O Poder De Uma Cética

O poder dela é incrível.

Enquanto ela se embelezava para ir trabalhar eu a via com vislumbre... A calça com que tinha dormido era de um pano bem mole e era muito bonita... Ela a tirou na minha frente, revelando as siluetas voluptuosas de seu corpo. Vi que não tinha perdido a cinturinha de pilão mesmo depois de conceber a luz ao nosso lindo filho. Os seios, pequenos sim, mas bonitos, porque ainda são firmes e continuam com o formoso designer...

Ainda deitados, algum tempo atrás... Eu a abraçara com ternura por trás e segurara em sua cintura e contara que tinha feito amor com ela em sonho. Realmente o sonho fora lindo, nosso desejo fluía e ela se dava para mim com satisfação.

- Realize o meu sonho. Pedi revelando meus pensamentos, cheio de esperança e ternura.

- Não.

Fora curta e grossa. Eu entendi no átimo. Não havia como dialogar, nem como estender mais o pedido de meu desejo, pois seria enjoativo e poderia deixá-la nervosa, coisa que eu não queria de forma alguma. Poderia piorar a nossa situação. E logo de manhã? Não. Melhor não. Fiquei mudo. O coração apertado. Também não haveria o porquê revelar meu sentimento. Os homens sempre são considerados como fracos quando isso acontece. Por que eu deveria ser um? Por outro lado a mulher gosta de reclamar quando ele não revela.

E, ali eu tinha duas visões dela: a visão que vinha do espelho, que refletia a parte da frente de seu corpo e a minha visão, que revelava as suas costas femininas. Então, eu via o corpo escultural por completo.

Engraçado... eu olhava para a minha mulher depois de cinco anos juntos e ainda assim a admirava. Admirava como pessoa e como mulher. Olhava com ternura. Estava ali estupefato, imaginando um bilhão de coisas ao mesmo tempo. Meu cérebro a mil por hora. “Como seria bom se ela me chamasse para me dar um abraço”.

Ela tirou a peça íntima preta e me revelou a beleza de seu sexo com os pêlos muito bem aparados, como se não fosse nada. “Poderia ter me dito: ‘- Olha amor o que eu fiz para você.’ Mas nem me mostrou”. A calcinha que pôs era amarela e muito meiga. De forma que me fez relembrar de nossos tempos remotos e de quando ela ainda era uma adolescente. Logo após tirou a blusinha expondo os seios formosos de discos enrugadinhos por causa da brisa fria da manhã e pôs um sutiã, não sei se foi pela minha falta de atenção, nunca tinha visto. Logo estaria vestida com a roupa da empresa:

- Vai comprar pão para mim, enquanto eu me maquio. Não posso chegar atrasada hoje.

Eu fiquei calado, imaginando os super-poderes dela. Cá comigo eu dizia: se você soubesse o quanto eu te amo... Talvez não tivesse medo de se entregar mais para mim... Talvez se soubesse o quanto estou me sentindo rejeitado não falaria friamente assim comigo (porque foi assim que vi e senti naquele momento)...Talvez se esse “não” não fosse freqüente... É que ele me parece surgir antecipado a qualquer pergunta minha que me venha beneficiar em algum sentido...

- Vai logo. Ela disse áspera, tirando-me de meu estado absorto, quase que me obrigando.

- Calma. Acabei de acordar. Desabafei, voltando à minha realidade.

Mas, naquele momento em que eu me preparava para me levantar, pensei: se você soubesse o quanto eu te amo viveria mais para mim. Dizia aquilo para mim mesmo porque viver para outra pessoa tem um peso muito forte. Ninguém quer ter caridade por ninguém. “A caridade é sofredora” há muito o Apóstolo Paulo dissera.

- Tem queijo aí, né? É que eu preciso comer agora, porque onde vou trabalhar hoje não tem almoço. Vou ter que comer coxinha ou aquela costela cheia de gordura. E o pior que não tenho nenhum puto. Só tenho seis Reais no cartão. Tive que usar ontem... Ela tentou ser mais amena.

Talvez fosse alguma cobrança de minha alma. Não sei. Às vezes eu me pego pensativo mesmo. É algo que não consigo controlar. Às vezes esses pensamentos me ajudam a ser mais minucioso com as coisas, olhar canto por canto, furo por furo; às vezes só me fazem ficar mais perturbado por não ver a solução rápida de algum problema.

Aquelas palavras, de alguma forma, machucaram-me. Não que ela tivesse falado para tal. Talvez nem tivesse sido as palavras em si. Quem sabe foi como elas foram ditas? O certo é que doeu em mim.

Levantei-me. Lavei o rosto. Escovei os dentes e saí sem dizer nada. Subi a rua correndo para me esquentar. Quando cheguei ao mercadinho estava um pouco sem fôlego. Acho que estou fora de forma. Comprei pão, refrigerante e queijo, pois o que tinha em casa não daria para tomarmos café, porque na véspera ela tinha inventado de fazer umas tapiocas para suas amigas. Pensei nela. Aquilo, pelo menos em meu sentir, era amor. Vê-la feliz já tinha se tornado um querer e um hábito muito fortes há tempos.

Ao chegar em casa novamente coloquei os pães, o queijo e o refrigerante em cima da mesa e entrei em nossa alcova. Abri minha gaveta e fui pôr o troco de nosso café da manhã na carteira. Tinha muitas oncinhas. Fiquei imaginando o que ela iria comer de almoço. Não achei bom pensar naquilo. Então, pequei algumas notas – só o suficiente para o almoço – e coloquei em cima da cama, pois ela ainda estava de frente para o espelho.

- O que é isso? Perguntou-me.

- Você disse que não tinha dinheiro para almoçar. Se você juntar com o dinheiro que tem em teu cartão dá para comer tranquilamente.

Saí do quarto e me sentei à mesa. Não para comer. Peguei minha pasta vermelha e minha caneta azul preferida.

Ela se chegou, pediu licença para mim e eu me mudei de lado, porque o fio da torradeira não chegaria à tomada.Comeu um pão com queijo e presunto quentes sem dizer um “a”, enquanto eu fiquei escrevendo ao lado dela este histórico, onde revelei meu sentimento incondicional. Talvez se soubesse o poder que tem me faria muito mais feliz do que infeliz.

Pena que ela não acredita em si.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 21/07/2010
Código do texto: T2391036
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.