Turbilhão de Sentimento
Foi uma coisa de doido que aconteceu naquela época: eu tinha quinze anos de idade, ela 13, era linda e meiga. Em dois meses me apaixonei. Senti algo muito forte; algo que não conseguia explicar. Só sabia dizer que era bom, que era amor.
- Quero lhe dizer uma coisa. Ela me disse certo dia.
- Fala. Pedi.
- Não sei se você irá gostar...
Aquilo foi como colocar o açúcar em cima da pia e pedir para a formiga não ir mexer.
- Fala. Insisti.
- Quero terminar.
O que era bom se tornou em meu inferno. Chorei feito uma criança. Pranteei de tristeza e agonia. Nunca mais iria beijar aquela boca de lábios veludosos e nem receber o carinho daquelas mãos macias; nunca mais iria querer sentir aquele sentimento puro, como todo desiludido diz.
O tempo passou.
Eu me tornei um homem e o medo indescritível de sentir aquele sentimento puro novamente já havia tomado o meu coração. Não tinha mais a inconstância da adolescência; não me apegava mais facilmente a ninguém e me sentia mal por isso. Por que será que era tão cético? Talvez as mágoas pretéritas tivessem matado parte da minha alma sensível de adolescente que ainda estrebuchava pedindo para viver.
A internet funciona! Conversamos na sala de bate-papo da Uol por um tempo. Gostei dela. Ela gostou de mim. Trocamos msn e logo depois telefone, porque o papo foi muito bom. Falamo-nos e chegamos ao um acordo: Estação da Luz às 17 horas em ponto. No horário marcado eu estava lá. Aquela muvuca de gente indo e vindo. E para achá-la? Percepção boa eu tenho! Vi uma moça com a discrição dela procurando por alguém: quem procura outra pessoa numa Estação lotada? Certamente é alguém que quer encontrar um sujeito que nunca viu antes na vida. Sentimentos de Sherlock Holmes à parte.
Conhecemo-nos ali mesmo. E aquele foi o nosso primeiro encontro. Fomos ao Habby’s, comemos e conversamos. Depois saímos de lá e ficamos proseando dentro do ká dela. Os assuntos? Todos possíveis, desde religioso a científico.
- Tenho que levar umas caixas de som para uma amiga, porque ela vai fazer uma festa. Ela me disse no meio da conversa.
- Tudo bem. Eu não tinha o que reclamar.
Conversamos das 17 horas até 21h45, quando a amiga dela ligou.
Parecia que nós éramos amigos há muito tempo, porque tudo era uma questão de amizade, e só.
Eu tinha visto que não havia rolado nada entre nós. Nenhuma atração. Nada. Só amizade. Ou talvez ela tivesse passado esta impressão para mim. Mas, como eu a achei muito atraente e voluptuosa fiz questão de me abrir mesmo com a minha certeza que iria receber um não. E ela disse que não, que não, que não porque não poderia demorar que já estava tarde... coisas que a mulher inventa para fazer charme. Então, pedi um abraço e ela aceitou. Na hora do abraço eu me aproximei do pescoço, senti o perfume agradável, de bom gosto e encostei meus lábios carnudos no pescoço comprido e fino dela. A pele era macia. Dava para sentir a respiração. A farmacêutica suspirou e eu fui me aproximando da boca dela vagarosamente. A química foi mútua e instantânea. O fogo pegou em nós no mesmo instante. O que não havia acontecido em cinco horas e quarenta e cinco minutos de diálogo... Pluft! Apareceu do nada. Acho que nos beijamos cerca de um minuto e meio. E só. Por causa das benditas caixas de som... Um minuto e meio inefável; um minuto e meio que há muito esperei e anelei que acontecesse em minha vida.
Ela me deu um olhar quebrado, jogou os cabelos curtos na frente do rosto, segurou no volante, deu ignição no automóvel e foi embora me vendo pelo retrovisor com um olhar sonhador.
Combinamos de nos ver na próxima semana. No meio da semana seguinte ela me ligou dizendo que não queria mais me ver. Eu insisti com jeito dócil e ela com muito custo aceitou.
- A última vez, hem! Disse-me sendo enfática em suas razões.
Então, pensei comigo: desta vez nós não vamos ficar somente conversando. E realmente não ficamos. Fui mais ousado. Aproximei-me dela e nós namoramos muito. Beijamos fervidamente, apaixonadamente como se nós nos amassemos há muito tempo. Nossa atração fora inefável. Não era só o desejo em si, pele e carne. Parecia haver sentimento misturado ao turbilhão de nossos sentimentos particulares.
Fiquei com essa pessoa duas vezes e já me sentia envolvido completamente. Lembrava-me meu primeiro amor, cândido e suave. Naquela semana eu me declarei sem medo. Estava disposto a jogar tudo para o alto. Escrevi um poema lindo com o título de Fábula. Para mim valia muito a pena viver, simplesmente viver para aquela farmacêutica. Ela? Mesmo mostrando encantamento e desejo, nem tanto. Porque não quis mais me ver. Talvez fossem os traumas dos relacionamentos pretéritos. Quem não os tem? Não rolou sexo. Para mim o que rolou foi algo a mais que isso, pois durou muito mais tempo dentro de meu peito.
Eu me abri como as flores na primavera, mas ela não aceitou meu sentimento. Falamo-nos poucas vezes depois desses episódios... e só...só... Mas, jamais me esqueci e sempre sonhei: poderia ser grande, muito grande...