Desilusão Viajante

Desilusão Viajante:

Por Giomar Rodrigues

A viagem era exaustiva, mas tinha um objetivo concreto, objetivo que para Arthur Rose já se tornara quase que uma obsessão. Ele já um sujeito de meia idade que buscava freneticamente atravessar o país para encontrar o seu primeiro amor. A imagem de tamanha obsessão não era menos que uma antiga aluna sua, já que este era um experiente professor de literatura inglesa. Embora tivessem a mesma idade, suas idéias nunca foram compatíveis, talvez esse fosse o motivo que lhe despertava tanto interesse.

O tempo estava horrível, não aparentava que iria chover, mas mesmo assim insistia em continuar nublado. Então tendo mais de quatro horas de viagem sem nenhum intervalo ou mínimo descanso, resolveu fazer uma parada em uma lanchonete ao lado de um posto de gasolina em uma pequena cidade no interior do Texas. O lugar não era nenhum pouco agradável ao olhar, muito menos tinha um aroma digno de lanchonete que se preze, pois o cheiro de gasolina do posto ao lado fedia muito. Ao finalmente entrar, decidiu ir sentando rapidamente em um dos bancos próximos do balcão, já que todos os olhares do local estavam a mirá-lo, comprovando que não o conheciam. Logo uma garçonete de expressão muito gentil e dotada de pouca beleza tomou sua mão de maneira muito delicada fazendo questão de anotar pessoalmente seu pedido, pois havia outras destas naquele local, todas vestiam um uniforme verde meio sujo e também tinham uma aparência pouco agraciada pela deusa da beleza.

- Boa tarde senhor, o que deseja? – Disse a tão amigável garçonete, ainda segurando sua mão e agora olhando diretamente em seus olhos.

- Por acaso você tem tortas de limão? - Perguntou Arthur de maneira tímida.

- Claro que temos, são as melhores do Texas... - Respondeu a mulher, na verdade ela continuou falando de suas tortas, mas Arthur apenas parou de ouvi-la.

- Vou querer uma e para acompanhar um pouco de cerveja. - Disse Arthur.

- Fica pronta em um minuto senhor, fez uma boa escolha! - Garantiu a garçonete.

Logo que seu pedido ficou pronto, não demorou para agradecer aos céus por ter pedido uma cerveja junto, pois a torta era horrível. Pagou muito indignado por aquela porcaria que certamente não seria digerida pelas próximas sessenta e duas horas, lembrando de no mínimo não dar gorjeta ou agradecer pelo péssimo serviço. Quando chegou a frente do estabelecimento percebeu que seu carro um Empala 77 não estava mais onde originalmente havia deixado, na verdade não estava em local algum naquele lugar. Aquilo nunca tinha acontecido com ele, estava em um lugar distante se sentindo solitário e abandonado. Fechou os olhos esperando que quando abrisse sua atual situação se resolvesse, não foi o que aconteceu porque no mesmo instante foi empurrado para o lado de maneira violenta por um bêbado que saia às pressas da lanchonete.

Retornou rapidamente para a lanchonete e tentou em vão usar o telefone que se encontrava próximo de uma da ultimas mesas do local.

- Preciso de um telefone urgente, eu fui roubado! – Gritava de forma histérica agora o homem.

- O telefone está quebrado e celulares não funcionam nesta área por causa das montanhas. - Respondeu uma garçonete muito assustada, dessa vez era uma ruiva muito jovem e bela que não tinha sido vista por Arthur anteriormente.

Pensando em comprovar a historia do defeito dos celulares tentou achar seu celular, mas também foi uma busca infrutífera, já que percebeu que este juntamente com sua carteira havia sido roubada pelo bêbado a momentos atrás. Costumava dizer a si mesmo que acreditava no amor, não em Deus, mas naquele instante percebeu que se houvesse algum inferno com toda certeza estava nele.

A garçonete ruiva se prontificou a ajudá-lo em tão desesperador momento. Primeiramente segurando Arthur que agora estava de joelhos ao chão chorando como uma criança que perdeu seus brinquedos favoritos.

- Minha amiga Anete vira daqui a poucas horas para irmos ao festival anual dos hambúrgueres na cidade vizinha. Podemos dar uma carona para o senhor para que possa usar outro telefone. - Disse a tão amável criatura.

Com o consecutivo auxilio da moça, o homem agora já se encontrava em uma postura mais digna de sua masculinidade. Sentou-se lentamente em uma confortável poltrona para tentar relaxar para que as horas passassem, e elas passaram lentamente de maneira agonizante como um rio que precisa ser preenchido com a ajuda de um conta-gotas. Mas como todo sofrimento tem um fim, este também encontrou o seu, Anete mal chegara e já estava com pressa para partir, pois estava dizendo que teve um dia péssimo e queria dar o fora dali o quanto antes.

Rapidamente a viagem começou e todos estavam na caminhonete azul de Anete, que dirigia distraidamente pela estrada sendo constantemente atrapalhada pelas historias da amiga, que naquela altura da viagem esquecera-se da amargurada figura que se encontrava no banco traseiro. Arthur estava completamente derrotado, de ombros baixos e com a cabeça olhando fixamente para os cadarços desamarrados, nesse instante foi percebido pela garçonete ruiva juntamente com Anete, esta que era um pouco mais velha que a outra, aparentava ter por volta de vinte e cinco anos.

- Não se preocupe logo estará dando uma grande gargalhada quando mais tarde se lembrar dessa historia. - Dizia a garçonete um pouco envergonhada.

- Assim espero! – murmurava Arthur ainda desiludido.

- E assim será, se você acreditar! - Disse sorrindo a ruiva, nesse instante Arthur percebeu a beleza de sua face que era dotada de pele cor de marfim com olhos verdes como as mais belas das esmeraldas, esquecendo de ficar bravo com a resposta da moça, que soou como um livro de auto-ajuda.

Quando chegaram ao destino final da viagem das duas garotas, Arthur conseguiu usar um telefone próximo, o que fez com que se sentisse mais confiante de sua situação. Um policial que estava no evento garantiu que seu carro seria encontrado em questão de quarenta e oito horas, dizendo que isso era normal em cidades que recebem inúmeros viajantes nestas épocas do ano.

Nesse momento suas atenções se voltaram para a jovem que auxiliou-lhe no momento de maior necessidade. Percebendo que não haviam sem sequer sido educado com ela, resolveu prestar mais atenção em tão distinta figura. Avistando ela próxima de sua amiga assistindo ao concerto de uma banda bem tradicional, para não dizer interiorana, resolver agradecê-la e talvez puxar papo, pois naquele instante percebeu que não tinha a menor idéia do nome da garota.

- Com licença, eu acho que fui rude com você o dia todo, quero pedir desculpas e agradecer pela sua ajuda. - Disse Arthur bem envergonhado.

- Eu é que fui indelicada, nem sequer me apresentei, me chamo Mary Aghata Shelley, mas pode me chamar de Mary para facilitar. - Disse sorrindo de maneira justa e sincera. Assim Arthur ficou feliz por não ter de pensar em algum plano mirabolante e ridículo para saber o nome da notável criatura.

A conversa permaneceu por algumas horas, até que a lua chegasse ao seu ponto mais elevado, lhes obrigando a montar acampamento como todo pessoal que gosta destes eventos do interior, um pouco estranhos para o desorientado professor. Anete a fiel amiga de Mary encontrava-se num profundo estado de embriaguez, pois se sentira por fora dos rumos que a conversa tomara, iniciando timidamente sobre a preocupação com o clima indo parar em divergentes opiniões sobre o governo atual do Texas e outras coisas que fariam qualquer pessoa com insônia dormir como um defunto ou um sonâmbulo acordar apavorado.

Não demorou para que descobrissem que tinham muitas coisas em comum, muito menos para dormirem juntos naquele local, principalmente depois de beberem o restante da garrafa de vodca, que estava com Anete na barraca ao lado, que nesse momento dormia como um bebê. Dormiram o sono dos justos aquela noite nada parecia perturbá-los.

Na manhã seguinte Arthur acordou cedo, por volta das seis e quinze da manhã, sua companheira estava em pé fora da barraca colocando o sutiã e uma blusa cinza, vendo essa cena sutil, ele percebeu muito tarde para um homem iludido que estava apaixonado por ela, naquele instante desejou ter uma vida como a dela, desregrada do resto da sociedade que ele conhecia dentro de seu agora tão pequeno mundo.

- Quero fazer isso o resto de minha vida, nunca pensei que encontraria a felicidade em um lugar inesperado, sempre fui um sujeito de fazer planos estúpidos, e quando me encontrei em uma situação inesperada me senti perdido. Agora me sinto pleno de mim mesmo, me sinto livre de um fardo. - Desabafou de forma sincera Arthur.

- Fico muito feliz por você meu amigo, espero o melhor para você em sua viagem de volta para casa. - Disse ela de forma desajeitada, sem esperar por uma declaração tão ousada.

Logo Arthur soube por Anete que seu carro havia sido encontrado a dois quilômetros dali, todos se despediram e desejaram coisas maravilhosas um ao outro. Assim as suas respectivas vidas voltaram para onde haviam começado. Arthur ficou com o telefone de Mary e sem esperanças de encontrá-la novamente, acreditando que a partir daquele momento singular tinha encontrado um novo rumo para sua vida. Acreditando que de agora em diante tentaria viver de forma mais impulsiva, mesmo que os sofrimentos dos homens trouxessem apenas o prazer fugaz.

Fim

Giomar Rodrigues
Enviado por Giomar Rodrigues em 25/09/2010
Reeditado em 28/09/2010
Código do texto: T2519758
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