O Cadeirante e Ela
Herbert, 32 anos, cadeirante, não se limitou nem se intimidou por causa da deficiência física. Sabia que a vida tinha muito a oferecer. Era conhecido pelo bom humor e pela alegria de viver.
Conseguiu sua estabilidade profissional com muito esforço, nada fácil para um deficiente físico com suas dificuldades e limitações. Formado, faz sucesso como palestrante. É um importante diretor de uma multinacional, onde é reconhecido pela ousadia, criatividade e inovação.
Esteve fora da cidade por duas semanas palestrando nas filiais da empresa. Neste período aconteceram algumas mudanças na matriz. A principal: a entrada de Joana, a nova executiva. Joana rapidamente se adaptou ao ambiente de trabalho e logo foi reconhecida pela eficiência e liderança.
De volta à empresa, Herbert foi avisado das mudanças e da contratação da nova executiva. O diretor geral convidou todos para um almoço de confraternização. No restaurante, o diretor tratou de apresentar a executiva para Herbert que teve a sensação de conhecê-la de algum lugar, talvez de uma palestra.
Joana achou familiar o olhar de Herbert. Gentil, tratou de parabenizá-lo pelo excelente trabalho que vinha realizando, pelo reconhecimento que tinha conquistado junto aos colegas de trabalho e pelas já tão “famosas” palestras.
Mal sabiam os dois que este encontro se tornaria inesquecível e a vida não seria mais a mesma.
Durante a semana a rotina de trabalho voltou e no dia a dia Herbert tentou puxar conversa com Joana sempre que possível, porém, atarefada com os compromissos profissionais, parecia indiferente com as tentativas de aproximação de Herbert, apesar da cordialidade. Alguma coisa estava errada. Por que a indiferença? Onde estava aquela pessoa atenciosa? O que mudou? Sentiu-se incomodado.
Na semana seguinte, Herbert faria mais uma palestra para executivos, só que desta vez em um hotel próximo a empresa. Lembrou do almoço com Joana e do desejo que ela tinha em assistir uma de suas palestras. Era a oportunidade que precisava para tentar uma aproximação, sentia uma necessidade imensa de falar com ela e isso estava tirando sua paz.
Ligou diversas vezes para Joana, contudo conseguiu falar com ela apenas no fim do dia. Com um frio na barriga ouviu a voz de Joana e tratou de fazer o convite para a palestra deixando claro que não aceitaria desculpas ou a sua ausência. Joana tentou se esquivar, mas graças à insistência e a firmeza de Herbert aceitou o convite.
Uma mistura de nervosismo e alegria tomou conta de Herbert. A ansiedade não deixava-o dormir. Quando se deu conta já era hora de ir para a palestra. Como sempre fazia em dias como esse, passou na empresa antes de ir para palestra. Desta vez era uma desculpa para se certificar que Joana estaria no evento. Não conseguiu falar com ela. A secretária informava que a agenda de Joana estava cheia e que não havia nenhuma palestra para ela assistir naquele dia. Frustrado seguiu para o evento.
Auditório cheio, a palestra iniciou. Decorridos alguns minutos a porta do auditório se abriu, algo que irritava Herbert, pois tirava a concentração de todos. Mas desta vez foi diferente. Era Joana. Herbert sorriu e continuou.
Joana tratou de sentar na última fileira e passou a observar a palestra. Prestava atenção em cada tema, em cada comentário que Herbert fazia.
Ao final, Herbert abriu a palestra para perguntas e debates informais sobre o assunto. Aguardou a intervenção de Joana já que foi uma das mais atentas a apresentação. Porém dela não houve um comentário, uma pergunta. Nada. Esta atitude o intrigou mais ainda, o que pensar? Teria ido por educação ou obrigação?
Herbert não deixaria passar esse comportamento indiferente de Joana. Resolveu agir. Dirigiu-se a Joana e pediu que ela falasse para todos suas impressões.
Joana foi surpreendida pela convocação. Mas graças à experiência profissional não se abalou. Pediu para se aproximar ao palco. Confiante e à vontade, diante de todos, agradeceu o convite de Herbert e explanou suas percepções sobre o tema.
Agora que estava surpreso era Herbert. Joana não apenas resumiu brilhantemente a palestra como pontuou e citou autores que enriqueceriam ainda mais o tema.
O público curioso se perguntava: quem era a jovem com um conteúdo invejável?
Herbert prestava atenção no que Joana falava e não conseguia entender como uma pessoa que aparentava desinteresse em participar tinha tanto a colaborar. Sabia que não era uma afronta. Os conhecimentos era complementares, um encontro de conhecimento. Mas para Herbert não era só isso, era um encontro de almas. Aumentava ali o interesse de Herbert por Joana.
Joana despediu-se e Herbert apenas acenou e esqueceu de agradecer a sua participação.
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Herbert tentou várias vezes agradecer pessoalmente a Joana sua presença na palestra, mas nunca conseguiu. Quando pensava em desistir resolveu enviar um e-mail e recebeu mais do que uma resposta educada, um agradecimento pela oportunidade de participar e contribuir para um trabalho tão brilhante como o dele.
Algumas semanas se passaram e os compromissos profissionais de ambos fizeram com que não se esbarrassem nos corredores da empresa. Sentimentos aflorados, tão pertos ao mesmo tempo distantes.
Joana, sempre centrada, não queria se precipitar. Desde o primeiro encontro algo tinha mudado. Ela não queria ser indiferente, mas tentava encontrar respostas. Tinha medo de misturar a admiração pelo profissional por algo pessoal.
Aproximava-se o fim do ano e, como de costume, a empresa realizava uma confraternização entre os funcionários. Desta vez o local também teria uma pista de dança.
Herbert sentia-se angustiado, sem saber o que sentia por Joana. Aparentemente indiferente para ele e ao mesmo tempo tão cativante. Concluiu que o melhor era manter-se em silêncio, pois não queria causar nenhum constrangimento no trabalho, ainda mais para Joana.
O dia da festa chegou.
Herbert foi um dos primeiros a chegar e imediatamente pergunto aos demais se alguém tinha notícias de Joana, se ela já tinha chegado ou se apareceria na festa. Constatou que ela não estava presente. Novamente foi tomado por aquela sensação estranha misturando nervosismo, apreensão e ansiedade.
Quando Herbert já se resignava, Joana apareceu na festa. Deslumbrante e sempre elegante. Hipnotizado, Herbert só tinha olhos para ela. Uma visão que nunca mais esqueceria.
Joana cumprimentava a todos e foi se aproximando da mesa onde estava Herbert. Ele a cumprimentou radiante. Pediu para que ela sentasse-se à mesa em que estava. Joana aceitou com a cordialidade que lhe era comum.
Pela primeira vez conversavam sobre assuntos que não eram profissionais. Contudo, alguns minutos depois o telefone de Joana tocou. Herbert sabia de como era comum uma pessoa no cargo que Joana ocupava receber ligações a qualquer momento. Mas desta vez pareceu ser diferente. Joana pediu licença, levantou-se e avisou que ia até a portaria. Herbert, curioso, apenas concordou com um aceno de cabeça.
Vinte intermináveis minutos depois Joana ainda não tinha voltado. O show ao vivo da banda do momento se iniciava. O ponto alto da festa. A maioria foi para a pista de dança e o clima de alegria e diversão era contagiante.
Herbert observava de longe o show e não se atreveu de sair do lugar com medo de Joana voltar e se desencontrarem.
Foi então que Herbert viu pela segunda vez Joana entrar no salão, mas desta vez não estava sozinha. Acompanhada por um rapaz bonito, Joana estava com um sorriso que mostrava um semblante diferente daquele que Herbert se acostumou a ver.
O casal, embalado pela música que tocava, foi direto dançar. Tão direto quanto o nó que Herbert sentiu em seu estômago. O casal dançava de uma maneira tão entrosada que todos admiravam aquele show particular. Porém, para Herbert isso pouco importava. Quem era o dançarino? Namorado? Amigo?
Herbert perguntava aos colegas de trabalho se conheciam aquele homem, contudo a discrição de Joana em não expor sua vida pessoal fazia com quem ninguém soubesse de muita coisa sobre ela.
E todos surpresos comentavam sobre a desenvoltura do casal e da elegância de Joana. Definitivamente o casal dançava de uma forma perfeita. A tristeza e decepção de Herbert eram evidentes. Joana dançando feliz nos braços de outro homem, como? Porque?
Desejava sair dali e foi o que fez. Saiu por uma porta lateral e entrou em uma sala vazia onde se ouvia apenas a sua respiração descompassada. Será que tinha entendido tudo errado? A sua intuição o traíra pela primeira vez?
A música parou, era o intervalo do show. Joana olhou ao redor e notou que Herbert não estava no salão. A sua ausência a angustiou. Foi procurá-lo.
Entrou na sala onde estava Herbert. Aproximou-se e viu que Herbert estava muito triste e irreconhecível. Onde estava aquele homem tão confiante e senhor de si que ela conhecia?
Perguntou para Herbert o que havia acontecido para ele estar daquele jeito e longe da festa, afinal ela estava ótima. Cabisbaixo, irônico e com a voz embargada respondeu que não tão ótima quanto para ela. Pediu para não perder tempo com ele e ordenou que voltasse a dançar com o “namorado”.
Joana pegou uma cadeira do canto da sala e sentou-se ao lado de Herbert. Expressando ternura fez um carinho no rosto dele e falou que o tal homem não era seu namorado. Era um grande amigo que dançava muito bem, nada mais do que isso. Pediu que a perdoasse porque não queria fazê-lo sofrer. Herbert se encheu de coragem, pegou na mão de Joana e olhando fixamente para ela se aproximou e a beijou com todo amor que sentia. Ela retribuiu com a mesma intensidade.
Era a vez de Herbert pedir perdão por ter tido tantas dúvidas e ter se comportado daquela maneira. Era consumido em pensar que por ser deficiente físico ela jamais se interessaria por ele. Mas desta vez entendia que, no fundo, sua insegurança quase o fez perder o grande amor de sua vida.
Joana confessou que desde o primeiro encontro algo diferente tinha acontecido com ela. A sensação era de ter tido um encontro de almas, a mesma que Herbert sentira. Aquilo não era coincidência.
Independente de tempo, raça, físico ou status, quando temos um destino, seja ele qual for o tempo, sempre encontraremos com ele. Não é a deficiência física e sim as limitações da nossa forma de pensar que nos impede de viver e ser feliz.
Precisamos nos resolver, você com você. Poucos conseguem superar e vencer esses limites e não é fácil. Requer muito exercício diário, estudos, pesquisas passar por uma reforma íntima, superar as próprias limitações não só físicas. A mente precisa ser silenciada para que haja o nosso crescimento espiritual.
Mesmo sendo um homem vivido, o medo da rejeição causou insegurança. Um dia vamos partir. Do pó viemos e para o pó voltaremos. Nossa alma é eterna. O corpo é o nosso templo provisório. Necessitamos dele, matéria e espírito enquanto estivermos aqui neste plano para comprimirmos a nossa missão, uns mais adiantados e outros menos.
A importância da compreensão, o apoio da família foi decisivo para suas vitórias e conquistas conseguindo se estabilizar financeiramente e podendo desfrutar de recursos que facilita a vida em todos os aspectos.
Mas nem sempre a história é assim.
Muitos deficientes não têm cadeira de rodas para se locomover. Aqueles que precisam trabalhar dependem da boa vontade alheia para tomar uma condução. Os que lutam na justiça pelos seus direitos de cidadão que não são respeitados pelos governantes e para garantir os medicamentos. Ouvimos falar em direitos humanos e porque não começar a pensar em DEVERES HUMANOS. A realidade é dura só quem convive é que sabe. Infelizmente não só os deficientes como as pessoas humildes que seguem sem saber o que esperar. Só Deus para não perder as esperanças.
PS Alex Cadeirante e Jr. Rodoval Tetraplégico. Amigos são pessoas como vocês que faz toda diferença, meu carinho e respeito a todos os DF.
DIVULGEM: Doações de cadeiras de rodas para os deficientes que não podem comprar. Igreja de Santo Expedito Tel. (21) 2270-7464 Penha /RJ Procurar o padre Geraldo, as doações acontecem nas missas das 10:00 hrs sábados e domingos. É NECESSÁRIO SE CADASTRAR.