"" Eu na cadeira de balanco e apenas  IMAGINANDO ""

               
                 ...e eu, ja' agora velho e alquebrado, chegado que estou nos meus quase noventa anos,  e com os olhos fechados, sozinho aqui neste meu quarto no ''abrigo'' de velhos onde me colocaram, sentado em um cadeira de balanco que 'a alguem pertence, a minha cadeira de balanco nao e'...a minha tinha, tinha...nem sei onde ela esta' agora, apoio dos bracos todo '' enrolado'' como a casa do caracol e tinha cor da madeira nobre, natural, do carvalho, vermelho, que bonita que era minha cadeira...onde estara'? quem nela agora sentara'?...que faca bom proveito como eu fiz...amava minha cadeira assim como amava quem a me deu...Maria.

              ...e continuo de olhos fechando e ouco passos , abro os olhos e vejo dois homens carregando uma cadeira de balanco e Maria rindo os recebendo e 'a mim dizendo :-

               Zezito larga a pena e a caneta, pare de escrever por uns poucos minutos e venha receber seu presente, sua cadeira de balanco, onde quer que a coloquem?

              Perto da janela grande da biblioteca Maria, por la' bate logo cedo a luz do sol e vai durando o dia todo, e' quente por la'...

              E por la', perto da janela grande da biblioteca, onde tenho minha mesa, meus papeis, meus tesouros, meus amigos, minha cadeira que recebi de presente de Maria, foi colocada, e por la' ficou ate' que tudo...tudo mesmo, a casa e tudo que nela continha foram vendidos, leiloados e tudo ficou '' acabado...

              E os filhos ja' tinham ido cuidar da vida, Maria foi cuidar da vida dela la' com o criador Maior e fiquei eu neste casarao, imenso, vazio, gelado, sem gritos e sem correrias....e entao resolveram...vai para um '' lar'', lar do velhinhos...e ca' estou, de olhos fechados pensando, pensando....

              ....e vejo cores, muitas cores, profusao de cores, e a primeira delas, o dourado, o amarelo dourado que e' com ele que estou vestido, minha cabeca esta' coberta com tecidos desta cor e minha calcas tambem, e vejo a cor '' maravilha'' que o lindo corpo dela cobre, como ela fica bem, fica linda nesta cor maravilha e no caleidoscopio das cores vejo aqueles que me sao '' caros'', aqueles a quem eu amo...vejo meu pai, vestido de azul, azul celeste com sua cabeca coberta de dourado, sinal de grande '' dignatario'''...que luxo, que pompa!!!

              ...e sei, nao sei como sei, mas sei, e'  '' nosso '' dia , o dia mais esperado, quando ela seria minha e eu seria dela e ao pensar assim, sentir assim....o aroma das flores sendo pisadas por mim, pesados pes'...e por ela, delicados pezinhos que mal deixa sinal nas flores...e elas, as flores, como em um ultimo suspiro '' exalando'' seus perfumes...e eu sinto o aroma delicado, incensos, cantos e murmurios e barulho de agua caindo em uma fonte proxima...agua, agua, fonte de vida!!!! e musica, musica....

             ....catracas, pandeiros, barulhos de tambores, barulho de festa, de alegria..e eu olhando mais de perto o corpo '' escultural'' dela...que linda!!! e suas roupas e suas cores e ao se virar tudo reluzia, tudo cintilava , me atraia...e escuto barulho de seus colares batendo uns contra aos outros, suas pulseiras de ouro, suas ''candeias'' nos tornozelos como que me chamando...'' vem....vem ..'' e eu ia...eu fui....e assim se mostrando 'a mim, dancava tirando veus, languida, serena, calma e a mim se achegando, de manso, de mansinho me enlacando...me atraindo, me consumindo....

             Cores...benditas cores, lindas e alegres em um povo que faz das cores das roupas alegria de viver...demonstrando isto com seus corpos morenos...e eu ouvia sinos tocando e alguem nos abencoando e agora eramos '' marido e mulher'', macho e femea loucos de amores um pelo outro...fomos destinados a ser assim antes mesmo de nascer.....nossos pais assim pensavam que seria, eles pensavam...e nos queriamos mesmo...eu a conheci, tinha 13 a primeira vez que a vi...eu tinha 14, ela era linda eu era um '' sapo'' feioso por quem ela se apaixounou...e como eu nao a amaria?

              E eu a amei por toda a vida, e ela a mim...deu-me filhos, deu-me netos, deu-me bisnetos e estava quase me dando ''tataranetos'' quando se foi e todas a luzes  e cores dentro de mim foram se findando....e eu vou vendo as luzes e cores se afastando, afastando...e todo dia e' assim...

              E' so me colocarem na cadeira de balanco que nao e' minha, mas eu fingo que e', fingir e' bom e faz viver de novo. que tudo volta....luzes, cores alegrias, festas e harmonia....

            Agora foi assim, eu era um filho de Maraja', na India.

            Ontem? ahhhh ontem!!! eu era o filho de um cacique Tupi-Guarani, orgulhoso cacique e que tinha orgulho de seu filho todo enfeitado de penas coloridas e de sua noiva prometida antes mesmo de nascer....e as quedas d'aguas fazendo barulho e lancanco arco-iris ao ar...e os gritos dos guerreiros ecoando pela selva intocada....ahhhh Iracema!!!! a dos olhos verdes cor da esmeralda...ahhhh!!!

            E antes de ontem? Um filho de um chefe cigano..podem imaginar? quantas luzes, cores e dancas, fogos e festas? daquelas que duram treis dias?....ahhh!!!

            E tem sido sempre assim....indus, caciques, ciganos, corte francesa, inglesa, e ate' principe maia e azteca ja' fui...amanha?

            Amanha sera' o hoje que chegou...o que serei nao importa, importa e' saber que serei '' um outro alguem''...e com ela de novo estarei!!!!


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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 28/07/2010
Reeditado em 29/07/2010
Código do texto: T2404708