Voltas da vida (parte I)

Parabéns a você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! Com quem será... Ai que vergonha, acho que eu fiquei roxa, mas também, o que eles pensam? Eu já estava completando dezoito anos, poxa, já tinha passado dessa fase de assoprar velinhas e coisa e tal! Esses meus pais, acham que eu ainda sou uma menininha!

Ainda mais hoje, que o João Paulo, aquele amigo lindo do meu irmão, veio aqui em casa! O que ele vai pensar de mim? Que sou uma criancinha mimada! Nossa como ele está lindo! E só me olhando, meu Deus, acho que vou desmaiar! Ele está vindo pra cá!

- Oi, Victória, é esse seu nome, né? Nossa como você cresceu, esses dias era uma garotinha, agora, uma mulher já, e que mulherão! Vamos dançar?

Eu, com as pernas bambas, fui, dancei, ai, ele me beijou, mais feliz impossível de estar!

Passados dois meses daquele dia, fomos morar juntos, afinal, ele já tinha trinta anos, não era mais uma criança, não podia ficar de namorico por aí. Meus pais não aceitaram no começo, mas eu teimei e fui assim mesmo. Pensa, eu já era uma adulta, já era dona do meu nariz, da minha vida!

No primeiro ano tudo foi às mil maravilhas, uma lua de mel inacabável, ele era carinhoso, atencioso, tudo que uma mulher poderia sonhar! Meus pais, quando viram que era sério, acabaram por aceitar a situação e me visitavam com freqüência. Minha casa era linda, pequena, mas tinha de tudo, muito confortável, até computador com internet ele me deu! Um luxo! E eu, sempre mantinha tudo impecável, não queria que meu marido tivesse do que reclamar.

Assim foi meu primeiro ano de casada. Porém, da noite pro dia, ele mudou. Começou a se atrasar pro jantar, e, a cada dia, chegava mais tarde. Aos fins de semana, sempre tinha uma desculpa, um compromisso, alguma coisa que ele tinha que fazer fora de casa. E é lógico que nunca me levava! Chegou ao ponto de passar dois dias fora de casa e chegava bêbado, violento, chegou até a me bater algumas vezes! E eu, com vergonha de todos, principalmente dos meus pais, sofria calada, sem coragem de tomar alguma atitude!

E dessa maneira meus dias iam passando, sempre apreensiva, com medo do humor do meu marido. Isso tudo me magoava muito, mas o que mais me matava por dentro eram as manchas de batom na camisa, na calça, até na cueca! E logo comigo, que sempre fui uma boa pessoa, principalmente com ele, sempre fiz de tudo por ele, até brigar com meus pais eu briguei!

Na semana que eu iria completar vinte e quatro anos, eu senti uma dor abdominal horrível e resolvi procurar um médico. Graças a Deus eu tinha plano de saúde que meus pais insistiam em pagar, mesmo eu tendo me mudado. Chegando lá, devido a forte dor que eu estava sentindo, o médico encaminhou-me urgentemente para a sala de ultrasson, pra saber mais de perto o que estava acontecendo!

Ele começou o exame e me olhou, com uma cara assustada, branco feito um fantasma, e me disse:

- Minha filha, quantos anos você tem mesmo?

E eu:

- Vou fazer vinte e quatro nessa sexta, doutor, por quê?

E ele:

Hum, você tem filhos?

- Não, doutor, por que, eu estou grávida?

- Antes fosse minha filha, antes fosse...!

(CONTINUA)

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 04/10/2010
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