Ulterior
Deitado agora na cama, longa cama onde há tempos parecia não ter tanto espaço livre, tanto espaço vazio entre os dois.
Vazio, assim que se sentia. Cheio. Cheio demais de determinadas situações, que vinha o atormentado há tempos.
Como estava aberto a novas situações, foi levado, seduzido. Desafio. Manipulado pelo carinho, pelo o cheiro, pelo gosto. Momentos intermináveis o peito palpitava. Desafiado pelo contrário, peste que os vinha engolindo, determinando, desafiando.
Peste em uma plantação: assim sentia a relação sendo devorada, sendo esgarçada, apodrecendo. Tudo o que queria era resposta do corpo, corpo nu dentro de corpo, corpo-carne. Tudo o que faltava era impulsivo demais por isso não sabia em quem e no que acreditar.
Tentava em uma luta vã substituir o prazer pelo carinho. Guerreava contra seu corpo-instinto, sua carne gritava e não era atendida. Sentia-se seco, animal podre, voraz. Sentia-se diferente, inacabado, insaciável.
Não queria abrir mão, covarde, se culpava ou não, sentimentalista ingênuo, bobo, apaixonado assíduo. Como uma virgem que acabara de experimentar o sublime do gozo, ele queria mais. Ele apenas queria e não era atendido.
Dormiam, dormiam e ele pensava em coisas passadas, em tempos passados, tempos de promessas, tempos de esforços. Pensava no tempo de agora, ali deitado o sangue fervendo, o cérebro a mil. Estavam juntos naquela cama que os sugava, sentia o corpo do outro, sentia os pêlos o peito, a carícia, a pele o cheiro. Cheiro de corpo, cheiro de vontade, de desejo. Cheiro de carne fervia e gritava o grito do desejo instintivo.
- Fala alguma coisa, você está muito calado.
Não queria falar, já não havia mais sentido em falar. Já havia cançado de falar, de pedir, de implorar. Estava vendo tudo passar por entre os dedos. Via-se escorrer, via acabando.
Só ria um sorriso fraco, um sorriso forçado.
- Você está sentindo alguma coisa, ta muito pensativo, o que foi?
E não falava, guardava em si um turbilhão de desejos que estavam prontos a explodir. Guardava por entre as pernas suas mãos que a todo o momento queriam sair à procura do corpo dele. Sabia o que ele pensava, sentia que ele sabia das coisas.
O que mais o amargurava era o não se sentir desejado, o não ter prazer, o não lhe darem prazer. A todo o momento criava e desfazia conceitos, empurrava o gosto amargo e quente do desejo, engolia.
A essa altura não sabia o que fazer. Pensou em desistir de tudo em sair dali naquele momento, não dizer mais nada, apenas sair. Também pensou que poderia passar, poderia como sempre relevar, esperar, implorar mais tarde.
Tendo um braço sobre seu pescoço e outro sobre seu peito, olhando para o teto não conseguia disfarçar aquela amargura, aquela vontade. Queria entender como não conseguia ser atendido. Gritava para o teto um silêncio interminável, um mantra insuportável. Resmungava, ria. Não sentia a presença do outro, era como se estivesse sozinho, era como se ele fosse o egoísta, o culpado, o voraz. E se culpava.
Com o tempo as coisas vinham piorando as reflexões antes não eram tão constantes e julgadoras, capazes de ferir tanto. Tinha medo do que poderia acontecer depois, mas também não tinha, tudo parecia se encaminhar para um só lugar. Queria respostas, queria saber onde iam parar, onde iria dar, onde?
Tira-se de cima dele e retira-se a um canto, como de costume fazia isso, não sabia com qual intenção
- Vem cá mor.
Ele com todas aquelas indagações e ressentimentos, enfiou a mão por entre as pernas, virou-se e se juntou ao outro, misturou as pernas, sentiu seu corpo junto ao dele. Beijou-o querendo afogar seus instintos. Se redimindo, aceitando a situação, empurrando-o com a barriga. Fechou os olhos, sentiu os mesmos escorrerem por sobre o rosto. Pediu ao teto, ao céu ao universo e o caralho a quatro (de quatro) que adormecesse, só adormecesse.
Não tinha sexo, mas tinha amor.