UM VASO DE ORQUÍDEAS

Gosto muito de orquídeas!

Vejo nelas a perfeição da natureza que se desnuda numa policromia matizada e nas formas diferentes e graciosas de suas pétalas mágicas e belas. Realmente, vejo Deus no comando do Universo, como O Feitor da Vida e de tudo que nela existe.

Ainda recente, estive hospitalizada. Nessa faixa etária, essas visitas são necessárias, por causa da fragilidade do invólucro físico, com suas muitas mudanças imprescindíveis à evolução do espírito. Afinal, os pés já se encontram estropiados e feridos pelos pedregulhos da estrada.

A borboleta não pode eclodir, para alçar voo, sem o rompimento do casulo, penso eu. E isso é lento, ao longo do tempo, para que nos acostumemos a esperar o navio no cais do porto ou o trem na estação, pois eles não atrasam. Partem na hora exata. E essa partida é certa, tão logo a missão esteja terminada.

Aqui estamos a trabalho, como se estivéssemos cursando uma pós-graduação ou um mestrado na matéria em que fomos omissos noutras estadas neste Planeta.

Embora, naquele momento, o meu espírito passeasse para acompanhar o marido, rever os filhos, os netos, o lar, voltasse ao passado, às mais diversas fases da vida, fisicamente, eu me encontrava ali, sozinha no recinto hospitalar, por sinal, acolhedor e arejado, de cuja janela eu podia ver o céu azulado, repleto de nuvens viageiras que se deslocavam, bordando o Cosmos.

O meu espírito, muito além de mim, excursionava, sem peias, sem amarras, alicerçado nas asas do pensamento, aos muitos momentos que formaram a minha vida nesta existência. Ufa, quanta saudade, quanta alegria, mas também quantas dificuldades! Penso que as dificuldades sejam o que de melhor carrego na bagagem.

Enclausurada entre as quatro paredes brancas do quarto, envolvida na paz do branco lençol que me agasalhava o corpo, eu estava leve, livre e ligeira... Um momento único para uma reflexão no silêncio do tempo.

De repente a porta se abriu e o meu alado espírito deve ter pousado em algum galho de árvore do caminho. O certo é que eu estava realmente ali, de volta à farda de carne. O ambiente foi inundado de luz, invadido por um sorriso farto, estampado no rosto trigueiro do meu filho Flávio, minha cria e meu colega de trabalho. Além de amigo, é um conselheiro, um mestre. É um aliado para todas as empreitadas. Sua sapiência soma-se sempre ao carinho e à simplicidade amorosa de um filho. Por vezes, torna-se criança e rimos juntos, sem saber de quê.

Para mim, todos são ainda os meus pequenos filhos, com toda a graça dos mais verdes anos, que ficaram reclusos nas celas da memória e no canto do coração, feito alento que cura, cala e consola.

Em suas mãos, um vaso de orquídeas, lindamente ornado, onde um pássaro azul esgueirava-se de uma de suas hastes.

Após me pedir a bênção, hábito costumeiro da família, beijar-me o rosto, inteirar-se do meu estado de saúde, entregou-me as orquídeas. Via-se, pela fisionomia, que o seu coração pulsava mais forte e o rosto estampava alegria. O meu, derretia-se inteiro e as lágrimas afloram-me às faces. Sou uma manteiga derretida, mas gosto de ser assim. É o amor que me extrapola, dando vazão ao sentimento.

_ Mamãe, não se preocupe, pois o pássaro vai voar, viu! Disse-me ele a sorrir, com um jeito jocoso, otimista e cheio de ternura!

_ Com certeza, meu filho! Esse pássaro ainda vai fazer muitas proezas! Ele nasceu para vencer barreiras, ultrapassar fronteiras, driblar dificuldades e alar o mundo feito borboleta! Estou aqui, apenas hospedada, num retiro ao meu interior. Um dia de férias, um feriado especial. Talvez uma pausa, um dia santo, tão necessários à minha evolução.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 06/09/2010
Reeditado em 29/04/2011
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