo. Como? Espanto. Eu te amo. Emoção... Choro... perdão... Eu estava confuso... a resposta é sim. Sim, o quê? Confirmação. Eu quero muito me casar com você. Final feliz então.
Pra que deixar nossos medos aprisionados, nossas lembranças esquecidas, nossas tristezas no passado, se querendo ou não elas fazem parte de nossa vida.