O meu amor é uma lembrança

Escuro... Um lugar onde ninguém pode me pegar nem me achar, a não ser que a luz da minha esperança que tenho dentro do meu coração agora se apague! Essa foi à única alternativa, a única saída que encontrei para fugir de onde estava sem ninguém saber para onde eu poderia ir... Dentro desse grande navio cargueiro, entrei como clandestino. Escondendo-me por trás das caixas que o navio transportava, fiquei esperando que os marinheiros tirassem sua hora de dormir para que eu pudesse ver pelo menos o brilho do luar daquele lugar onde passei um grande tempo amando aquela garota de olhos e cabelos negros.

Enfim os marinheiros foram descansar! Acho que posso sair daqui e respirar um ar e ver aos poucos o meu lar e meu coração ficar pra trás junto com as lembranças que é o lugar que quero que fique. Pelo menos, saindo de lá, você não poderá me torturar como fazia antes... Assim espero.

De braços cruzados sobre o navio a este bordo, fiquei olhando com um brilho nos olhos, pensando se encontrarei uma garota assim como ela. Lembro-me de sua bela pele branca, como o brilho da lua. Acho que é por esse motivo que gosto tanto de ver a lua, nos seus dias de cheia como está hoje. Escolhi o dia certo para partir com a lua espalhando seu brilho sobre as águas do mar aberto com aquela imensidão escura que posso até pensar que estou indo a um desfiladeiro do fim do mundo como pensavam os antigos.

Para onde estou indo mesmo? Esse foi o único erro que cometi. Perguntar para onde vai esse navio cargueiro, assim poderia sair de casa prevenido de alguma coisa, caso ele fosse para algum lugar que congele. Mas agora não importa. O que importa é ficar longe dela...

Com os olhos fixos no grande horizonte, o vento suave daquela noite tocava meu rosto como a mão dela ao tocar os meus lábios em gesto de carinho e afeição. Isso me causava um arrependimento e ao mesmo tempo uma vontade de pular daquele navio e sair nadando para dormir em seu colo aconchegante. Mas com a distância e a temperatura da água iria com certeza me afogar. Não tinha preparo físico para tanto.

Agora tenho que arranjar um novo nome, para o novo lugar aonde vou. Se eles perguntarem como cheguei naquele lugar sem documentação, arranjarei outro jeito para despistá-los. Quando será que verei o farol do lugar para onde esse navio vai atracar? Será mesmo na extremidade do mundo? Quando vir-lo, ele estará mostrando o caminho para iluminar a minha esperança em meu coração.

As lágrimas que estou deixando para trás, misturam-se com a água do oceano. Seria pedir de mais se quando chegasse ao porto ver albatrozes voando como se fossem um sonho para elas voarem pelo grande céu, com aquela liberdade? Ver alguma princesa da janela de um quarto, eu queria que acontecesse para poder admirá-la e meus sonhos se tornarem mais reais. Ver crianças brincando num campo. É como está pedindo uma ilha no universo.

Vida nova procuro num lugar em que não conheço. Não sei para onde vou... E agora o meu amor é uma lembrança, um fantasma na névoa. E olho uma última vez para trás do navio dizendo adeus para o mundo antigo. Mas faço isso com um sorriso em meus lábios, acompanhadas de um horizonte banhado de minhas lágrimas...

Wellison Pontes
Enviado por Wellison Pontes em 08/10/2010
Código do texto: T2545202
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