Andaluzia


Do sobrado ela olhava a cidade, a catedral batia as horas e o coração apertado de mágoas e saudades dóia. A cama vazia, lençóis revirados, lembranças apaixonadas da noite anterior. Ele partiu na madrugada, foi sem despedidas, promessas esquecidas na mesa de uma taberna escondida onde goles de vinho adocicaram  bocas e linguas.
Brincaram  como crianças percorram  as  vielas mal iluminadas,  perfeitas para beijos trocados.  Mãos  apressadas fustigando o corpo quente, alma desmanchando sem censuras ou medos. Anseios.

Despudorada mulher que se deu inteira, recebendo nos braços fortes muito mais que alívio para o desejo, foi além e entregou-se ao porto que julgava seu.
Noite dos tempos, passado e presente se misturaram em gemidos e posse. E durante todo o tempo em que estiveram juntos, do momento em que se despiram até o instante  mágico em que o acolheu entre as pernas trêmulas de tesão e prazer... Ela o amou como nunca havia amado antes.

Morreu mil vezes, aspirando a pele suada, o cheiro moreno como droga maldita, fez com que ela esquecesse avisos e se entregasse pedindo mais e mais. A barba mal feita, delícia! Por quantas vezes ela sonhou com desvarios e lassidão...

E todas formas  e maneiras, com o ardor impetuoso dos famintos, foram felizes ainda que por instantes fugidios.
Lá fora as estrelas eram como as pontas dos seus seios nas mãos do amante. Os olhos negros foram a última coisa que viu antes de adormecer.

Solidão. Os primeiros raios de sol cingem a cidade e ela ainda está nua. Mantém o olhar perdido,  esperança morta nas pedras que compõe as ruelas de Sevilha. Uma lágrima teimosa escorre salgada  e molha os lábios. Ela lembra do mar, das marés que vão e vem... Lentamente começa a se vestir.

Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 31/08/2010
Reeditado em 31/08/2010
Código do texto: T2470217
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