Voltas da vida (parte II)

E eu, já assustada com a cara do médico e com as perguntas, comecei a tremer e pensar, meu Deus, o que eu tenho? O que é essa dor tão horrível?

Terminado o exame, o médico me encaminhou para a sala da assistente social, e eu, sem entender nada, fui, trêmula, muda, olhos arregalados, quase nem respirava, de tão nervosa! Entrei, sentei, a mulher me olhava, quando me perguntou:

- Victória, na sua família tem algum caso de câncer? De mama, útero ou algum outro?

- Que eu saiba não dona, por quê?

- Por que você, infelizmente, parece que está com um câncer de útero!

Nossa, meu mundo desabou, e agora, o que eu faria? Liguei pro meu marido, pedi que me buscasse que eu estava nervosa, mas ele, como sempre deveria estar ocupado com alguma amante! Então liguei pro meu pai, chorando muito, e ele foi, em vinte minutos estava lá, abraçando-me, chorando comigo, do meu lado!

Graças ao plano de saúde, efetuei todos os meus exames com rapidez e eficácia e constatou-se que, o câncer que eu tinha, foi causado por um vírus chamado HPV, que é transmitido através de relações sexuais. Lógico, estava explicado! O João Paulo vivia por aí, “dormia” com tudo que era mulher que dava bola pra ele, tinha que dar nisso mesmo!

Apesar de grave, minha doença tinha tratamento, estava numa fase ainda considerada inicial, porém, eu perdi o meu útero, minhas trompas e ovários e, com eles, o direito de gerar um filho! Fiz quimioterapia, fiquei careca, horrível, nem parecia aquela Victória, linda, corada, de cabelos fartos de antes. Num certo dia, eu passando muito mal, vomitando, pois havia feito uma seção de quimio naquele dia, meu marido chegou, me deu uma olhada, com cara de nojo e me disse:

Olhe aqui, eu estou indo embora, não me casei com uma mulher feia desse jeito, careca, pálida, e, o pior de tudo, defeituosa, não vai poder me dar filhos! E assim ele se foi. Arrumou as malas e saiu, sem nem um beijo, ou um abraço, nada, como se eu fosse uma estranha pra ele! Eu chorei muito, não pela separação em si, mas pelo descaso, pela insensibilidade dele diante daquele problema tão triste que eu estava passando, e por culpa dele!

Passaram-se os meses e eu sempre lutando, fazendo exames, a quimioterapia, que já nem fazia mais tanto “estrondo”, já havia me acostumado com os efeitos. Tudo estava muito bom, o tratamento tinha sido um sucesso, eu estava curada daquele câncer, era nova, tinha vinte e cinco anos apenas, tinha uma vida pela frente! Só não poderia ser mãe, tanto que eu queria segurar um bebezinho, ser chamada de mãe! Mas fazer o que, Deus sempre sabe o que nos reserva!

Certo dia, estava eu em mais uma sessão de exames, de rotina mesmo, conheci um médico, lindo, o Robson! Gente, que lindo ele era, gentil, educado, inteligente, bem humorado! Nossa, que sensação boa, achei que nunca mais iria sentir isso de novo! Depois dos exames ele sorriu, achei que eu estava no céu, e me convidou para um café, na lanchonete da clínica mesmo. Eu aceitei, lógico, pernas bambas, parecia uma adolescente! Café vai, biscoitinhos vêm, trocamos nº de telefone, email, combinamos de sair no outro dia, pra jantar.

Eita dia longo, eu fui ao salão, fazer as unhas, o cabelo ainda estava muito curto, mas pedi pra cabeleireira dar uma aparadinha, pra dar a impressão de que era um corte moderno. Fiz tudo que eu tinha direito, fui pra casa, nem comer eu tinha conseguido tamanha ansiedade!

Chegada a hora marcada, lá estava ele, pontualíssimo, elegantíssimo, mais lindo ainda, naquela camisa pólo listrada, calça e sapatos caramelo, um Deus Grego! Ele olhou-me, admirado com minha aparência, fez-me dar uma voltinha e disse:

- Mais linda impossível, você está divina! E saímos. Tive a melhor noite da minha vida, mais romântico impossível, luz de velas, rosas vermelhas, comida requintada, como num conto de fadas! Esse era meu medo, a hora que eu me visse novamente na minha realidade! Espantei meus fantasmas e resolvi aproveitar aquela noite como se fosse a última da minha vida! E assim fiz.

Do restaurante fomos para um motel requintadíssimo que havia inaugurado há poucos dias. Nem pude acreditar no que eu via, tinha uma cascata dentro da suíte, que se derramava em uma banheira gigantesca. O que aconteceu depois foi a melhor noite de amor da minha vida! Passamos horas maravilhosas juntos! Mas tudo se acaba e tivemos que ir embora. Ele me deixou em casa, me deu um beijo e disse que me ligaria pra combinarmos de sair de novo. Ali eu fiquei, na porta, olhando o carro dele sumir, virar a esquina. Sumiu, entrei, fiz um café, tomei e fui pro meu quarto, deitei, adormeci, sonhei... o sonho mais lindo!

(CONTINUA)

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 05/10/2010
Reeditado em 05/10/2010
Código do texto: T2538919