PROCURA
Marcos saiu correndo. Ninguém entendeu direito o que estava acontecendo. Ele correu muito, por muito tempo, até que chegou próximo da praça central. Olhou para um lado, para outro lado e nada. As pessoas em volta olhavam curiosas. O que queria aquele pobre rapaz? De tão pálido, Marcos lembrava aqueles personagens de ficção, que fazem filmes de vampiros. Ele era alto, magro e tinha um par de olhos de um azul quase sem cor. O que afinal aquele pobre rapaz procurava com tanto desespero? Bom para entender, deve-se voltar um pouco no tempo. Marcos acordou cedo, lavou o rosto, se arrumou. Era um dia muito importante, ele sabia que este dia podia mudar sua vida para sempre. Estava ansioso, confuso, e mal conseguia decidir o que comer de café da manhã. Já era 8 e ainda não havia tocado o telefone, e ele esperava uma ligação muito importante. A ligação que mudaria sua vida para sempre. Olhava ansioso o aparelho telefônico. Mexeu nos fios, afinal, poderia ter algum "mal contato" e não podia correr o risco. Não, ele estava em perfeito estado. Resolveu comer uma fatia de pão, com manteiga, e tomar leite. Como era difícil esperar. Começou a pensar em como seria seus dias após esse telefonema. Sentia medo, mas queria muito essa mudança, afinal, seria um passo único na vida.Mas já era 8:15, e nada do telefone tocar. Parecia uma eternidade esses 15 minutos, e ele podia ouvir o tic-tac irritante do relógio antigo de parede que sua avó havia deixado de herança. Estranho pensar que em 80 anos, tudo o que uma pessoa conseguiu deixar de herança foram um relógio velho, um par de alianças e dois jogos de jantar, de porcelana. Mas Marcos agora não queria pensar na pequenês humana, queria que aquele telefone tocasse, que o sim que esperava para mudar sua vida toda fosse dito logo. Mas o telefone não tocava. Mil motivos passavam por sua cabeça confusa e ansiosa. Teria acontecido alguma catástrofe, algo muito sério. Pensou em sair, ver o que houve, mas não podia. E se o telefone tocasse? quatro longas horas se passaram. Já era 1 hora da tarde, e Marcos lembrou-se que não havia comido nada além daquela fatia de pão. Mas não tinha fome, não tinha nem vontade se levantar. De repente pensou que podia ter algo errado com o telefone. Não o dele, mas o que lhe originaria a chamada. Então de súbito bolou um plano, chamou um vizinho, um garoto de 10 anos da casa ao lado, e propós que esse ficasse em sua casa jogando video game, e se o telefone tocasse, que atendesse e dissesse seu destino. Assim, podia correr e ter certeza que foi apenas um defeito no telefone. Saiu apressadamente, tomou um taxi para ser mais rápido, e partiu.
Chegou na porta, seu coração estava acelerado. Como era difícil estar ali, sem saber o porque não recebeu o telefonema. Bateu na porta, sem resposta. Uma senhora do apartamento ao lado chegou e bateu em seu ombro. "Ela foi embora, e deixou uma carta pra você". A senhora entregou-lhe um envelope. Marcos ficou olhando a carta, não podia acreditar. Como foi embora? Não podia ser! Seu peito estava apertado e sua cabeça girava. Abriu o envelope em busca de respostas. Lá apenas uma pequena frase: Não tive coragem de te ligar, são muitas mudanças..., será que vale mesmo a pena correr o risco e mudar toda uma vida?
Marcos saiu correndo. Ninguém entendeu direito o que estava acontecendo. Ele correu muito, por muito tempo, até que chegou próximo da praça central. Olhou para um lado, para outro lado e nada. As pessoas olhavam com estranhamento. Marcos sentou-se no meio fio. Lágrimas escorreram em seus olhos já sem cor. Lembrava-se quando pediu Ana em casamento. Conheceu a pequena menina, tão meiga e tão doce, e se apaixonaram perdidamente. O amor chegou em um ponto em que a distância doía, e essa distância parecia não fazer mais sentido. Então, ele depois de pensar muito, de medir as consequencias e pensar em tudo o que mudaria em sua vida, pediu Ana em casamento, e deu-lhe a aliança que sua avó o deixou. Alguns problemas com o dono do imóvel que Ana alugava na pobre rua de um bairro no suburbio, obrigaria Ana a sair do local, e Marcos pediu que ela ligasse se aceitasse seu pedido, e ele a buscaria para morar com ele. Ele esperou o telefonema, e agora nada mais fazia sentido, nada mais importava. Marcos chorou amargamente, sentia dor, não raiva, mas dor. Levantou-se e saiu a caminhar sem rumo. Depois de algumas horas resolveu voltar para casa. Rodou a fechadura na porta, mas ela estava aberta. Lembrou-se então do menino que ficara para atender o telefone que não tocaria. Ouviu um barulho vindo da cozinha. Seu corpo pesava uma tonelada, e sua cabeça doía. Entrou pensando que fosse o vizinho, mas quase desmoronou quando levantou os olhos. A beira do fogão, Ana mexia as panelas. Ele quase não podia acreditar. Nunca vira Ana tão linda, com os cabelos amarrados, um avental vermelho. Do lado, suas malas, as poucas coisas que tinham, seu mundo dentro de duas pequenas malas azul turquesa. Ela sorriu, com um sorriso que iluminou toda a casa. Marcos chorava, ainda sem entender e sem acreditar. Ana o olhou, beijou seu rosto e disse baixinho em seu ouvido: "Sim, vale a pena!" "Desculpe não ter ligado, mas tinha que vir, senão podia desistir. Sim vale a pena!"
Marcos chorou e a abraçou fortemente. Ela então falou baixinho: "e o homem se unirá a sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne, e uma só alma".
Nota da autora: Quando comecei a escrever, só me veio esse primeiro trecho da história, um homem que corre e procura algo. O que ele procura? Nem eu sabia. Levei uma semana escrevendo. Escrevi de forma que desse a entender sua angustia a espera de algo que nem eu sabia o que era. De repente pensei na questão do pedido de casamento, e da negativa da noiva assustada. Estava decidida a terminar a história com a procura do início, mas é estranho como alguns personagens ganham vida própria, e Marcos de recusava dentro de mim a terminar assim. Então, a noiva indecisa resolve aceitar o pedido, e Marcos embarca nessa aventura deliciosa que pode ser a vida a dois. Espero que tenham gostado.