Em Busca do Amor

É noite. Faz muito frio e chove, na fazenda Campo do Sol, interior de São Paulo. O Barão Nicolas da pequena cidade de Vitória, recebe em sua residência seu sobrinho, que estivera viajando e agora retornara para ver o tio.

- Olá meu velho! Como vai? – diz Adolfo, esticando os braços para abraçar o tio.

- Bem vindo de volta meu jovem! Vamos, entre, entre! A lareira esta acesa vamos até ela.

Nicolas, ajuda seu sobrinho com a mala e o puxa para a sala de estar. Uma bela sala. Cortinas vermelhas de veludo tornam o ambiente especialmente aconchegante, encobrindo o grande frio vindo com a tempestade lá fora. No centro da sala, numa parede, uma lareira acesa esquenta e clareia o ambiente. Duas poltronas, uma frente a outra, com visão para a lareira os 'espera' no centro da sala.

- E então Adolfo, o que o trás aqui? – diz o Barão pendurando o chapéu do moço e seu casaco molhado, no cabide.

- Estava passando pela cidade e decidi passar para visitar o senhor! Creio que soube pelo meu pai, que a um tempo tenho me aventurado pelo Brasil. – diz sendo acompanhado pelo barão até uma das poltronas.

Os dois se sentam

- Sim, sim. Seu pai comentou, mas não especificou o motivo de suas aventuras. Gostaria que me explicasse!

- Sim é claro, eu... – Adolfo é interrompido.

- Um momento! Rita! – chama pela sua esposa – Rita, onde esta?

Logo Rita entra no ambiente

- Olá Adolfo! – diz sorrindo para o moço.

- Olá tia, como vai? – levanta-se e a cumprimenta.

- Muito bem e vosmecê?

- Bem sim tia, obrigado!

O Barão vira-se para sua esposa

- Rita, traga um casaco seco para nosso convidado ficar mais confortável.

- Sim, já o trago! Com licença!

- Toda, toda! – diz o moço tornando a seu assento.

Rita vira-se e se retira da sala.

- Então, como estava dizendo? – pergunta o Barão ao moço.

- A sim. Lembras de Ana? A moça a qual estive junto.

- Sim, sim me lembro mas o que esta moça tem a ver com tuas viagens? – pergunta o velho ajeitando-se em seu assento.

- Não diretamente envolvida com as viagens senhor, mas ela me deu um motivo para estas serem feitas.

- Sim, mas não entendo, como um motivo?

- Quando nosso romance acabou, percebi que algo faltava em mim. Algo, devo dizer, que não tinha com Ana. Então saí a sua procura, por esse Brasil. – afirma Adolfo.

A conversa é interrompida por Rita que entra na sala com o casaco nas mãos.

- Aqui esta! – entrega o casaco ao moço.

- Obrigado tia! – imediatamente o veste.

A senhora novamente retira-se para o quarto.

- E então? O que saiu buscando? – diz Nicolas curioso, e um tanto impaciente.

Nicolas tem um temperamento não muito controlado, facilmente se irrita, devido sua grande ansiedade.

- Saí a busca do amor tio! Do amor!

O velho da uma grande gargalhada, seguida de um ataque de tosse por causa do frio que tomara mais cedo.

- Por que o riso tio? – pergunta um tanto confuso e sem jeito.

- O amor meu jovem, o amor? Como podes buscar o amor por ai? Tens testado as mulheres, buscando uma que mexa com teu coração?! – volta a rir.

O jovem acompanha-lhe rindo de si mesmo e continua a contar

- Sim, sim. Todos esses meses, tenho buscado o amor nas mulheres deste país. De cidade a cidade e estado a estado.

- E tens sucesso nesta tua busca? Alguma donzela o encantou? – pergunta o Barão sorridente.

- Sim, muitas moças me deixaram encantado, porem nelas não achei o que procuro.

- Eu entendo, entendo. Mas que tipo de moças tens procurado?

Adolfo se ajeita em seu assento e com um sorriso no rosto responde

- Creio que já por muitos tipos de moças já procurei tio. Moças ricas, pobres, as mais belas e também algumas nem tão belas assim. Moças acanhadas, outras bem atrevidas devo dizer. Moças de idades variadas, algumas pareciam loucas. Em todas procurei, mas ainda isso que busco em nenhuma encontrei meu tio! Nenhuma! – diz aparentando desanimado.

O Barão se levanta e pega um charuto na estante. Enquanto o acende começa a dizer

- É meu jovem, achastes que seria fácil esta tua busca? O amor há vários caminhos, sinceros ou não, há vários caminhos! Já passou por sua cabeça, que talvez esta busca seja em vão? – coloca o charuto entre os lábios e volta a se sentar.

- O que queres dizer tio?

Nicolas retira o charuto dos lábios

- Talvez o que procuras, não precise ir tão longe para o achar, talvez esteja até aqui mesmo em Vitória, basta saber procurar e aceitar caso ache.

- Sim, talvez mas... – é interrompido.

- Ouça o conselho de um velho Adolfo. Não tens de procurar pelo amor, o amor o achará quando for o momento! Veja eu e tua tia, foi assim, não procurei por ela, apenas nos encontramos. O amor tem suas facetas e só com o tempo podemos decifrá-las.

- Entendo tio! Podes achar ousadia de minha parte, mas tu e tua esposa se amam tanto assim como diz mesmo?

O Barão se ajeita na cadeira.

- Não fales besteiras meu jovem – diz um tanto alterado. É claro que eu Rita nos amamos, por isso estamos juntos a tanto tempo. Ora, tenha santa paciência Adolfo, não fale assim.

- Peço que me perdoe senhor não quis ofende-lo!

- Sim, sim. É um jovem curioso, ousado, mas ainda sim muito esperto e lhe admiro por isso. Escute, todo relacionamento tem seus defeitos meu jovem, nenhum passa pela perfeição. Ainda há de aprender muito sobre isso.

- Agradeço teus conselhos tio. A propósito, posso passar a noite junto a vocês? – pergunta um tanto acanhado.

- Sim, é claro, tu és bem vindo aqui, poderás ficar no quarto de hospede. E é bom, que poderá contar mais sobre estas tuas aventuras.

Os dois soltam algumas breves risadas.

A conversa vai noite a dentro. Adolfo continua contando suas aventuras ao tio, que o dá conselhos, opiniões, e solta gargalhadas de besteiras.

Ao amanhecer, a chuva já havia parado, e um sol fraco se abria no horizonte. Todos acordam bem cedo e Nicolas encontra o moço já com a mala arrumada, e tirando seu casaco e chapéu do cabide.

- Já vai, presumo! – diz o Barão

- Sim, sim. Tenho de ir, agradeço sua hospitalidade tio, em breve volto para lhe fazer outra visita! – vai se despedindo enquanto se aproxima da porta.

- Ótimo, apareça outra vez! E aonde vai agora, voltarás para casa de teu pai?

- Tio, o senhor me conhece, quando coloco algo da cabeça, difícil é mudar de idéia.

- Entendo, tua busca, irá continuar! – afirma o Barão.

Adolfo acena com a cabeça afirmando a dedução do senhor.

- Então vá meu jovem, e volte com novas histórias para o velho aqui! – soltam algumas risadas- Boa sorte, cuide-se bem.

- O mesmo meu tio. Até breve.

Desce as escadas indo em direção ao portão da fazenda. De lá acena para o Barão.

Adolfo segue sua estrada, direção a sua inquietante e perturbadora obsessão. Sai novamente em busca do amor.

Leandro Sales
Enviado por Leandro Sales em 20/08/2010
Reeditado em 20/08/2010
Código do texto: T2449181