REENCONTRO

Conseguiu despistar as amas que Arthur havia colocado para segui-la. Viu-as ao longe chamando e correu em direção ao que pareceu ser um pequeno bosque, provavelmente parte do jardim. Sentia-se sufocada com tanta atenção e simplesmente não conseguia acostumar-se com aquilo. Precisava de um tempo para colocar suas idéias em ordem e

pensar em como encararia a vida.

Sentou-se no chão, tentando ajeitar os metros de tecido que a cobriam. Seus seios estavam doendo de tanto que estavam presos pelo apertado espartilho e sentia-se cansada de carregar o peso do vestido. Sem duvida aquelas roupas de princesas eram mais desajaveis quando vistas num conto de fadas do que quando vestidas.

Achou o feixo das saias e abriu-o, sentindo aliviada ao ver-se só com saia inferior. Subiu-as um pouco vendo suas pernas vermelhas. Estavam estremamente palidas por falta de sol.

Deitou-se na grama, o sol da tarde cegando sua visão por alguns instantes. O espartilho espetou-a nas costas e ela imaginou se conseguiria po-lo de novo caso o tirasse. Desfez o nó do espartilho sentindo o ar invadindo seus pulmões. Era um alivio.

Fechou os olhos sentindo sonolencia. Desarrumou de leve as tranças antes de voltar a refaze-las. Demorou-se olhando os longos cabelos negros. Ainda se sentia desconfortavel com aquele corpo, como uma intrusa que de repente é descoberta. Penteou os cabelos, deixando seus pensamentos voarem. Uma tranquilidade que ela não podia ter mas que

fazia muita falta afinal.

Sentiu-se incomodada de repente. Imaginou se havia sido encontrada pelas amas, mas estava tudo em silêncio. Levantou a cabeça, espreitando. Tudo estava quieto, de um modo quase perigoso. Puxou as saias do vestido cobrindo-se com dificuldade. Estava apenas um pouco longe do castelo, mas sabia que ali, vestida naqueles trajes ela estava

nua, e seria realmente complicado se alguem a visse daquela maneira.

- Mostre-se logo. -disse impaciente encarando um ponto a alguns metros.

Um jovem saiu de tras de uma pedra parecendo divertido. Ela sentiu-se afundando como nunca sentira antes. Tudo nele era incrivelmente familiar. O sorriso debochado aqueles cabelos e o rosto redondo. Ele era igual a Luke, seu primo. Era uma confirmação de que todos tinham razão e todas suas lembranças não passavam de sonhos. Puxou com mais

força escondendo-se e afastou-se encostando em uma arvore.

Seu coração batia insistente, como lhe avisando. Ela sentia-se tonta. Era um aviso para ter medo? Não era ela a mais poderosa rainha?

- Rose. -ele aproximou-se dela com passos lentos. Cada vez que seus pés batiam no chão ela tentava afastar-se mas só afundava na arvore. Ele tirou a capa que o cobria e jogou ao seus pés. Ela levantou os olhos encarando-o e tentando se levantar. Juntou toda sua coragem e pôs-se de pé largando a pesada saia. Sabia que ter medo não adiantaria

em nada. Tirou os cabelos que caiam no rosto com uma mão e tentou parecer confiante.

Suas mãos tremiam, num misto de medo e reconhecimento.

- Você está com medo? -ele pareceu terrificado. Afastou um passo atrás como a provar a ela que era confiavel -É verdade que perdeu toda a sua memória?

- Luke. -ela disse quase automaticamente. Suas mãos se estenderam em direção a ele. -Quem você foi para mim?

- Quem eu fui? -ele riu para esconder o nervosismo. -Não sei . Acho que apenas uma desilusão.

-Eu o amava, Luke? -ela assustou-se com a própria pergunta. Mas era verdade. Olha-lo fazia sua cabeça rodar como se tentasse lembrar-se. -Sabe, antes de minha suposta morte.

-Acho que sim. -ele abaixou-se com cuidado e sentou-se, puxando-a a junto sem muita delicadeza. -Você nunca me disse, mas eu sempre achei que sim.

-Que pretencioso. -riu, sentindo-se mais relaxada. -Se eu nunca disse como poderia achar que eu o amava?

- Você agia como se amasse. -pareceu perdido em alguns pensamentos. - Eu não posso ter certeza afinal. Mas você me disse uma vez que se não fosse tudo, você ficaria comigo.

Encararam-se envergonhados. Ela sabia sobre o que ele falava. Supostamente ela era casada e tinha uma filha. Mas a tensão entre eles era palpavel e ficava impossivel não perceber que houvera algo entre eles. Ele não fez perguntas, nem sobre sua morte nem seu reaparecimento. apenas contou-lhe um pouco sobre como levava sua vida. Era um professor, ele contou divertido, de uma pequena cidade em que ninguém ligava ou sabia muito sobre seu passado. Também não lhe disse qual era seu passado.

- Eu ficou feliz que esteja bem Luke. -ela deu-se a liberdade de tocar de leve seu rosto -Mesmo não sabendo por que eu sei que você tem muita coisa a compensar.

- Eu queria que pudessemos ficar juntos agora. -ele encostou de leve seus labios nosdela. Era um beijo de despedida -Você não conseguiu descansar como queria quando me pediu para...

-Eu lhe pedi para me matar, Luke? -não havia medo em sua voz. ela continou alisando com os dedos os contornos de seu rosto. Ouvia as vozes se aproximando e queria ficar o máximo possivel junto com ele.

- Pediu. -beijaram-se novamente, sem nenhuma pressa, apesar de estarem quase sendo pegos. - Você achava que poderia descansar. Eu queria você comigo, mas sabia que você precisava.

Ele levantou-se com pressa quando os passos se aproximaram. Seria vistoprovavelmente mas conseguiria fugir. Arrumou-se o máximo que podia. não que ligassese achassem que estava fazendo algo com ele. Ele correu sem virar-se. Ela sentiu seu coração contrair-se e então explodir novamente. Sua garganta estava seca, mas ela não chorava.

-Magestade! -um soldado aproximou-se gritando, parecendo preocupado.

-Eu estou bem. -disse sem convicção.