Uma História de um Amor sem fim...

Ele estava ali, parado, encostado ao Poste sob a luz deste e da lua...

Alto, magro, cabelos da cor dos trigais maduros, olhos com o tom do mel mais puro... Ele era puro, também. Em seu coração havia música suave e sua palavra era branda... Estava em Paz. Sua consciência estava tranquila. Esperava... Perplexo, talvez...

O que pensaria?... Que sonhos o moveram para aquela espera sob a noite estrelada?...

Quem ocuparia seu pensamento?... Quem inquietaria seu coração?...

De longe eu não podia ver claramente o seu rosto, se sorria, se estava tenso, se estava triste, se indiferente, se rolavam lágrimas à luz da lua...

Mas eu conhecia tanto aquele rosto!...

O cabelo liso esvoaçava com a brisa noturna. (Ah! Pudesse eu afagar-lhe o rosto com a doçura do meu amor...)

Ele estava ali... Eu podia vê-lo com os olhos de minh’alma...

Minha vida agonizava pela dor que eu lhe estava causando. Mas eu queria poupá-lo de uma dor ainda maior!... Eu era tão jovem e ante a possibilidade de perder a vida por uma doença tida como mortal, só poderia afastá-lo, para que ele não sofresse mais...

Eu lembro aquele dia terrível: disse que não o queria!! Que eram incompatíveis nossos pensamentos... Entretanto, após a firmeza da palavra para o término da relação, eu lhe disse com doçura: Eu te amei, te amo e te amarei sempre...

Esta foi minha grande Verdade... E minha força!... Entre dores mil eu lembrava aquele rosto: surpreso, decepcionado, sofrido, sem entender os acontecimentos, sem desvendar meu ardil... Sem desconfiar o quanto eu sofria por ter de afastá-lo, ele, o Amor da minha vida!...Mas queria poupar-lhe um sofrimento, preferindo trazer para mim a dor e deixando-o livre para ser feliz...

Os anos se passaram... Entre muitas dores físicas e com o coração inquieto e partido, a esperança de vê-lo outra vez, me consolava... Eu sabia que tinha arriscado tudo, inclusive a grande possibilidade de ter sido esquecida, trocada por outra; mas mesmo assim eu queria era sabê-lo feliz, amando e sendo amado, e, ao mesmo tempo, sofrendo sua ausência e a solidão mais escura que vivi...

Então, quando chegou a Primavera em minha vida, eu o procurei. Estava curada. Milagre?... Força do Amor?...

A cidade em que ele morava era outra. Já fazia tanto tempo... Mas fui procurá-lo nos lugares conhecidos; não o achei. Perguntei... e como uma chicotada de vento gelado do sul, disseram-me que ele estava bem, quase casado.

Chorei... Perguntei por que não morri... Mas, ao mesmo tempo, não era isso que eu queria? Que ele fosse feliz??... Pensamentos paradoxais confundiam-me a mente e o coração: Eu o queria feliz, ele estava feliz!!...

Voltei sobre meus passos, na mais longa trajetória percorrida... Meus pés sangravam, pois havia só pedras no caminho...

Muitos anos se passaram... Vesti máscaras e fantasias para esconder a mágoa, a dor, a vida que eu considerava um castigo e, ao mesmo tempo, uma bênção por não tê-lo feito sofrer naquele período em que a morte me rondou, faminta.... No fundo, percebi, que eu queria que ele tivesse me esperado... Mas como ele poderia fazer isso?... Se eu mesma disse que não mais o queria junto a mim?...

Eu não queria vê-lo perambulando pelos corredores do Hospital e sofrendo como minha família sofria... Como eu, que o amava tanto, poderia ser egoísta a ponto de prendê-lo a mim sabendo o quanto era duvidoso meu futuro?... Não, eu o amava demais...

Outro longo período se passou...

Um dia eu soube que ele havia casado. E eu fiquei feliz porque ele era feliz!...

Então, um dia, alguém me contou que ele não era feliz!... Que dor indizível feriu o meu peito!! E eu sofri mais ainda, porque o consolo de sua felicidade não era verdade! E eu me senti responsável por seu sofrimento!!...

Quarenta anos se passaram... E aqui estou contando uma história de um sofrimento inútil que causei ao único homem que amei, que amo e que amarei para sempre...

Seus olhos, seu sorriso, sua voz carinhosa e suave que nunca esqueci, enxerguei e ouvi e vi, perplexa no fundo de meu ser... Culpada! Eu era culpada porque ele não era feliz!... Poderá haver alguma dor maior?... Eu renunciei a ele para vê-lo sorrir, mas ai! Eu transformei sua vida numa vida sem sentido, sem sorver a essência da felicidade e do amor! Senti que, neste instante, sim, morri. A morte que me rondara há quarenta anos chegara agora, escancarando os dentes numa risada sarcástica. Se antes eu a venci, agora perdi.

Então eu o vi com os olhos de minh’alma: andando á noite, à luz da lua... Os velhos postes da rua não existem mais. Mas eu o via ali...

Como esquecer aquela imagem, embora se tivessem passado tantos anos?... Pelo tempo em que eu fingir viver, ela estará viva em mim...

Passou-se o tempo... E eu um dia o vi! Meu Deus, melhor fora não tê-lo visto, porque o amor, a saudade, a dor, renasceram ainda mais fortes... Eu o vi... O cabelo cor dos trigais maduros estava bordado de estrelas prateadas... A barba grisalha emoldurava-lhe o rosto, iluminando-o, tornando-o ainda mais belo para mim... E seus olhos... Seus olhos límpidos e puros eram o lago tranqüilo, de águas mornas, no qual me perdi... Mergulhei neles indo até sua alma; seus olhos mudos falavam de amor da mesma forma que há tantos anos passados...

Mas agora ele tinha outra vida, compromissos assumidos, nos quais não havia mais lugar para mim...

Eu o quis e ele também me queria... Gostaríamos de recuperar as décadas perdidas!... Mas o dever e a honestidade sobrepõem-se ao amor...

E assim se desfazem duas vidas...

Duas vidas que amaram demais...

O bifurcado caminho que, num instante, nos juntou, separou-nos em um grande abismo...

E, mais uma vez eu retornei sobre meus passos, numa trajetória ainda mais longa a ser percorrida... Com a diferença que minhas pernas já não são tão firmes e vão cambaleando no interminável retorno... E as pedras parecem bem maiores e meus pés sangram... E a minha solidão fez-se noite sem estrelas... E há tantos abismos por aí...

Nossas vidas agüentarão ainda alguns anos?... Haverá ainda outro encontro?... Não sei... A vida não perdoa os que erram, nem mesmo os que erram por amar demais...

Agora, resta-nos dormir... “Sonhar, talvez...”

... E em um dia, que o Tempo não mais conte, talvez dois jovens amantes se encontrem... E saiam abraçados por aí...

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 23/09/2010
Reeditado em 31/03/2011
Código do texto: T2516829
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