Andaluzia
Do sobrado ela olhava a cidade, a catedral batia as horas e o coração apertado de mágoas e saudades dóia. A cama vazia, lençóis revirados, lembranças apaixonadas da noite anterior. Ele partiu na madrugada, foi sem despedidas, promessas esquecidas na mesa de uma taberna escondida onde goles de vinho adocicaram bocas e linguas.
Brincaram como crianças percorram as vielas mal iluminadas, perfeitas para beijos trocados. Mãos apressadas fustigando o corpo quente, alma desmanchando sem censuras ou medos. Anseios.
Despudorada mulher que se deu inteira, recebendo nos braços fortes muito mais que alívio para o desejo, foi além e entregou-se ao porto que julgava seu.
Noite dos tempos, passado e presente se misturaram em gemidos e posse. E durante todo o tempo em que estiveram juntos, do momento em que se despiram até o instante mágico em que o acolheu entre as pernas trêmulas de tesão e prazer... Ela o amou como nunca havia amado antes.
Morreu mil vezes, aspirando a pele suada, o cheiro moreno como droga maldita, fez com que ela esquecesse avisos e se entregasse pedindo mais e mais. A barba mal feita, delícia! Por quantas vezes ela sonhou com desvarios e lassidão...
E todas formas e maneiras, com o ardor impetuoso dos famintos, foram felizes ainda que por instantes fugidios.
Lá fora as estrelas eram como as pontas dos seus seios nas mãos do amante. Os olhos negros foram a última coisa que viu antes de adormecer.
Solidão. Os primeiros raios de sol cingem a cidade e ela ainda está nua. Mantém o olhar perdido, esperança morta nas pedras que compõe as ruelas de Sevilha. Uma lágrima teimosa escorre salgada e molha os lábios. Ela lembra do mar, das marés que vão e vem... Lentamente começa a se vestir.