MINHA LINDA NORMALISTA OU MEU PRIMEIRO AMOR

Já fazia dias que andava sentindo uma estranha sensação. A variação de humor que já era notória, dava-lhe a qualificação de bipolar. Quando não de ter a síndrome de TOC.

Mas nada que alterasse a sua dinâmica vivencial.

Alterava seus humores de uma forma caleidoscópia.

Quando seu humor e estado emocional se direcionava para a pesquisa, leitura, produção literária como poesias, contos, crônicas ou literatura podia se esperar algo, como 15 a 20 dias de total devoção.

Estudava a importância de Átila, Rei dos Hunos para a História Mundial e qual a razão de ter retrocedido na batalha dos Campos Cataláunicos.

Por vezes se interessava pela vida dos Papas e com certa dose de curiosidade pela família dos Médicis. Inclusive meditando a respeito da célebre frase: “Desde que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”,

De outras vezes se emaranhava em pensamentos a respeito da Nanotecnologia, suas aplicações presentes e futuras. Chegou até desenvolver um raciocínio do uso de medicamentos e a nanotecnologia. Seu raciocínio focava a entrega de um medicamento específico em um local pré-determinado e marcado do corpo humano, com uso de imãs de potencia regulada.

Suas esquisitices o levavam a ficar horas e horas a estudar a respeito de Plínio, Diógenes, Plutarco, Tales de Mileto, Heráclito, Platão e Confúncio.

Nas suas ditas imersões solitárias, a música era a sua companheira absoluta. Compositores comoWagner e Chopin contrapunham seu gosto musical.

Quando então acabava este período, entrava em outro um tanto esquisito.

Ficava praticamente mudo. Não conversava com ninguém. Telefones desligados. Porteiro informado que não deveria permitir que pessoa alguma o importunasse.

Mas nesta fase zen, algo diferente ocorria.

Banhos na hidromassagem. Ali ao som de Chopin praticamente entrava em transe.

Chegava praticamente a dormir.

E foi então que em um determinado dia, quando estava sentado na sala de leitura, ouvindo Chopin algo inusitado aconteceu.

Sentiu um rubor intenso na face. Uma onda de calor invadiu seu corpo. Os lóbulos das orelhas pareciam que estavam em brasa. Desesperado temendo estar diante de um mal súbito correu para o quarto a fim de deitar e relaxar. Mas não conseguiu. Dirigiu-se ao closet onde havia um espelho enorme. Postou-se para ver se algo de anormal estava acontecendo com o seu rosto. Temia por um AVC. Mas não. Tudo normal.

Fitou seu corpo. Seus cabelos brancos. A face sem rugas, mas indicando que o tempo estava erodindo o físico.

E ouviu uma voz interna a perguntar: Lembra-se de mim? Lembra-se de nós?

Como que um torpor invadiu a sua mente. Voltou no tempo e no espaço. Jovem ainda, cheio de sonhos, projetos, ilusões, planos e projetos. Uma linda menina-moça, cabelos castanhos, olhos irrequietos e indagadores, corpo tentador. Rosto de deusa da beleza.

Os primeiros encontros. As primeiras palavras. Um simples papel que envolvia um bombom Sonho de Valsa, que guardava era um troféu. Encontros. Namoro em andamento. Primeiro beijo, primeiras carícias. Palavras ousadas e marotas. Quando acariciava as coxas macias e tentadoras, ficava em verdadeiro estado de excitação. Na tentativa de avançar um pouco mais, ela dobrava as pernas não permitindo um avanço mais intimo. Na realidade dois seres a se desejar. Buscando um momento, uma oportunidade para consumarem o desejo e o amor.

Sentou-se em uma poltrona. Continuou de olhos fechados e a ouvir: Lembra-se de mim? Lembra-se de nós? E como lembrava. Em especial quando a oportunidade apareceu de pernoitarem em uma fazenda. Combinaram que após o término das aulas, no período da tarde se encontrariam para juntos irem a uma festa de noivado da filha de um fazendeiro amigo.

E a festa seguia na sua normalidade. Alegria, sorrisos, música e de repente a chuva torrencial caiu. A estas alturas não haveria possibilidade dos convidados voltarem à cidade. Solução? A festa continua. Um raio atinge um transformador e a energia elétrica deixou de existir. Não havia luz. Lampiões, velas e a festa continuava. Discretamente retiram-se do local e foram para um quarto na casa de hóspedes.

A luz de um lampião proporcionava um ar de romance e angustia.

Enfim estavam a sós.

Beijos, carícias, palavras e juras de amor eterno.

Cabelo solto olhava com carinho e amor àquele que ela tanto desejava.

Delicadamente ele foi desabotoando a blusa branca de manga curtas, onde se lia: Escola Nornal... Tirou com uma certa dificuldade o sutiãn e os seios lindos, delicados, seios de menina-moça, auréolas lindas, bicos indicando excitação. Ficou só de saia azul pregueada. Abaixou-se tirou o par de sapatos pretos, as meias brancas. Estava então só de saia. Parou olhou. Era a sua vez de se despir. Ela tomou a iniciativa. A angústia e o clima exigiam calma dentro de uma situação inusitada para ambos. Totalmente nu, então começou a tirar a saia azul. Surpresa. Não tinha nada por debaixo da saia. Não havia a tão sonhada calcinha. Deitaram na cama e deixaram fluir o amor represado. Harmonia, sussurros, beijos, carícia antes proibidas, agora solicitadas. E então algo que não estava previsto no roteiro do primeiro encontro. Ele simplesmente falou: Não posso fazer você minha mulher. O que será de nós? Ela num gesto comparado a de uma fêmea de leopardo, rolou na cama e ficou por cima do amor da sua vida. Não é você que não pode me fazer mulher. Sou eu que quero que você se faça o homem da minha vida. O primeiro e único.

Aos poucos os movimentos delicados, suaves, cuidadosos e cheios de carinhos foram dando lugar a harmonia dos movimentos. Ambos se completavam na inexperiência.

Era a primeira vez de ambos. A importância do momento exigia que o romantismo e o carinho fizessem parte do jogo do amor. Demorou uma eternidade. A excitação que não só da penetração, mas das preliminares um tanto ousadas para ambos, davam a aquele momento uma áurea ideal para quem tanto se amavam.

Adormeceram abraçados. Acordaram assustados. Mas a festa continuava. A música animava a todos e chuva caia de forma pesada e contínua. O relógio do tempo indicava duas horas da madrugada. O relógio do amor havia parado. E se amaram várias vezes naquela noite. O dia vinha chegando e não seria interessante que os vissem no mesmo quarto. O que iriam dizer e comentar? Entrou sorrateiro no quarto de hóspedes para os moços e encontrou uma verdadeira orquestra de roncos. Acordou com a manhã buscando uma aproximação com a tarde e a chuva continuava. Encontraram-se como se nada houvesse ocorrido. Nos rostos os sinais e sorrisos de um amor consumado. Ela decidiu que ele a faria mulher. E não ele que a faria mulher. Ela tomou a iniciativa.

Sentado no closet, ainda perplexo pela viagem no tempo, não ouvia Chopin.

Na sua mente ainda a visão, o momento, o amor de entrega total.

Enxugou as lágrimas que rolavam. Um soluço forte cortou aquele peito sofrido e solitário.

A música que a sua mente ouvia, ignorando a do compositor polonês dizia assim:

“Vestida de azul e branco. Trazendo um sorriso franco. No rostinho encantador. Minha linda Normalista. Rapidamente conquista. Meu coração sem amor”

Levantou-se, abriu a gaveta e apanhou um diário amarelecido pelo tempo, onde narrava todo um amor que um dia existiu.

Encontraram-no morto, com o diário na mão e um papel escrito: Onde você estiver não se esqueça de mim.

Com todo o meu amor.....

Curitiba, 03 de setembro de 2010.

Foi enterrado em uma tarde onde o vento espalhava as folhas caídas e discretamente uma mulher aproximou-se e sobre o túmulo deixou um pequeno embrulho e uma rosa vermelha. Retirou-se. Uma pessoa amiga apanhou o embrulho e no apartamento junto com amigos comuns abriu-o a fim de saber do conteúdo. Eram cartas que enviara a sua amada. Mas ninguém ficou sabendo que ela nunca as respondeu.

E então não se sabe de que forma e maneira a sala se encheu de música ao som de:

“Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida eu vou te amar

Em cada despedida eu vou te amar

Desesperadamente, eu sei que vou te amar

E cada verso meu será

Prá te dizer que eu sei que vou te amar”

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 01/09/2010
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