O DESCONHECIDO DO HELICÓPTERO
Lêda Torre
Um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão sobrevoava aquele bairro, numa rotina costumaz de trabalho da polícia. Era toda tarde, precisamente. Bem próximo daquela repartição pública. Curiosas, algumas jovens funcionárias começaram a observar que tinha dias que “aquela máquina” se aproximava da janela onde as moças ficavam, como se quisesse mesmo chamar atenção delas...e no entanto, a beleza de um dos policiais chamou muito a atenção das admiradoras dos rapazes, pois elas chegaram a ver bem de perto, os policiais.
A farda negra que os identificava, realçava ainda mais o belo jovem. Sua pele, seus olhos bem graúdos, um sorriso ímpar, músculos bem distribuídos, e uma beleza inconfundível, ao ponto de despertar suspiros das jovens funcionárias, que não perdiam uma tarde que o helicóptero passava, no começo, ligeiro, depois, ao ver que ali ficavam várias moças então, foi que passaram a ir bem devagar para ver se percebiam alguém interessante, claro.
Só que o belo jovem viu de perto uma delas, que se destacava pela beleza também. A moça era branca, pele rosada, longas madeixas, cabelos negros e um belíssimo par de olhos verdes, corpo escultural, lindo sorriso, simpática, e que ao dar conta do belo policial, passou a ficar nervosa quando ouvia o barulho da nave...ficava ansiosa...suava frio mesmo...o coração a mil...e por sua vez, passou a marca aquela hora tanto no tempo cronológico, quanto no relógio do seu coração...
Era perceptível a sua inquietude, por todas as colegas...que percebendo o clima, resolveram torcer pelo possível romance, sabiam que não ia dar pra nenhuma mais... e o jovem militar certa tarde, colocou um cartaz com o nome Baco e telefone celular, cujo nome diferente chamou atenção das moças...BACO – cel: 8755-1234 e, a jovem também muito atraída por aquele pretenso candidato ao amor, já havia feito um coração de E.V.A. tomou a mesma atitude do policial, colocando da mesma formão nome KEREN e o número do celular.
A bela jovem enamorada, apesar de linda , era muito simples, oriunda de uma cidade interiorana do estado do Maranhão, família pobre, cuja cidade se chamava Lago Dourado,porque ali havia um Lago de águas douradas, daí o nome, lugar em que ela nasceu e fez um concurso para professora de escola pública do estado, fora transferida para a capital São Luis, onde uma tia havia cedido um apartamento para ela e mais duas amigas da sua terra , todas com os mesmos objetivos, vieram em busca de vida melhor.
Então, já formada em Pedagogia, pretendia continuar seus estudos e um dia ser professora de Faculdades. Entretanto, a moça estava lotada na Secretaria Estadual de Educação, não estava em sala de aula, pois havia sido selecionada para esse setor que trabalhava atualmente.
Por ser evangélica, a jovem recebera de seus pais, o nome da filha de Jó, Keren Hapuque, e nunca nem imaginou que tão cedo fosse se apaixonar por alguém logo desse jeito. Ainda mais por um desconhecido, puxa vida, a coisa estava complicada! Mas Keren não pensava mais em outra coisa, não parava de pensar naquele jovem militar,naquele nome, BACO, era tudo que sabia dele...e aquele número telefônico.
Nessa mesma tarde em que trocaram telefones de forma incomum, o jovem policial começou a ligar para Keren, de forma apaixonada. Ele não conseguira se conter com aquela forte paixão que explodia dentro do seu coração, parecia um sonho...a bela jovem não saía do seu pensamento...no trabalho ficava inquieto, olhando para o seu relógio, de forma insistente...ao ponto dos amigos perceberem e até faziam chacotas...com o colega....era bem visível os seus sentimentos...
E passou dias assim...telefone dele...dela...e vice e versa.ela tinha apenas 23 anos, ele 26. Ela já havia tido uma decepção amorosa, muito belo, mas vulgar, por ser rico, achava que podia brincar com todas as mulheres, para ele a beleza e o dinheiro eram suficiente para ele. Era tudo. Até que um dia o jovem Raul trocou Keren por uma “amiga sua” de infância e de escola...brincou com seus sentimentos...afinal o rapaz havia sido seu primeiro amor...mas amenina infeliz, tomou uma grande decisão. Viria para a capital continuar seus estudos, fez concurso para o estado, pela capital, e foi chamada, daí ter sido mais rápida sua vinda.
Esquecer aquele amor ingrato, seria o melhor remédio...ou um novo amor, quem sabe ...seu trabalho naquela secretaria ocupava muito o seu tempo, pois a moça coordenava um Projeto Federal de Alfabetização e, suas responsabilidades com o trabalho era grande, afinal trabalhava direto com o Ministério da Educação e com a Secretaria Estadual de Educação.
Depois de muita insistência do jovem BACO, com o coração a mil, a bela jovem resolveu aceitar o convite de BACO. Ele, muito bonito, excelente rapaz, muito responsável, tenente da Polícia Militar, exímio profissional, já apaixonado, do Grupo Ases de Águia, além de muito belo, havia convidado-a para sair. Ficou combinado que sairiam às dezenove horas daquela noite.
Keren foi em casa primeiro, onde suas colegas de moradia, Nágila e Gertrudes, ambas da sua cidade, já a esperavam chegar, ela contou a novidade rapidinho e foi cuidar de se arrumar, pois afinal aquilo tudo era novo para ela, e aquele deus grego, era um sonho...ela não perderia aquele primeiro encontro por nada desse mundo....e foi...ambos ansiosos, lindos, perfumados, saíram...indo primeiro ao Shopping Terra das Palmeiras,o maior da cidade, onde assistiriam a um filme de amor, propagado havia dias, cujo título era “FLORES DO OUTONO” , seguindo depois, para o tão esperado jantar, o tão esperado primeiro contato dos dois...e, o local escolhido foi um restaurante nordestino “Luar do Sertão”, de comidinhas caseiras, leves e muito típicas...
Na verdade,ambos fizeram seus pedidos, mas nem jantaram direito, bebericaram a comida, pois o desejo latente naquele casal, os olhares, a respiração um tanto ofegante...os sorrisos demonstravam quão grande era a vontade de ali estarem juntinhos...
Dali, surgiram perguntas sobre a vida de cada um, sobre famílias, trabalhos, hobie, sonhos, etc. e o jovem tenente de carreira promissora não se cansava de olhar a sua princesa...e a moça fazia o mesmo...admirando aquele deus grego e se perguntava in off, seria sonho ter aquele “pedaço de mal caminho como seu amor ¿ mas acreditava que Deus, na sua infinita misericórdia, jamais deixaria a bela moça sofrer de novo, nenhuma decepção de amor.
Ele, por sua vez, desabafou também que já havia sido casado, mas não tinha filhos, sua ex-esposa o traíra, deixando-o por um velho capitão, marido de muitas mulheres, mas que nem estavam mais por ali, moravam em outra cidade, era bem melhor.
Porém, meio receosa, Keren ouviu seu amado muito bem, ficando pensativa...chegando até mesmo a pedir-lhe que desse um tempo para a mesma refletir se era isso mesmo que ela desejava e se era o melhor para sua vida...o jovem meio triste, compreendeu mesmo assim, pois não ousaria perdê-la facilmente, enfrentaria qualquer desafio para não perdê-la...
Ambos foram para casa naquele Corolla verde musgo e cintilante, calados...pensativos...mas trocaram um beijo bem profundo, para confirmar aquele amor que nascia desafiador...mas ninguém contava se ambos suportariam ficar longe um do outro...era essa a verdade.
Entretanto, aquele helicóptero ficara uma semana sem aparecer...e a bela apaixonada começou a ficar desesperada e pensar na besteira de ficar longe, afinal, um belo e bom jovem daquele com certeza não ficariam sozinho por muito tempo...logo , logo haveria muitas pretendentes...
Toda tarde Keren esperava o seu amado que apareceu do ar, aparecesse e, nada! Ela ficava próximo à janela de sua sala, na esperança de ver seu amor...perdera a fome, suava frio só de pensar nele, e aquela situação se transformara em angústia, ela estava infeliz, que amor era aquele, arrebatador, meu Deus ¿ pensava a moça de vez em quando...e cada dia que passava, a jovem ficava desesperada...ao ponto de não se conter e resolveu tomar a iniciativa de ligar para seu amado, mesmo que ela até a dispensasse, mas a coisa que Keren mais desejava naquele instante era correr para os braços de Baco e dizer o quanto o amava...
Aquela semana parecia uma eternidade...e num ímpeto ligou-lhe, dizendo assim:
- Alô, é você Baco ¿
Como num ímpeto desesperador, o policial pegou seu telefone e respondeu:
- Sou eu mesmo, meu amor¿
- Gostaria muito de falar com você, pode ser ainda hoje ¿
- ele respondendo com paixão, disse assim: claro que pode ser sim... você ordena e eu obedeço, meu grande amor...já nervoso...meio atrapalhado...e combinaram, para as 21 horas, pois afinal ela gostaria muito de ir em casa primeiro, concordou o rapaz apaixonado, achando que iria também em casa, e lhe pediu que aguardasse. O combinado foi dele vir às vinte e uma hora para saírem.
Aquelas poucas horas pareciam eternas...e a distância era tão grande para eles, na certeza de que aquela noite seria inesquecível,era a certeza de ambos...o relógio parecia conspirar contra o casal de enamorados...
Keren caprichou nos cabelos negros, na roupa, no geral,afinal a sua beleza sobrepujava tantas outras...as sua curvas ficaram acentuadas com o belo vestido azul piscina que Keren estava vestida...a sandália era de cor creme, combinando tudo num conjunto que realçou muito bem a sua beleza e, o jovem rapaz acabara de chegar, com pontualidade britânica, disposto a tudo, quando disse:
- Para onde você deseja que possamos ir¿ hoje você é quem vai me conduzir, irei para onde desejares, irei eu...cujo brilho nos olhos era notório!! Sou livre, não tenho problemas com o tempo, posso ir até o fim do mundo minha querida...
Meio calada, nervosa...e em poucas palavras Keren respondeu:
- Meu amado, quero ir para o seu apartamento...reticente....ainda acrescentou...quero você...e por nada nessa vida desejo perdê-lo...e tremendamente ansiosa, deu-lhe um abraço muito forte eali mesmo já dentro do carro beijaram-se de modo apaixonado...como se ali so existisse os dois, nada mais importava para ambos...a noite seria pouca para tanto amor...para tanto desejo...
Como se não tivesse ouvido direito, BACO solicitou-lhe que repetisse tudo que dissera...pois o carro em andamento, não seria prudente nenhum imprevisto, resolveram parar num acostamento da avenida que trafegavam rumo ao apartamento de BACO...a bela moça ainda meio vermelha, suando frio de emoção, repetiu tudo que disse, para atender ao amado, seguindo logo depois para o apartamento dele.
Começou ali a consumação de uma grande noite de amor,uma história incomum, os enamorados casaram-se, tem um filhinho e vivem felizes até hoje, sorte dela, por ter se apaixonado por um desconhecido, que era tudo de bom...mas isso e raro, de hoje em dia...
_____São Luis-Ma., 29.08.2010________