=Trajetória 4 =

Obrigado amigos, pela paciencia em ler-me. Beijos em suas almas.

PARTE 6

“Devemos nos preparar a cada dia,

para as coisas boas

e más”.

O diretor da nossa empresa estava com a saúde bastante abalada. Ele veio a nós, pedindo que elegêssemos, dentre nós, aquele que seria seu sucessor. Meu amigo Ricardo seria, talvez, o indicado. Era jovem, talentoso, ambicioso e justo. Além do mais, todos o respeitavam. A doença não deu chance ao velho amigo e diretor; ele morreu meses depois, deixando uma grande saudade. Como era previsto, Ricardo assumiu o seu lugar. Sendo ele uma pessoa justa e honesta, colocou meu nome junto à diretoria pedindo a eles que me promovessem, assumindo, assim o seu antigo cargo. Foi logo aceito. Assim, consegui mais uma promoção em minha vida. A alegria em minha casa foi geral, meu salário dobrou, tornei-me importante na empresa.

O Natal se aproximava. Ricardo resolveu fazer uma grande festa de confraternização. Convidou todos os amigos, colegas de trabalho e parentes. Contratou bufê, uma pequena orquestra, iluminou toda a casa, comprou presentes, para os filhos dos funcionários. Era uma grande festa, tudo foi devidamente planejado, para que o espírito de Natal reinasse em cada coração. Suélen, as crianças e eu fomos à festa. Estávamos felizes e deslumbrado com tamanho requinte. Houve, troca de presentes, abraços fraterno. A pequena orquestra emocionava a todos com suas músicas natalinas. Meia-noite. Ricardo estourou o champanhe, enchendo todas as taças, para, juntos, brindarmos. Recusei o brinde com champanhe, o murmúrio foi geral. Alguns perguntavam:_ Que mal pode haver, em uma só taça, de uma bebida tão fraca? Insistiram tanto, que peguei minha taça com o coração apertado. Com medo, pude lembrar-me do bom velhinho:_ Filho, uma vez alcoólatra, sempre alcoólatra. Qualquer alcoólatra consegue evitar o primeiro gole, mais nenhum consegue evitar o segundo, o terceiro!!! Com medo de fazer feio, medo das críticas, peguei minha taça. Nesta hora, fui aplaudido. Eu só ouvi aquelas sonoras palavras: “é isso aí, cara”. Brindamos, eu bebi em um só gole. Dizem que: “Em cada gole de bebida alcóolica, existe, lagrimas de esposas, e sorriso de filhos.” A bebida era muito boa; assim eu busquei outra, mais outra, daí em diante, não foi preciso oferecer, eu mesmo tomei a liberdade de me servir e bebi a noite toda. Dia seguinte, pouco me lembrava da noite anterior. Olhei para o outro lado da cama, ali estava Suélen, chorando copiosamente. Perguntei o que houve ela relutou em falar. Com minha insistência, começou a falar, num soluço de fazer pena. Ela disse:_ Você não se lembra de nada, nem do vexame que nos fez passar; você falou milhares de besteiras, cantou no palco, caindo sobre os instrumentos, depois, urinou na roupa. Tentei conversar com você, mas, para fazer graça, jogou-me dentro da piscina. Os meninos, desesperados, com vergonha, não conseguiram nem mesmo trazer os seus presentes. Você tem consciência do Natal que você nos proporcionou ? _Meu amor, me perdoe. Falava com o rosto entre as mãos, com uma vontade enorme de que o chão se abrisse e eu caísse lá dentro, assim, não teria que encarar as pessoas. _O que vou fazer de minha vida? Como vou encarar você, meus filhos e meus colegas? Meu Deus, ajude-me, esta não é a vida que escolhi para minha família. Os dias passaram a duras penas, fui obrigado a encarar, um por um. Uns riam de mim, outros me gozavam; houve pessoas que acharam o fato normal. Seguiram-se os dias, o ambiente em minha casa ainda estava tenso e eu começava a entrar em depressão. Certo dia, quando saía de meu trabalho, encontrei um velho amigo de infância, Geraldo Ele estava todo sujo, mal cheiroso. Era, realmente, um mendigo. Constrangido, resignado, contou-me toda a sua triste história; verdadeira ou não, isto pouco importava. Eu estava tão carente de amizade, que o convidei a tomar um drinque; foi o mesmo que oferecer lingüiça a um cachorro faminto. Travava-se, naquele momento, uma terrível batalha, entre o bem e o mal. _Será que eu bebo? Pensava. Prometi à minha esposa que jamais voltaria a beber. Enquanto o garçom servia a bebida, eu buscava justificar o meu comportamento. Não me apercebera, entretanto, de que me tornara, naquele momento, o maior advogado da bebida alcoólica. Bebemos um litro de conhaque; pedi mais um litro de aguardente, e saímos pelas ruas abraçados, com um litro na mão, rindo como dois tolos, ou dois bêbados. Fomos, madrugada a dentro, em busca de meu doce e infeliz lar. Quando chegamos, Suélen veio nos receber aflita. Havia ligado para a polícia, hospital, até mesmo para o I.M.L, à minha procura. Eu não estava valendo a sua preocupação. Esperava que Suélen nos recebesse com um largo sorriso, pois, afinal de contas, era eu que sustentava a casa. Também fora eu que a desencalhara, na verdade, pensava eu, ela esta é pegando o boi de ter se casado comigo. Suélen, depois de servir-nos o jatar, embora com o coração partido pela tristeza, arrumou a cama de meu amigo, depois voltou para ajudar- me a tomar banho. Jesus, como sofre a mulher de alcoólatra! Dizem que, “casar com um alcoólatra, é matricular-se no inferno”. Ao acordar de manhã, é que pude compreender o significado. desse ditado. Com o quarto mal cheiroso e todo vomitado, ali estava Suélen, de joelhos ao chão, tentava limpá-lo, rapidamente, para que as crianças não percebesse o estado deplorável que eu havia chegado. Mais uma vez, prometi a ela, nunca mais beber. Deus era testemunha, do quanto estava sendo honesto, só que promessa de cachaceiro não dura o dia inteiro.

Dias, meses e anos se passaram, e nossas vidas tornavam-se mais difíceis; meu alcoolismo furtava nossas alegrias. Certa manhã, quando cheguei para trabalhar, fui chamado à sessão pessoal. Chegando lá, recebi minha carta de demissão, por justa causa. Tentei reverter a situação, humilhei-me, implorei compreensão, mas nada adiantou. Não restando outra saída, com meu orgulho ferido, gritei bem alto mandado pegar aquela empresa enfiar naquele lugar.

PARTE 7

“Sem humildade o homem

em seu orgulho consome

restando apenas a solidão”

Voltei para casa revoltado, os nervos à flor da pele. Desejava que aquela firma desse com os burros na água, pois eu era o cérebro da empresa ( só em meu pensamento ).Chegando a casa, encontrei Suélen, com várias contas vencidas nas mãos. Percebe logo que ela não estava nada amigável, gritava e xingava, desesperada. Eu nunca tinha visto tão brava. Seu estado nervoso a fazia violenta. Parecia muito mais um vulcão em erupção. Por várias vezes, tentou agredir-me, fisicamente. Naquele momento, perguntei-lhe:_ Por que tanta agressividade? Afinal de contas, eu nunca deixei vocês passarem falta de nada, sempre dei conforto, e uma mesa farta. Quanto mais eu me justificava, mais brava ela ficava. Por fim, ela perguntou-me:_ Você acha que barriga cheia, moradia, carro, conforto são suficientes para tornar uma família feliz? Não adianta tudo isso, quando é o nossos corações estão carentes. Pedi por socorro e onde estava aquele bom homem, que escolhi para marido? Santo Deus! Dele, você não é nem mesmo a sua caricatura; na verdade, eu não estou agüentando mais. _Eu não lhe peço muito, continuou ela; quero um pouco de carinho, quero apenas o direito de sonhar, de sentar-me junto de você, poder simplesmente admirá-lo, como era antes, com um choro compulsivo, abraçou-me molhando o meu ombro, com a lagrimas de seu sofrimento. Os dias se passavam, o dinheiro cada vez foi ficando mais escasso. As contas multiplicavam-se como erva daninha; o crédito, as contas bancárias, o carro, tudo fazia parte do passado, meu alcoolismo crescera assustadoramente. Certa manhã, acordei e tive uma grande idéia. Corri para Suélen, pois queria dividir com ela minhas esperanças. Então eu disse: _Vamos vender a nossa casa; com o dinheiro que conseguirmos, comprarei um caminhão. Se sobrar algum dinheiro, compraremos um barracão modesto, até controlarmos a situação. Travamos, durante muitos dias, verdadeiras batalhas; várias vezes repeti a mesma história, até que, vencida pelo cansaço, Suélen concordou, mas logo tratou de me prevenir: se der errado, eu deixarei você. E assim foi feito; vendemos a casa; com o dinheiro, paguei parte das dívidas, comprei um barracão, na periferia da cidade, um bom caminhão e transferimos as crianças para uma escola pública. Parecia que a vida tomaria novo rumo. Eu não estava bebendo, com o lucro que o caminhão me dava, fazia nossa despesas. Suélen lavava roupa para fora e o que ganhava, ajudava, em muito, em nosso orçamento.

Após oito meses de luta, já estávamos acreditando que a vida, voltava a sorrir para nós. Até que um dia, foi fazer uma viagem no interior de São Paulo. Chegando lá sem maiores problemas, descarreguei o caminhão. Quando estava preparando-me para voltar, chegou um senhor, com uma aparência distinta e perguntou-me se eu podia fazer sua mudança para Minas. Disse-me que pagaria duas vezes mais do que eu havia ganho. Com a maior alegria, fomos à sua casa. Em pouco tempo, carregamos o caminhão e pegamos a estrada. Chegamos ao nosso destino sem problemas. Descarregamos a mercadoria e percebe então que furara um pneu do caminhão. Chegando a casa, fui recebido com a maior alegria pelas crianças e também por Suélen. Contei a elas toda a viagem. Como dei sorte, conseguindo uma carga de retorno, com aquele dinheiro, pagaria todas as nossas dívidas.

Pedi à Suélen que preparasse um belo jantar para comemorar o nosso sucesso. Enquanto preparava o jantar, fui à borracharia arrumar o pneu furado. Chegando lá, encontrei dois colegas de estrada, Batista e Márcio. Este abril a gaveta de seu caminhão, tirou uma panela, armou sua cozinha e começou a fritar torresmo. Pegou também uma garrafa de pinga, começou a comer e bebericar uma doze. Batista foi até seu caminhão, pegou um violão, começou a tocar e a beber. Márcio pegou uma boa lambada de cachaça e um tira-gosto e trouxe para mim. Agradeci a oferta e falei para ele que não estava bebendo. Ele insistiu :_ Bebe, rapaz, esta é lá do norte: Uma dose só não mata ninguém. Amigo, caminhoneiro que não bebe, não é caminhoneiro. Peguei o copo, sem pensar muito, joguei a pinga na garganta, comi o torresmo. E ali estava eu outra vez a mercê do rei álcool. Ao som do violão, relembramos dos bons e maus momentos; entre uma música e outra. Bebíamos, sem nos dar conta, de estávamos a cada momento mais bêbados. ‘A cada dose que bebíamos tirávamos gosto com a responsabilidade.

Finalmente, o pneu ficou pronto. Paguei o conserto e despedi-me dos amigos, tomando o caminho de casa.

A minha embriaguez era tão grande, que não conseguia concentrar-me no trânsito. Quando cheguei a um cruzamento, não percebe um veículo que cruzava em alta velocidade e a colisão foi inevitável. O motorista do outro veiculo ficou gravemente ferido; a polícia chegou ao local e fui detido. Tive que arrumar um bom advogado. Resultado: perdi todo o meu dinheiro, por fim, perdi meu caminhão... Continua...

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 29/07/2010
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