SÁBADO EM COPACABANA

O patrão aquele dia estava mais irascível que nunca, as horas pareciam não passar. Os colegas pareciam mais burros que de costume, não acertavam nunca, estavam sempre errando alguma coisa. O tempo como que tinha parado.

Rui olhava ora para o seu relógio de pulso, ora para o relógio digital da parede, querendo que o tempo voasse, mas hoje ele parecia estar a passos de tartaruga!

Ele havia conhecido Amanda pela Internet, numa comunidade do Orkut para os fãs de uma banda de rock. Conversaram durante dois meses pelo MSN, trocaram milhares de correios eletrônicos e foram descobrindo afinidades nunca partilhadas com outras pessoas. Trocaram fotos, Amanda era uma linda garota de cabelos loiros e um sorriso franco, e Rui era um rapaz comum, de 20 anos, cabelos pretos e barba cerrada.

Passavam as horas livres on line, conversando, trocando confidências, conhecendo-se. Muitas vezes, varavam madrugadas na conversa virtual. Por várias vezes Rui pediu o número de telefone de Amanda, que desconversou, dizendo que era problemático, ou que não tinha telefone celular... Rui ficou apreensivo. Afinal, hoje em dia quem não tem telefone celular? Mas o prazer de conversar com a garota pelo computador e as madrugadas compartilhadas faziam com que ele aceitasse as evasivas e as desculpas.

Com o tempo, foi se tornando insuportável o desejo de conhecer a moça, que sempre se esquivava de um telefonema e muito menos de um encontro. Quando Rui manifestou desejo de comprar uma webcam e sugeriu que ela também comprasse uma para que eles pudessem se ver pelo menos pelo monitor, Amanda ficou uma semana ser conectar-se, quase matando o rapaz de ansiedade.

Conversando com alguns amigos, Rui foi alertado sobre a estranheza do comportamento da garota.

- Vai ver, ela é horrorosa!

- Aí tem !

- Se fosse eu, eu a excluía da minha lista do MSN, da lista de e-mails e da lista de amigos do Orkut.

Mas no sábado, às onze da noite, Rui viu que Amanda estava on line. Iniciou a conversa no MSN.

- Oi. Blz?

- Blz.

- Está em ksa?

- Estou.

- Pq vc sumiu? To com saudade...

- Fui viajar.

Conversaram por várias horas no dialeto próprio das conversas virtuais, e vararam a madrugada. O rapaz a questionou quanto ao fato de ela não querer dar o número do telefone, nem marcar um encontro. Ela respondeu que era muito tímida. Ele insistiu, dizendo que seus amigos já estavam desconfiados com tanto mistério. Ela disse que realmente era tímida, mas que ia pensar, talvez marcassem um encontro.

Continuaram a se falar no MSN durante umas duas semanas, o rapaz sempre insistindo em um encontro, ou pelo menos o número do celular, mas a garota se esquivava sempre, alegando timidez, viagens e outras desculpas.

Finalmente, depois de seis meses de conversa virtual, Rui já estava completamente apaixonado por Amanda. Deu a ela um ultimato: ou a gente se encontra, ou não quero mais falar com você!

Ela concordou com um encontro. Marcaram em Copacabana, num bar à beira-mar.

Ao chegar ao escritório, Rui contou aos seus colegas que havia marcado o encontro. Foi um alvoroço.

Logo o Marcílio, que era músico, lembrou da música de Dorival Caymi e começou a cantar para mexer com Rui:

Depois de trabalhar toda a semana

Meu sábado não vou desperdiçar

Já fiz o meu programa pra esta noite

E sei por onde começar

Um bom lugar para encontrar: Copacabana

Prá passear à beira-mar: Copacabana

Depois num bar à meia-luz: Copacabana

Eu esperei por essa noite uma semana

Um bom jantar depois de dançar: Copacabana

Um só lugar para se amar: Copacabana

A noite passa tão depressa, mas vou voltar lá

A semana demorou para passar. Finalmente era sexta-feira. Os amigos resolveram fazer uma surpresa para Rui e o levaram para sair para uma bebedeira, mas ele estava tão ansioso que quis voltar cedo para casa.

Durante a semana ele havia conversado com Amanda no MSN e acertaram os detalhes para o encontro. Ele iria encontrar-se com ela vestindo uma camiseta salmão e jeans, e ela estaria com um mini-vestido preto.

Finalmente, chegara o grande dia! Como Rui trabalhava sábado até o meio-dia, não via a hora de os ponteiros se encontrarem para ele sair, pegar sua moto e ir até sua casa, onde esperaria chegar a noite na maior ansiedade.

Depois de uma espera insuportável, chegou a noite. Chovia muito. Rui tomou um táxi e foi em direção a Copacabana, em meio a um trânsito caótico. Mal conseguia conter a ansiedade, roendo as unhas e mordendo os dedos.

O táxi parou em frente ao bar combinado. Rui desceu e correu sob a chuva, entrando e sentando-se a uma mesa. Pediu uma bebida, e ficou olhando para a rua, esperando a chegada de Amanda.

Um táxi parou, e dele desceu uma moça linda, estonteante, com um mini-vestido preto. Ela correu do carro até o bar, e logo começou a olhar entre as pessoas sentadas na mesa.

Rui se levantou e foi em sua direção. Ela imediatamente o reconheceu. Foi um abraço quente e prolongado, um beijo ardente e depois, olhos nos olhos, cheios de paixão.

Sentaram-se e ficaram conversando, conhecendo-se, compartilhando as coisas em comum. As horas passaram. Em torno da uma hora da madrugada, Amanda começou a ficar impaciente, olhando no relógio.

- Que foi?- perguntou Rui, preocupado.

- Preciso ir embora. Agora.

- Por que? E você ainda não me contou porque relutou tanto em encontrar-se comigo, e porque sumiu naquela época...

Amanda olhou nos de Rui e respondeu:

- Não posso ficar com você. Queria muito te conhecer, queria muito ficar com você, mas não posso!

- Mas por que? Não estou entendendo!

Mas Amanda correu até a rua, enquanto Rui agilizava o pagamento da conta. Quando ele chegou à calçada, ela não estava mais lá. Só viu as lanternas traseiras do táxi que a levava.

Rui ficou horas andando pela areia da praia, ora chorando de raiva, ora se perguntando o porquê.

O tempo passou, e nunca mais Rui soube de Amanda. Ela saiu de sua lista do MSN e deletou sua página no Orkut.

De vez em quando, Rui voltava ao mesmo bar de Copacabana onde havia conhecido aquela que imaginara ser o grande amor de sua vida...

“Aqui neste mesmo lugar

Neste mesmo lugar de nós dois

Ninguém poderia pensar

Que eu voltasse sozinho depois

O mesmo garçon se aproxima

Parece que nada mudou

Porém qualquer coisa não rima

Com o tempo feliz que passou...

Por ironia cruel

Alguém começou a cantar

O samba-canção de Noel

Que viu nosso amor começar

Só falta agora a porta se abrir

E ela ao lado de outro entrar

E por mim passar, sem me olhar.”