O Beijo I

A noite estava quente e calma, Carla saiu para dar uma volta. Ao atravessar o parque e chegar ao pier, não acreditou no que viu, Fernando estava conversando com uma garota. Parou e ficou observando os dois: sentiu suas mãos gelarem, o chão sumiu, e a garganta ficou embargada, ficou sem ação com aquela cena e pensou:

"Será que Nando está interessado na garota que acabou de chegar na cidade? O que vai acontecer com a nossa amizade?"

Ela deu meia volta e caminhou pela orla, a lua estava cheia, inspiradora para os poetas, talvez até para um casal apaixonado. Carla não conseguia desviar seu pensamento de Nando e nem daquela cena desagradável.

Todos os dias Nando e Carla faziam um breve resumo de seus dias, ele sempre esteve muito presente em sua vida. Quando sua mãe morreu, ele não largou sua mão por nada. No dia em que seu pai foi preso, Nando quem lhe deu a noticia. Era um pai ausente, mas Carla nunca o criticou ou sentiu-se solitária, ela tinha Nando.

Sentou-se no banco e ficou pensando em coisas que nunca disse a Nando, mas que seu coração já sentia a um bom tempo. Sentiu uma mão acariciar seus cabelos, quando olhou para tráz Nando estava ali, sorridente e presente. Os dois caminharam pelo parque e pararam no balanço. Ela sentou-se e Nando a empurrou carinhosamente. Carla fechou os olhos e sentiu aquela brisa suave tocar seu rosto. Nada precisavam dizer, Nando sentou-se no balanço ao lado e olhou nos olhos de Carla. Os dois estavam tão próximos que um beijo desejado e ardente poderia acontecer. Carla desejou sentir o gosto quente da boca de Nando, desejou aquele frio na barriga, desejou ouvir sua respiração ofegante, mas ainda é só um sonho, um desejo.

Os dois amigos seguiram pela orla em silêncio de mãos dadas como sempre faziam até a casa de Carla:

- Te vejo amanhã no colégio. Nando deu um beijo no rosto de Carla e seguiu para sua casa.

Carla ficou observando Nando se afastar e mais uma noite nada aconteceu.