Amor de família.

A luz do dia me acordou novamente.

O dia era muito bom, a pretensão de ser um grande dia.

Desço as escadas e começo a preparar uma xicara de chá.

Dou bom dia aos que se encontram sentados na cozinha, bom dia ao meio-dia com a cara da ressaca que vai enchendo a cabeça.

Acendo o fogo, vejo as bolhas formando no fundo da leiteira repleta de água para meu chá. Escuto o portão batendo lá fora, deve ser a irmã vindo para o almoço.

Tomo meu chá enquanto começo a preparar o prato do dia, coisa fina, aprendi com uma grande amiga e hoje, o dia de provar pra família que sei fazer certo sem eles por perto.

Tomo o chá enquanto corto os vegetais, a soja fica de molho a espera de sua hora.

A conversa vai fácil, a mãe querendo saber da semana.

Tudo cortado, me apronto para o desafio da cozinha.

Afinal, primeira vez cozinhando sozinho para a família. Era mesmo meu dia.

Tudo vai bem, a comida toma gosto, eu tomo gosto pela comida e o cheiro bom sobe as escadas do sobrado.

Tudo pronto, é hora de finalmente saber o veredito...

A mãe prova, faz que gostou. Fico satisfeito, a pessoa mais importante me deu sinal verde.

A irmã, nem tanto. Faz cara de quem tem nojo e me fala que preferia fritar um ovo.

Tanto ódio, sem motivo.

Solto uma resposta ácida, algo tão sujo como somente eu sei ser.

A mãe assusta, faz cara de quem reprova e desconta na comida. Fala que foi bom mais que outro prato seria demasia.

Insisto para que experimente novamente, ela faz careta.

Fico nervoso, sem chão, reprovado. Falo coisas que não devo, mais que minha mãe sabe que são apenas minhas verdades ditas da minha maneira.

A irmã se aproveita, baixa como só ela, pega no meu ponto fraco e me compara ao demônio que é meu pai. Me fala coisas sem sentido, me diz que só venho para casa para importunar a mãe, que só sirvo como peso, que sou menos que meu pai. Pior que isso, xinga meus princípios, fala mal dos meus conceitos, alem disso não fala com nenhum motivo.

Quase morro por dentro, falo coisas sem sentido.

Pego no ponto fraco dela, falo da vidinha sem sentido onde o dinheiro vale mais que tudo.

Falo da merda onde ele afunda todo dia ao pensar a vida como uma competição.

A guerra acaba, vi que a mãe estava sendo afetada. Ver os filhos degladiando sem nenhum motivo. Mãe nenhuma merece.

Me sinto bem por ter falado minha verdade, por ter suado cada gota de ódio de uma só vez, por ter crescido mais ainda o amor por minhas duas mulheres da vida.

Amo minha mãe, ela me deu tudo.

Amo minha irmã, não suporto sua mentalidade. Mais se isso a faz feliz, que seja, eu a amo todo dia.

Julio Crepaldi
Enviado por Julio Crepaldi em 18/09/2010
Reeditado em 19/12/2010
Código do texto: T2506304
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