Anel Ao Mar
Foram um ano e sete meses. Quem diria que seria tanto tempo? Miguel e Joana tiveram realmente um namoro sólido. A maioria de seus amigos não daria nem três meses no namoro deles, mas foram um ano e sete meses.
Um ano e sete meses passa rápido, na verdade, para quem vê de fora. Durante todo esse tempo, Miguel e Joana comemoravam cada mês que completavam, cada data importante.
Eram bem diferentes. Talvez tenha sido por isso que tenham terminado. Tinham caminhos diferentes a seguir, convicções diferentes. É como tudo funciona, qualquer coisa já começa a acabar desde o começo. Não é diferente com sentimentos.
Miguel, agora, se encontrava à beira do mar. Joana sabe-se lá onde, não importava mais. Ele, na praia, com a chuva e o céu sobre os ombros, segurava um anel na mão direita. Estar ali, disposto a fazer o que devia ser feito, era como um ritual de passagem. Era necessário, para jogar fora todas as lembranças ao mar.
O anel foi arremessado, atravessou as gotículas da chuva amena, bateu na primeira onda, e desapareceu para sempre. Os sentimentos foram revirados pelas ondas, misturados à areia, arrastados pela correnteza e engolidos pelos peixes.
Miguel deu as costas para o mar. Nesse momento, um clarão rasgou o céu e a chuva apertou. Até a natureza chorava e gritava de cólera, mas nem isso mudaria a decepção dos amantes, o cruel destino, o grande final.
Joana sentiu uma sensação de afogamento, como se parte dela tivesse sido jogada ao mar. Desesperou-se e ligou para Miguel, mas já era tarde. Ele já estava dormindo.
E logo iria despertar. Despertar para um novo mundo, livre de fantasmas do passado.
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