Além das colinas e mais além
As grades cinzentas, combinadas com as paredes úmidas, faziam-no sentir uma opressão sem tamanho. Era por isso que ele estava ali: para ser castigado como um criminoso que não era.
Cristiano estava atirado sobre o catre da cela, enquanto pensava nisso.
As cartas de Iolanda estavam espalhadas ao seu redor. Ele as relia todos os dias, seguindo com os olhos as linhas traçadas em tinta preta pelas mãos brancas e delicadas da moça. Esse ritual fazia com que se lembrasse dela: seu rosto delicado, seus cabelos negros e suavemente anelados e seus olhos de gato.
Suspirou. Como queria tê-la nos braços, sorvendo beijos de seus lábios rubros, doces como morangos silvestres.
E estaria fazendo-o, não fosse o maldito acaso que o trancafiara naquela prisão, sem motivo. Tudo fora um mal entendido e ele sabia ser o grande culpado de sua desgraça.
Estava fora de casa quando o roubo aconteceu, mas a arma do crime foi encontrada em seu apartamento, na pensão em que morava. Logo foi ligado ao crime e detido
Não tinha álibi: passara a noite com a mulher do melhor amigo, antiga paixão que lhe prometera muito naquela noite, e prometera não contar nada a ninguém, afinal, comprometeria para sempre a honra da mulher.
Revelou a verdade apenas a Iolanda, depois de estar preso havia um mês e não aguentar mais ver a desconfiança nos olhos da amada. Assim que soube do motivo de ele estar ali, ela o esbofeteara e gritara, saíra furiosa e corando da prisão e não tornou a vê-lo, mas passou a lhe enviar cartas. Uma delas elucidou que o seu amigo, em parceria com a mulher, arquitetara aquele plano, tão perfeito e sórdido, para que ele fosse culpado, pelo latrocínio cometido pelos dois.
Agora, nada mais ele dia fazer além de se culpar por ter caído na armadilha e rezar para que Iolanda o esperasse, pois sem a perspectiva de ter seu perdão, esperar não teria sentido e a morte seria sua melhor amiga.