Alice

Acreditava que era livre, pensava que podia doar-se por inteiro sem se rasgar pela metade. Deu-se tanto e não recebeu nada em troca. Não olhava para traz, Buscava abrigo, abraço, explicações, anedotas descompassadas. Tudo era ilusão, pedaços momentâneos que viviam nela, apenas momentos sucedidos de outros momentos.Buscava carinho momentâneo, pé com pé, tudo não passava de corpos que se entregavam ao desejo. Era cíclico, tentava fugir dos pensamentos que a entorpeciam, entretanto, não conseguia.

Não admitia, mas havia culpa. Precisava encarar a existencia e o fruto de suas escolhas. Apenas queria saber como parar de sentir, como arranjar um novo coração, mas maduro, menos grosseiro.

Olhou-se no espelho e sorriu para si mesma, um sorriso falso foi o melhor que pôde fazer. Não era feliz, contudo, era boa em dissimular.Enganava a si, aos outros. Não se sentia usada por seus amantes, pois ela os usava também.

Seus medos lhe consumiam a alma, mas era segura, geniosa, fria. Seu coração era revestido de espinhos envenenados, Estes não só feriam gravemente os que tentavam tocá-los, como machucavam-na dolorosamente.

Num lugar qualquer, como numa vertigem, fixou seu olhar, suas pernas, sua boca em mais uma vítima de sua promiscuidade. Ardente e inexplicavelmente quis tê-lo só para ela. Se encaixaram bem, ele trouxe consigo toda a exuberância contagiante da verdadeira felicidade. Possuíam a sintonia perfeita. Ele acariciou-lhe os cabelos, a face, “ Bonita” ele disse. A partir daquele momento, sem mais explicações, eles passaram a pertencer um ao outro. Os espinhos continuavam no mesmo lugar, porém, murchos sem vida. Pois os sentimentos, ou a falta deles, que os mantinham enrijecidos se foram.

Laís Zacharsky
Enviado por Laís Zacharsky em 16/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2501470