HISTÓRIA DE UMA BOLA DE CRISTAL

À Rayanne Dias Miranda, minha irmã

I

Ora! Aquilo tudo foi constrangedor. Onde já se viu tudo aquilo por causa de uma simples bola de cristal?

A história mesmo começou quando aquele Ricardo apareceu. Era um aluno novato que viera do sul de Minas para morar ali. Era meio galã, tendo uma fama e tanto com as meninas, e por isso ele mesmo se achava o “dono do pedaço”. Tinha os cabelos nos ombros, o nariz arrebitado, os olhos negros e altura mediana. Desde que chegara a região, Ricardo estava sempre machucado como resultado de algum racha de motocicleta na BR. Além disso, Ricardo não era bem um aluno modelo, e não tomava as garotas a sério, mas de resto, era um “carinha” legal.

Aconteceu que Ricardo se encantou por Rosana que era a melhor amiga de Carolina, sua prima de segundo grau. Mas o que Carolina tem com essa história? Muito simples: Ricardo nem sempre foi cortês com sua priminha, mas como ele parecia ter muito interesse em Rosana - e vale a pena dizer que desta vez parecia sério – ele resolveu buscar na amizade com a prima a porta de acesso que levava à Rosana.

Como era de se esperar, Carolina logo caiu na conversa de Ricardo e ele, com seu poder de persuasão, convenceu-a de que estava loucamente apaixonado por Rosana, e de que a prima, sendo a melhor amiga de Rosana, deveria dar um empurrãozinho. De fato, foi exatamente o que ela começou a fazer: “encaminhar” as coisas!

Pelo que se via, por Rosana, Ricardo seria capaz de tudo. Segundo ele, ela o deixou enfeitiçado, alucinado mesmo. Pensa que Ricardo estava maluco? Que nada! Rosana era a menina mais bonita da escola inteira, e não era somente a ele que ela interessava tanto. Também estavam na lista o Marcos, o Juliano, o Estevão, o Ronaldo, o Nonato, o Robert... Todos esses e outros que não citei, já haviam tentado conquistá-la, mas em vão. E por que narrar justamente as tentativas de Ricardo? Fácil! Porque ele foi o único que conseguiu.

Você deve se perguntar: Mas tão rápido?! Rápido coisa nenhuma! E se não fosse Carolina, todas as tentativas do “jovem apaixonado” iriam por água abaixo, e eu nem teria o que narrar aqui.

II

Ricardo e Rosana começaram a namorar seriamente. Todos os dias, às oito horas em ponto ele ia a casa dela, e aí ficavam até as dez, e só não ficavam até mais tarde porque Romão, pai de Rosana, não permitia isso.

Mas Rosana não fazia muita questão de ficar até tarde com o namorado na calçada, até porque no início do namoro ela não se sentia muito à vontade na presença de Ricardo, e o namoro só se sustentava porque Carolina estava sempre dizendo à amiga que ambos faziam um casal perfeito, e que não deviam terminar o namoro, Ricardo gostava muito dela, e era aquela coisa toda. E isso deixava Rosana até mais envaidecida, afinal, não era todo dia que um menino comentado por quase todas as meninas dizia para uma só que estava verdadeiramente apaixonado por ela. Isso se podia ver em seus olhos quando via Rosana, eles brilhavam de amor.

Por falar nisso, era sempre Ricardo quem estava a elogiar os olhos de Rosana, ele dizia que eram radiantes, estupendos, magníficos... E outros termos... Com se fossem duas lindas bolas de cristal, de fato, ele tinha razão, mas não era para tanto!

Essa coisa de olhos chamejantes parecidos com duas bolas de cristal ficou tão repetitiva por Ricardo, que quando mal começava a falar, Rosana já estava a concluir:

— Parecem bolas de cristal!!!

Às vezes, Ricardo conseguia ser muito, muito chato!

III

Certo dia Carolina resolveu visitar Rosana inesperadamente, para conversarem sobre “coisas” de menina, tipo: “Como você está?; Como foi seu fim de semana?; Conta os ‘babados’; O que diz o seu horóscopo?; Odeio Física; O professor de matemática é um chato; O capítulo da novela de ontem foi tão...; Estou lendo um romance fantástico...” - Mas o grande assunto dessa vez era o namoro de Rosana, para ser mais preciso, do seu namorado!

— Como está indo no namoro?

— Ele é uma pessoa legal, mas às vezes é muito chato! Sabe, já pensei em dar um tempo...

— Não diz isso, Rosana! Ele gosta tanto de você. Ah! Se o Bruno gostasse de mim pelos menos a metade do que ele gosta de você. O infeliz vive saindo da linha e sempre fico sabendo, mas quando a gente gosta, a gente gosta, né? Fazer o quê?

— Ricardo nem sequer pretende ficar nessa cidade! Não sei se devemos continuar o namoro

— Não fala assim! Ele vai ficar por aqui sim!

— E se ele voltar para o sul de Minas?

— Ele te leva!

— O quê?! Nem em sonho uma coisa dessas, se ele quiser ficar comigo, que fique por aqui...

— Viu?

— Vi o quê?

— Por mais que você tente mentir para si mesma, você gosta dele, nem se for um pouquinho, mais gosta!

— Não sei! Ele tem que fazer por onde!

— Te dar um presente?

— Sei lá! O que você diz?

— Ele mudou tanto durante esse mês que vocês estão juntos...

— Mudou muito?!

— Antes ele não era muito meu amigo, apesar de sermos primos, ele era mais na dele!

— Ah sim!

— Por acaso ele já falou que os teus olhos...

— Parecem duas lindas bolas de cristal!!! Já! Já falou sim, e como já falou...

— Ele me disse que iria te falar. Nunca ninguém falou nada tão bonito a meu respeito.

— Mas você é linda Carolina! Você encontrará seu verdadeiro amor. Pode até ser o Bruno, não acredita que ele possa mudar para melhor?

— Aquele ali!? Já perdi as esperanças... Mas talvez... Deixa de conversa, tenho que ir, amanhã é domingo e para poder sair, hoje tenho que fazer um monte de coisas em casa. Sabe como é!

— Sei!!! Tchau amiga! Vemo-nos no parque amanhã às quatro?

— Claro! Passa lá por casa.

— Tudo bem!

O minúsculo parque era a única coisa interessante da cidade, era lá onde as turmas de jovens se encontravam para colocarem seus “papos” em dia.

IV

Naquela noite, Ricardo, como de costume, apareceu na casa de Rosana. Ele levava consigo, numa das mãos que escondia às costas, uma caixinha com uma fita azul com um lindo laço na tampa (sinceramente, logo de cara via-se que não fora ele quem fizera aquele laço tão bem-feito), e com uns olhos radiantes, Ricardo falou:

— Oi meu amor. Trouxe um presente para você!

— Trouxe?! Que ótimo! O que é?

Num piscar de olhos Ricardo colocou a caixinha em sua mão esquerda, e levou-a a sua frente, em seguida, perguntou:

— Não é uma linda caixinha, Rosana?

Ora! Onde já se viu isso? Dar um presente à namorada e perguntar se a caixa é bonita? Rosana também pensou deste modo, e ironizou:

— É uma lindíssima caixa...! Espero que tenha algo aí dentro também!

— Claro que tem! Adivinha só!!!

— Hummm! Seria um anel de ouro?

— Não. Não é um anel de ouro.

— Então um colar com uma linda pedra?

— Quase!

— É um colar?

— Não!

— Então é uma pedra?!

— Também não. Eu já lhe disse que seus olhos...

— Parecem duas lindas bolas de cristal! Já! Já disse sim! Mas o que os meus olhos têm com o meu presente?

— Tudo!

— Então são duas bolas de cristal?!

— Não. Mas uma linda bola de cristal. Pegue, é seu!

— Obrigado!

Rosana pegou a caixinha e abriu para ver o tão esperado presente: a bola de cristal. De fato, era realmente uma linda bola de cristal, e em seu interior tinha um coraçãozinho vermelho, e com uma base espessa, que continha a frase: “Eu te amo!”. Rosana achou muito bonito, e sem falar nada, ouviu Ricardo com um sorriso nos lábios falar:

— E o que você pensa?

— Nossa!!! É um trabalho e tanto colocar esse coração dentro dessa bola!

— Deve ser difícil... Mas fácil foi colocar você dentro do meu coração!

— Não sabia que você dizia palavras tão bonitas. Pensei que só soubesse que meus olhos pareciam...

— Duas lindas bolas de cristal! Eu sei! Mas a gente aprende com o tempo e com as pessoas...

— Que bom saber disso...

— Quero que saiba que eu te amo muito, e essas palavras são do fundo do meu coração. Essa bola de cristal significa além de lembrar os seus olhos, significa acima de tudo, o amor que sinto por você. Por isso guarde-a com carinho, porque é o meu amor que você está guardando!

— Hoje você veio inspirado!

— Talvez porque eu quisesse lhe roubar um beijo logo de entrada...

Ricardo sorriu e Rosana também. E os dois se aproximaram e se beijaram como se fosse pela primeira vez.

V

No outro dia, no domingo, Rosana pensava na noite de ontem, quando deram aquele beijo, aquele que para ela foi o melhor dos inúmeros que ele já havia lhe dado, aquele foi especial... E pensava também nas palavras da amiga: “Você gosta dele, eu sei disso, nem que seja só um pouquinho!”. Ela estava quase cedendo...

Aquela bola de cristal Rosana tratou de guardar bem guardada, como lembrança, afinal, para que serviria aquela bola?

Às quatro da tarde Rosana passou pela casa de Carolina, e seguiram para o parque que ficava adiante, mas não muito longe dali.

Quando as garotas chegaram lá, começaram a conversar sobre os “seus” assuntos, uns daqueles mesmos dos quais que já narrei. Carolina perguntou primeiro:

— Como tem passado de ontem para hoje?

— Bem!!!

— Não sei o porquê, mas gostei muito da sua entonação de voz quando me respondeu!

— Deixa de falar abobrinha, Carolina! E você, o que fez hoje?

— Adivinha! Minha mãe me deixou passar a manhã todinha na casa do Bruno, até almocei lá! Inclusive, a mãe dele gostou muito de mim quando ele me apresentou a ela como a sua namorada! Cheguei de lá umas duas horas da tarde!

— Puxa! Foi rápido para quem estava indecisa ontem...! Então a relação entre você e o Bruno já está as mil maravilhas! Fico muitíssimo feliz por você!

— Ah! O seu sorriso é por outra coisa...

— Como assim, Carolina?

— Deixa de me enganar Rosana, conheço esses seus olhos brilhantes...

— Do que você está falando?

— Por acaso o Sr. Ricardo não esteve na sua casa ontem?

— Esteve! Como sempre, é raro quando ele não aparece!

— E então!

— Então o quê?

— Ele não lhe deu uma bola de cristal com aquele lindo coraçãozinho vermelho com uma frase na base mais ou menos assim: “Eu te amo!”?

— Então você já sabe?

— Ele lhe entregou?

— Entregou. Mas o que você sabe a respeito? Eu ainda nem havia falado?

— Ele percebeu que você estava muito longe dele. Então pediu alguns conselhos a mim!

— E o que você aconselhou?

— Dar um presente! Ainda mais com uma declaração de amor... Que tal?

— Aí você também escolheu o presente?

— Aham!

— E pela sua cara, aposto que depois ele pediu para você guardar segredo, mas você não conseguiu?!

— Nossa! Como sou previsível! É verdade!

— E foi você também quem fez aquele lindo laço na caixa?

— Foi. Não estava lindo?

— E você também o mandou falar aquelas palavras bonitas...?

— Palavras?

— Depois ele disse: “Oh, Carolina! Como estou agradecido!”.

— Não. Acho que ele esqueceu disso... Mas depois eu falo com ele, mas é porque ele só pensava em você, ele te ama!

— Deixa de ser ingênua Carolina! Ele só está usando você para me convencer que é o homem dos meus sonhos... O pior de tudo, é que ele me convenceu...!

— Convenceu?!

— Estou gostando dele. Você estava certa! Mas não posso permitir que ele continue usando você.

— Você deve está ficando doida! Me fala, foi a prova de Física na sexta?

— Estou falando sério, deixe de brincadeira!

— Olha lá! Ele está chegando aqui!

— Silêncio, disfarça!

Rosana ficara chateada, mas ela já estava gostando muito dele. Enquanto isso Ricardo se aproximava. De longe, ele abriu logo um grande sorriso, encostou e falou:

— Oi Carolina!

— Oi!

— Olá meu amor!

— Olá, Ricardo! Trouxe outra bola de cristal?

Ricardo ficou espantado com a pergunta de Rosana, então perguntou:

— Outra bola de cristal? Como assim Rosana?

— Ah! Não pode ter trazido outra bola de cristal... A Carolina passou a manhã todinha fora, não é mesmo?

— Carolina? Mas o que ela tem com isso?

— Talvez fosse eu quem deveria lhe perguntar por que você sempre a coloca no “meio de tudo isso”!

— Você está falando por que ela escolheu comigo o bola de cristal?

— Ahhhh! Então você adivinhou!

— Mas isso é tão simples, pensei que pudesse contar com ela já que é sua melhor amiga!

— Rosana, é melhor eu me retirar, pelo visto sua história com Ricardo é séria! — Falou Carolina percebendo que os dois poderiam discutir.

— Não Carolina! Fique. Você precisa escutar o que eu vou falar, afinal, você já é parte da história. Ricardo, está tudo terminado!

— O quê??? Está tudo terminado? Nós namoramos mais de um mês e vamos terminar por causa de uma bola de cristal?

— Não exatamente por isso, mas sim porque pensei que você fosse você mesmo...

— Mas eu sempre fui eu mesmo!

— Está tudo terminado. Não ouviu?

— Mas você não pode fazer isso comigo, Rosana!

— Carolina é melhor nós sairmos daqui! Esse ambiente está contaminado!

— Tem certeza que quer ir?

— Vamos, já disse!

VI

Quando Rosana chegou em sua casa começou a chorar: de raiva, de ódio, de criancice... Na verdade, porque o tinha perdido, mas ela não queria admitir, não queria voltar atrás, conservava o egocentrismo, e para ela, era humilhação querer ao menos pensar que era ela, a exacerbada nas suas criancices.

Alguns minutos depois, Rosana foi até onde tinha posto a bola de cristal. Chegando lá, uma surpresa: a linda bola estava quebrada e o coraçãozinho havia rachado meio a meio.

— Quem quebrou minha bola de cristal? — Ouviram pelo menos a vizinhança inteira o estrondoso grito de Rosana.

— Bola de cristal? Que bola de cristal? — Perguntou Julinho, o irmão mais novo de Rosana. E mais uma vez veio o grito, dessa vez muito mais forte:

— Quem quebrou minha bola de cristal? — Era uma mescla de choro com grito.

Em exatos cinco minutos, pelo menos umas quinze pessoas estavam dentro do quarto, outras vinte estavam na sala e umas trinta estavam lá fora querendo entrar. Sempre perguntando:

— O que aconteceu, o que aconteceu? Que bola de cristal é essa?

Enquanto isso, lá dentro do quarto a tensão aumentava. O pai de Rosana perguntava à filha que não se controlava:

— Minha filha, por que você está assim?

Mas a resposta era choro e mais e mais choro, e a vizinhança comentava:

— Melhor levar ao médico, deve ser um caso sério, a D. Justina, que Deus a tenha, em seus primeiros anos de loucura, não parava de chorar! O resultado todo mundo já sabe, ela se jogou debaixo daquela Mercedes!

— Saiam todos, saiam todos! — Gritou Rosana com muita força, e fez com que todos tomassem um grande espanto.

— Ela está louca, ela está louca! Chamem um psiquiatra! — Gritava um outro vizinho.

O Sr. Romão percebeu que não precisava daquele monte de pessoas em sua casa, então decidiu apoiar a filha:

— Vamos, é melhor saírem. Saiam! Isso é assunto de família, vamos, saiam!

Muitas pessoas saíram todas ao mesmo tempo, resmungando:

— Tem uma filha louca e não quer ouvir conselhos...

Quando todas as pessoas por fim saíram, ficando assim só a família de Rosana, sua mãe resolveu perguntar com cautela:

— O que houve minha filha?

— Quebraram minha bola de cristal!!!

— Ora minha filha! Mas é só uma bola de cristal!

— Não! Era a bola de cristal! Foi o Ricardo quem me deu!

— Ele lhe dará outra!

— A senhora não entende...!

— E quem poderia ter quebrado essa bola de cristal?

— Só pode ter sido o Julinho!

— Não. Garanto que não foi ele. Ele nem entra aqui em seu quarto!

— Mas ela está quebrada...!

Novamente Rosana começou a chorar desesperadamente. E assim o choro não cessava, ela parecia uma verdadeira louca!

VII

— Quem é a louca, quem é a louca? — Entraram na casa de Rosana uns trinta minutos depois do acontecido dois homens levando uma camisa de força.

— O que vocês querem? — Perguntou o pai de Rosana aos homens.

— Não é aqui que uma moça entrou em crise neurótica?

— Não senhor! Façam o favor de se retirarem!

Rosana voltou a ter uma crise de nervos, tudo pela bola de cristal, e começou a gritar novamente.

O outro homem que havia entrado na casa, falou com muita precisão:

— Sinto muito, meu senhor! Mas é aqui mesmo que temos uma louca! E até que ela prove o contrário, não a deixaremos!

Novamente a casa encheu-se de gente, todos curiosos para saberem o que acontecia. Enquanto isso, os homens colocaram a camisa de força em Rosana que não parava de espernear-los, em seguida a levaram para análise.

O pai ficou inconformado em não poder fazer nada, e mais uma vez expulsou a vizinhança de sua casa, afinal, só poderia ter sido um deles quem fez a denúncia pelos gritos, crises, incômodos, sei mais o quê!

De repente, a mãe de Rosana teve uma idéia:

— Já sei! Vou atrás do Ricardo para ele dar pessoalmente à Rosana uma outra bola de cristal, quem sabe assim ela se controla e volta a si.

Era uma ótima idéia! Mas onde localizar Ricardo? Eles não tinham o telefone da casa dele. Voltou o pânico, até que:

— Carolina! — Gritou Julinho.

— É verdade! Tenho o telefone de Carolina! Julinho, pegue o telefone! — Voltou a falar entusiasmada a mãe de Rosana.

Num instante ela então ligou, e por sorte, depois daquela hora do parque, Carolina não tinha saído de casa.

— Ela foi levada para o manicômio? Que aventura!!! — Carolina falou do outro lado da linha.

— O quê?! — Perguntou a mãe de Rosana estranhando a voz de Carolina, que logo em seguida emendou:

— Quis dizer: em que posso ajudar?

— Você tem o telefone de Ricardo, não tem?

— Claro! Está na minha agenda!

— Ótimo!!!

— Mas alguma coisa senhora?

— Como assim? O telefone, quero o telefone dele!

— Ah, sim! Vou pegar... só um instante.

— Nunca gostei muito dessa Carolina, ela parece está sempre no “mundo da lua”! — Resmungava a mãe de Rosana ao marido enquanto ele falava ao telefone com Carolina.

— Posso ligar agora, não posso? — Perguntou a mãe de Rosana logo que ouviu o telefone de Ricardo dito por Carolina.

— Claro! Ele deve está lá agora. Mas a senhora pode me dizer uma coisa?

— Pergunte logo, menina, não posso perder tempo!

— Por que a senhora que ligar pra ele?

— Ele precisa dar para minha filha outra bola de cristal!

— Ah! Mas eles não terminaram por causa de uma bola de cristal?

— O quê!!! — A mãe de Rosana ficou boquiaberta.

— A senhora não sabe? Ih! Falei demais... Não, não... Eles não terminaram, ligue logo, senão ele vai sair de casa!

— Então eles terminaram!!!

— Eles terminaram?! — O Sr. Romão e Julinho gritaram juntos ao ouvirem a exclamação da mãe de Rosana.

— Que massa! Tenho uma irmã doida para sempre! — Falou Julinho com um tom de infantilidade.

— Deixa de falar besteira Julinho! Já chega, vou aonde minha filha está agora! — Falou decididamente o Sr. Romão. Enquanto isso a mulher baixava o telefone.

— Julinho fique e tranque a porta, vou com seu pai, volto logo.

Os dois então saíram meio que confusos sobre o que fariam quando chegassem lá. Deixaram o filho mais novo dentro de casa gritando:

— Eh! Uma irmã doida! Amanhã na escola meus amigos não vão acreditar...! Mas não vou dizer que foi eu quem quebrou a bola...

Essa era uma família e tanto!

VIII

Carolina não se conformou em esperar uma ligação de retorno para ouvir que já estava tudo bem. Resolveu entrar em contato com Ricardo às pressas para contar o que estava acontecendo. Rapidinho ela ligou para ele e falou o que havia ocorrido, mesmo sem saber que foi por uma simples bola de cristal quebrada.

Mostrando-se bastante preocupado, Ricardo correu com Carolina até o lugar onde Rosana estava.

Os dois chegaram e os pais da menina ainda não tinham chegado, porque por diversas vezes na rua foram parados por pessoas que faziam a mesma pergunta:

— São os senhores os pais da menina que quebrou tudo em casa em crise de loucura? — Rosana não tinha quebrado nada, ela estava inclusive com trauma por essa história de ‘algo quebrado’, mas quem conta um conto... E assim não conseguiam se livrar das perguntas, umas pessoas quiseram até filmar, mas o Sr. Romão não permitiu. Imagine só... As pessoas diziam a todo instante: “Isso vai passar no jornal!”. Enquanto isso, Ricardo e Carolina conversavam com a atendente:

— Viemos ver a moça que chegou há pouco. — Afirmou Ricardo à atendente do local.

— O nome dela, por favor? — Perguntava a atendente.

— Rosana Miranda! — Exclamou Carolina.

— Só um instante. — A atendente pediu que aguardassem, pois ligaria lá para dentro para ver se Rosana estava em condições de receber visitas, em seguida a mesma baixou o telefone e falou:

— Ela já está recuperada, já pode ir pra casa. Aguardem mais um pouco que ela está vindo.

— Ótimo! — Falaram os dois juntos.

A porta se abriu e Rosana apareceu com a face vermelha de choro, mas não estava mais chorando, pelo contrário, sorriu quando viu Carolina e Ricardo.

— Que adrenalina! Como você se sente em ser louca por algumas horas? — Brincava Carolina com uma das mãos levantadas à boca da amiga, como se fosse um microfone.

— Deixa de graça! Vamos para casa! E pra o seu governo, todos nós temos um instante de loucura, tá? — Riu Rosana e foram para casa.

Na volta pra casa, Rosana comentou com Ricardo:

— Fiquei muito triste quando nós terminamos. E quando cheguei em casa, que vi a bola de cristal que simbolizava o seu amor por mim, quebrada, perdi o equilíbrio.

Carolina perguntou pasmada, em seguida comentou com seu jeito brincalhão:

— Quer dizer que tudo isso foi por causa da bola de cristal quebrada? Puxa! Isso vai dar um livro, o título seria... Que tal: “As Aventuras por causa de uma Bola de Cristal”... Não, esse é melhor: “Tudo por causa de uma Bola de Cristal”.

— Tudo isso ocorreu por minha causa? — Perguntou Ricardo chocado.

— Não! Foi por minha causa mesmo. Não deveríamos ter terminado, e deveria ter guardado a bola de cristal com mais esmero, talvez...

— Aquela bola era frágil mesmo. Lembra que concluímos que era muito difícil colocar aquele coraçãozinho dentro daquela bola?

— Lembro!

— E que logo em seguida afirmei que foi fácil colocar você dentro do meu coração?

— Aham!

— De fato foi difícil colocar aquele coração dentro daquela bola, mas foi tão fácil ser retirado! Para isso, a bola bastou ser quebrada... Enquanto isso, você penetrou em meu coração facilmente, mas a esfera que aqui dentro te protege... Ah! Essa não será quebrada! Sabe por quê? Porque esse envoltório que te envolve no meu peito não é um simples cristal, e sim o amor... Só o amor! Eu não deveria ter simbolizado esse amor por aquela bola de cristal, porque um dia ele quebraria, o meu amor por você... Esse não quebra!

— Nossa! Essas palavras são suas...!

— É verdade que eu pedi ajuda a Carolina na escolha de seu presente, mas as palavras sempre foram minhas! Sabe! Antes eu não era assim como você me conhece agora, Carolina que o diga, eu era bruto! Você fez com que eu mudasse...

— Beijo! Beijo! — Interveio-se na conversa mais uma vez Carolina.

— Chega disso Carolina, nossa história ainda não foi por inteiro resolvida. — Falou Rosana.

— Você está certa! Mas as coisas são tão fáceis... Basta você dizer que voltamos, e a bola... A bola fica no passado! — Exclamou Ricardo com um lindo sorriso.

Rosana beijou Ricardo, reiniciando ali o namoro.

— Que lindo! Não, não... Isso não vai dar um livro, vai dar uma novela...! — Comentou Carolina novamente.

Logo que encerraram o beijo, Ricardo pediu:

— Você tem que me prometer que nunca mais vai ficar deste modo quando algo material seu foi destruído, mesmo que dado por pessoas importantes... Na vida, o que vale é o amor das pessoas com as pessoas, e não as coisas presenteadas por elas, por mais valorosos que sejam.

— E você tem que me prometer que nunca mais vai me dar de presente uma bola de cristal... Para não correr o risco de quebrar...! Brincadeira... — Rosana falou sorrindo.

— Mas eu já te falei que os teus olhos...

Os três então falaram juntos como se fosse começar tudo de novo:

— Parecem duas lindas bola de cristal...!

E todos riram por aquele lindo e cômico episódio: A História de uma Bola de Cristal.

Francisco Wilson Dias Miranda, 2005

FW DIAS MIRANDA
Enviado por FW DIAS MIRANDA em 07/07/2010
Código do texto: T2364259
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