Finalmente
Por toda a minha vida, eu suportei o pior que o destino poderia me colocar no caminho. Uma família destruída, uma infância de medo, uma adolescência de incerteza e depressão. Sei como é o fundo do poço, sei que é fácil entrar lá, mas também sei que não é nada fácil sair.
Apenas coragem, que sei que é algo que nunca vão tirar de mim, permitiu que eu resistisse a esses 16 anos de provações. Meu pai, nos primeiros anos, mesmo em dificuldade, era amável e apoiava a minha mãe e a nós, suas duas filhas. Mas com o tempo, ele demonstrou ser fraco de espírito e entregou-se à bebida, e todo o dia, ao chegar bêbado em casa, dava um jeito de nos pôr num inferno já bem conhecido. Já estava ficando difícil suportar aquilo.
Minha irmã, que parece ter herdado a fraqueza de espírito do meu pai, tornou-se uma pequena “Capitu”: bonita, sedutora, já acabou com mais casamentos do que uma câmera de segurança de motel. Para ela, era um martírio viver sob o mesmo teto que nós, se negando até mesmo a ajudar a nossa avó doente, que por tanto tempo havia dado seu melhor para auxiliar nossa família.
Mesmo assim, há uma parte da minha infância da qual me lembro e sempre me lembrarei com orgulho: a minha mãe. Sem dúvida alguma, a melhor mãe do mundo, sem sombra de dúvida.
Moderninha como ela só, não tem receio de dizer tudo que lhe vem à cabeça, e não se importa com quem está em seu caminho, se é um mendigo ou o próprio Papa. E uma coisa eu digo com toda a certeza, não existe mãe melhor neste mundo. Já disse isso, não é? Não importa, é a mais pura verdade.
É a melhor mãe do mundo porque esteve perto de mim para me apoiar quando eu precisei.
É a melhor mãe do mundo porque me deu conselhos que valeram mais que ouro na minha vida.
É a melhor mãe do mundo porque me faz rir, mesmo quando a vontade que eu tenho é de chorar até não poder mais.
E acima de tudo, é a melhor mãe do mundo porque é mais que uma mãe: é DE VERDADE a minha melhor amiga.
Mas já estou divagando demais...
Da minha infância, que foi um pedregulho, vamos passar para a pedreira da minha adolescência. Como você já deve ter percebido, minha vida não foi nunca um mar de rosas. Aliás, se for para metaforizar, acho que ela está mais para mar de espinhos mesmo.
E como se meus problemas não bastassem, eu nasci com um péssimo gosto para relacionamentos.
Meu primeiro namoro, como viriam a ser todos os outros, aconteceram pela Internet. Ele morava perto de mim, mas só nos conhecíamos pelo MSN... Curioso como as coisas acontecem, não é?
Pois bem. Marcamos um dia, e nesse dia tivemos nosso primeiro encontro. Rolou tudo muito bem, conversamos por um bom tempo, gostei dele e tudo o mais, mas não consegui dar mais que um beijo na bochecha de despedida. E assim foi o segundo encontro, e os outros também. Até que um dia, descobri que ele dava em cima de algumas amigas minhas, e até tinha se envolvido com uma garota do colégio.
Essa foi a minha primeira desilusão amorosa, e também o fim do meu primeiro namoro.
Então, depois de algum tempo, de volta à Internet, encontrei Milton. Conversamos, trocamos MSN, conversamos mais ainda, e por fim firmamos namoro. Aparentemente perfeito, gentil, carinhoso, não pude resistir. Afinal, o único problema eram os 2.500 km de distância que nos separavam...
Por seis meses, eu pensei assim. Era como se Deus estivesse finalmente me sorrindo... Mesmo apenas pela Internet, esse relacionamento me fazia muito bem.
Ao final de seis meses, ele aparece no MSN e diz: “a distância é grande demais”.
Essa foi a minha segunda desilusão amorosa, o fim do meu segundo namoro e o início da minha depressão.
É fácil demais olhar para um depressivo, sentir pena, dar-lhe uma tapinha nas costas e dizer que tudo ficará bem, crendo que isso pode ser chamado de “encorajamento“.
É Fácil também taxar estas pessoas como doentes, dizer que tudo pelo que nós passamos, tudo o que nós sofremos, é somente uma forma de conseguir atenção.
Fodam-se todos os filhos da puta que pensam assim.
Depressão é um ácido que corrói tudo de bom que há em nossas lembranças, e deixa apenas as cicatrizes reabertas, as feridas que tanto lutamos para sarar, ou pelo menos esquecer.
É viver para esquecer, e sofrer para lembrar...
É querer morrer, e não ter coragem de dar um final à vida...
É realmente o fundo do poço.
Não me pergunte como eu consegui resistir, mas o fato é que aqui estou. Talvez seja isto que importa, não é?
E como não podia deixar de ser, continuei minha vida, tentando pôr um sorriso no rosto e exibi-lo a quem não dá a mínima se estou viva ou morta. A verdade é que eu via pouco sentido em continuar. As aulas já não eram interessantes, os amigos já não eram reconfortantes, os dias já não eram claros, os meus sonhos já não eram sonhos, e sim pesadelos. Pesadelos onde eu via tudo o que fiz de errado na vida passar em frente a mim, sabendo que poderia ter evitado boa parte dos meus sofrimentos, mas fui confiante e presunçosa demais para aceitar o fato a tempo.
Como sempre, o único refúgio que encontrei foi a Internet. Mas até mesmo a Internet não era mais tão interessante, as respostas que eu buscava não estavam mais lá.
Mesmo assim, o MSN, o Orkut, tornaram-se meus “portos seguros”, lugares onde eu podia encontrar pessoas com quem conversar, algumas delas até se encontravam na mesma situação que eu. Por isso que eu sempre fui contra esse mito de que não podemos fazer boas amizades virtualmente. Isso é muito possível, e às vezes, é tudo que temos.
E foi numa comunidade do Orkut que eu encontrei outro pedaço de minha vida.
Caio era seu nome. Sensível, gentil, de alma sofrida, chamou minha atenção por ser alguém que entendia o que eu sentia, que realmente se importava comigo, que dava atenção ao que eu fazia ou falava...
Mas eu creio que as coisas foram longe demais. Não era minha intenção namorar com ele, mas quando dei por mim já havia acontecido. A obsessão que ele demonstrava ter por mim às vezes chegava a me surpreender, e outras vezes fazia com que eu sentisse até mesmo um pouco de pena.
Amor é uma palavra forte até demais. Talvez uma grande amizade fosse o sentimento que eu realmente tinha por ele. O grande problema é que ele, além de se recusar a compreender isso, fazia planos e planos para um relacionamento que na verdade estava mais na cabeça dele do que em qualquer outro lugar.
Eu só gostaria de ser um pouco mais egoísta, para não ligar para o que ele dizia quando eu tocava no assunto “terminar a relação”. Mas meu maior problema é que eu sou uma maldita escoteira, que prefere morrer embaixo de um carro a ver uma senhora de idade esperando ajuda para atravessar a rua.
Foram seis meses de cautela total, porque qualquer passo em falso podia resultar em vários dias de autopiedade e mágoas sem razão por parte dele.
Mas o destino é um brincalhão incorrigível, como já dizia o ditado...
Outra vez, a Internet trouxe um certo indivíduo ao meu convívio. Um certo indivíduo, que nesses últimos dias me deu muito em que pensar...
Para começar a descrevê-lo, vamos às características principais: chato, chato, chato e chato.
Grosso, ignorante, incompreensivo, um perfeito “coiso”...
Por isso até hoje não entendo o que vi nele.
Talvez tenha sido o fato de que ele foi o único que se importou comigo quando eu estive me recuperando da cirurgia que fiz há algum tempo...
Talvez porque ele seja o único que me liga apenas para ouvir o som da minha voz...
Talvez porque ele tenha se interessado tanto por minha história e pela minha vida, que foi capaz de escrevê-la aqui...
Seja como for, aconteceu.
Agora, se eu vou acolher esse indivíduozinho na minha vida ou se vou deixar esta oportunidade passar em branco, será eu quem vai escolher o que é melhor para mim.
O tempo dirá...