"O Amor não existe mais"

Mais uma vez, ele voara para um belo encontro com a linda flor. O sol dessa vez era insuportavelmente cruel e Satânico. Pairava no ar, para observar seu habitat, como sempre fizera. Os lindos campos floridos e perfumados, aos poucos, eram devorados pelo fogo, que se alastrara rapidamente pela vegetação.

Sobrevoando o paraíso verde, lá de cima, via seus amigos animais, fugindo do inferno que assolara aquele lugar sagrado. Refugiavam-se para bem longe; em direção ao riacho de água pura e cristalina; porque a floresta era consumida pelo pelas chamas diabólicas.

O pobre Beija-flor estava desorientado, não soubera mais o que fazer. Do alto do céu, que não chorara para evitar a propagação daquelas chamas, o pobre animal entristeceu-se. Não havia mais ninguém, porque a maioria dos animais escapara. Porém, alguns morreram; devorados impiedosamente pelas brasas ardentes!

Olhou para terra em chamas, e seguiu a procurar um novo paraíso. Voara próximo a um pequeno rio de água doce e transparente; pinicando as asinhas diversas vezes. Bebera um pouco do liquido sagrado, para ganhar forças e continuar a voar. Mergulhara inúmeras vezes, refrescando-se nas águas calmas e puras. Voara até um galho seco de um cajueiro, a sacolejar freneticamente o corpinho miúdo, para descansar.

No solo, via uma jovem flor desamparada, que desabrochara timidamente; exalando perfume no ar, enquanto uma abelhinha “navegava” sobre suas pétalas tênues; e extraía o líquido açucarado de sua “boca perfumada!”. Repentinamente, após ver esta cena breve, lembrou-se da amiga que estava em meio às chamas satânicas; seu minúsculo coração disparara.

Voara em altíssima velocidade, para resgatá-la do perigo. Só havia fogo na floresta, se é que agora já não é mais floresta; é apenas um campo desmatado; coberto de cinzas, porém, ainda em chamas.

O pobre Beija-flor entrara em meio à fumaça corajosamente, para reencontrar seu grande amor. Se perdê-la agora, não terá mais seu néctar, e muito menos o seu perfume; que lhe purifica todas as manhãs de primavera...

O cenário real era triste, dolorido e desumano!... Ossadas de centenas de animais em brasas, juntas com os troncos das árvores frutíferas, que pagara com o mesmo sacrifício; por um ato cretino dos homens, em atearem fogo no habitat da mãe natureza...

Ao sobrevoar o local em chamas, via o maior dos desastres de sua curta vida: a pobrezinha da flor, sendo engolida pelo fogo impiedosamente. A tristeza invadia-lhe o coração sem pedir licença, a fumaça tapara-lhe à visão.

Tentara voar desorientado, porque não enxergara nada em meio à fumaça negra! E, acidentalmente, caíra em meio às chamas, que subiam com a forte pressão dos ventos. Morrera ali mesmo, triste e magoado com o céu, que chorava para ajudá-los.

Só após a tragédia, o tempo mudara instantaneamente, resfriando aquela terra; que naquele momento, era completamente dominada pelas chamas. As lágrimas que caíam do céu eram de tristeza e dor, por ver inúmeras vidas perdidas.

Infelizmente, nascemos para chorar; seja na dor, na morte de um ente querido, na alegria e tristeza. É isso que a vida nos proporciona.

O amor existe, a partir do momento em que vivemos, após a morte, já não existe mais...

Sanderson Vaz Dutra
Enviado por Sanderson Vaz Dutra em 07/09/2010
Código do texto: T2482877
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