A despedida
Naquela sexta-feira, acordei estranho. A ansiedade tomou conta do meu mundo. Tantas vezes eu encontrava-me com ela. Na verdade a natureza daqueles encontros era meio estranha. Ela era minha namorada mas pouco ou nada sentia eu em relação àquilo. Na verdade tudo era estranho até mesmo a forma como a conheci. Ela era definitivamente o tipo de mulher que um homem procura. Era sem dúvidas a mulher perfeita ou pelo menos tentava ser. Quando a conheci naquela manhã de verão na praia não imaginava que ela fosse entrar e envolver-se daquele jeito na minha vida. Apaixonei-me quase que instantaneamente. Meses se passaram e levei-lhe para casa para que todo mundo a conhecesse.
O tempo foi passando. Dois anos. Lá estávamos nós com um relacionamento desgastado com o tempo que resistia apenas pela paciência dela. Naqueles dois anos eu fui dos homens o mais infiel, o mais falso, o mais cobarde e sem dúvidas o mais amado. Inúmeras vezes faltei com respeito a minha amada. Quantas vezes não pedi um tempo mas ela sempre me implorava para voltar? A dependência dela era um porto seguro para mim. Sabia que podia varrer toda cidade e voltar para casa. Ela sempre estaria lá esperando por mim cheia de amor para dar. Mas naquela tarde tudo estava diferente. Eu não me sentia mais herói. Sentia-me culpado de todo o mal que havia feito. Queria mudar. Sentia que precisava fazer algo para resgatar o amor daquela jovem que tudo dava por mim.
A campainha tocou. Era ela. Meu coração congelou. Fiquei imóvel por minutos depois de abrir a porta. Ela estava simplesmente linda. Há muito tempo que não a olhava como mulher. Aquele sorriso andava escondido e de súbito ela voltara a sorrir. Sempre que ela viesse ver-me passávamos a tarde deitados na cama discutindo a relação ou dormindo um virado para o seu lado da cama. Naquele dia ela estava diferente. Fez-me muitos carinhos. Conversamos muito. Ela ofereceu-me uma correntinha da sorte. E beijou-me. Aquele beijo podia durar toda eternidade. Senti-me aliviado. Ainda tinha o amor dela. Envolvemo-nos em beijos e carícias suaves. Relembramos os bons momentos. O calor dos abraços dela me envolvia cada vez mais. Ela entregou-se a mim de um jeito estranho. Em dois anos de namoro nunca havia a sentido tão inteira, tão verdadeira. Passamos a tarde em beijos e amores. Não a havia perdido. Para mim aquele era um recomeço. Eu estava disposto a corrigir os meus erros. E o faria a partir daquele momento
Como de costume ela levantou-se e disse que já se ia embora. Levantei-me em seguida e preparei-me para acompanha-la. Há muito tempo que não fazia aquilo. Normalmente acompanhava-a até a porta e reclamava de cansaço e voltava à casa. Mas naquele dia fazia questão de andar com ela de mãos dadas na rua. Saímos juntos caminhando devagar. Parecíamos dois pombinhos em lua-de-mel. Ela era linda. Como pude maltratar aquela doçura de mulher? Chegamos a paragem do autocarro e ficar sentados num banco a espera que chegasse o carro dela. Era mágico. Eu me sentia uma criança. Estava feliz. Lá ao fundo ouvimos o autocarro aproximar-se. Ela pegou na minha mão. Fitou-a. Deu-me um beijo apaixonado. Correspondi apaixonado. Depois ela sussurrou no meu ouvido:” - Amo-te! Mas esta foi a última vez que estivemos juntos como namorados. Acabou.”
Incrédulo segurei a pelo braço. Implorei que ficasse. Mas ela levantou-se e entrou no autocarro e eu fiquei imóvel no meio da paragem saboreando do meu próprio veneno.