Primeiro encontro

O céu estava acinzentado e chuvoso, como em todos os dias especiais de minha vida. A chuva logo pela manhã salpicava os vidros, era muito fina e só chegava até eles porque era arrastada pelo vento. O despertar dos olhos foi vagaroso, acompanhado de muitas outras pequenas sonecas que se sucederam até o levantar definitivo, embalado por “Essa canção francesa” na voz de Pethit.

Tudo estava extremamente calmo, era cedo e inda não havia vozes pela casa. Olhei para a cabeceira da cama onde vi o livro de capa azul, não muito grande e com letras douradas. Meus dedos formigaram com vontade de abri-lo. Não consegui me mexer, ainda estava em estado de torpor. Não compreendia nem ao menos recordava de onde aquele livro havia surgido, já o havia procurado em muitos lugares, porém sem sucesso em minha busca.

Ao me recordar meu coração disparou em arritmia. As coisas voltaram como num flash, músicas, luzes, aplausos, pessoas e finalmente o rapaz dos cabelos castanhos costumeiramente arrumados para o lado. Sua face pra mim era rara, enquanto suas idéias e suas palavras eram extremamente conhecidas, as musicas e os livros prediletos, as histórias de natal em família contadas nas conversas da madrugada, tudo estava gravado em mim.

Aquela noite de espetáculos foi a primeira vez que o vi. Cantava com excelência e se destacava em meio ao coro, um verdadeiro mistifório de pessoas com as mais diferentes vozes, idades, jeitos. Era exatamente como sua auto-descrição me contara, e o reconheci sem problema algum em meio a tanta gente. O espetáculo se aproximava do fim e minhas mãos mexiam-se descontroladas prevendo que poderia finalmente falar com ele e olhar-lhe os olhos depois de tantas conversas em “anonimato”.

De repente FIM, e os cantores desciam até a platéia, cumprimentado seus conhecidos. A figura elegante andou firmemente até mim sorriu e me abraçou, senti o calor da amizade de tantas conversas em um só abraço. Ele retirou o pequeno livro do paletó, do qual já havia me falado tantas vezes. Em letras douradas se lia na capa “O leitor” romance de Bernhard Schlink. Retribui o sorriso e fui para casa, onde aquela música embalou meu sono e também meus sonhos de tantos outros reencontros.

Sah
Enviado por Sah em 02/10/2010
Código do texto: T2534300
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