PAIXÃO PLATÔNICA
Luana aguardava ansiosa o início da aula de Parasitologia. O professor, Horácio, entregaria o resultado do primeiro relatório de aulas práticas. Luana havia se esforçado muito para fazer um relatório digno de ser considerado brilhante. Queria de todas as formas agradar Horácio e chamar sua atenção. O professor era um homem jovem, na faixa de seus 35 anos, másculo e charmoso, muito charmoso. E era solteiro.
Os esforços de Luana foram reconhecidos. Horácio elogiou seu relatório, embora não tenha atribuído o adjetivo “brilhante”. Mesmo assim, Luana continuava a esforçar-se. Tinha 29 anos e a faculdade de Enfermagem era a segunda que cursava. Todas as tardes, trabalhava como supervisora em uma escola pública da rede estadual de ensino. Estava completamente encantada e apaixonada por Horácio. Este, por sua vez, tratava-a com a mesma cordialidade com que tratava todas as outras alunas.
A cada dia que passava, Luana sentia-se ainda mais atraída por Horácio e mais confusa. Sofria com sua indiferença e esforçava-se por ter sempre o melhor desempenho da turma, seja nas provas, nos trabalhos ou nos relatórios. Ao final do semestre, suas notas realmente se destacaram em relação à turma e Horácio perguntou se ela estaria interessada em ser monitora da disciplina no próximo semestre. Luana ficou radiante. Ser monitora significava que ela teria contato por mais tempo com Horácio. Contudo, havia o problema de seu emprego. Sem ele, Luana não poderia pagar a faculdade. Horácio explicou-lhe que ela poderia ser monitora no período noturno, pois o monitor da tarde continuaria por mais um semestre. Luana aceitou, sem titubear.
E assim, três vezes por semana à noite, Luana ia para o Laboratório de Ensino de Parasitologia, ajudar Horácio e os alunos da disciplina durante as aulas práticas. Depois das aulas, próximo às provas, alunos permaneciam no laboratório para tirarem suas dúvidas com Horácio e Luana, que continuava estudando Parasitologia com afinco. Afinal, não poderia decepcionar Horácio, que lhe confiou uma tarefa da maior responsabilidade. A monitoria fez com que Luana se aproximasse de Horácio. Conversavam sobre muitas coisas: política, religião, esportes, a profissão de enfermeiro, a profissão de professor, as disciplinas que Luana cursava naquele semestre, provas, família...
Essa proximidade, mesmo que incipiente e amena, fez com que Luana se encantasse ainda mais com Horácio. E ela podia jurar que Horácio estava se interessando por ela. Contudo, Horácio não tomava qualquer iniciativa de aproximação mais ousada. E Luana ficava perturbada com isso. Um dia, criou coragem e perguntou se Horácio era casado.
- Não, não sou casado. Mas tenho uma namorada.
- É? Há quanto tempo namoram? Pensa em se casar com ela? – indagou Luana.
Horácio sorriu. Disse que namorava há quase um ano e que não pensava em se casar, afinal sua namorada tinha apenas 22 anos e estava começando o mestrado no mesmo laboratório onde Horácio fazia seu doutorado. Ambos precisavam ter uma situação profissional e financeira mais segura para isso.
Caíram os castelos de areia de Luana. A namorada de Horácio era mais jovem do que ela e era mestranda. Ela era supervisora de escola e estudante de enfermagem. A moça devia ser bastante inteligente, pois tão jovem já havia sido aprovada em uma seleção de pós-graduação numa área bastante concorrida.
Luana passou algum tempo pensando numa maneira de fazer Horácio interessar-se por ela e ambos ficarem juntos. Depois de algumas noites em claro, concluiu que era uma mulher madura, razoavelmente experiente e que poderia muito bem declarar-se para Horácio. Mas faltou-lhe coragem. Quando Horácio se aproximava, Luana não conseguia falar o discurso que havia ensaiado várias vezes na frente do espelho do banheiro.
O semestre chegou ao fim e Luana não havia conversado com Horácio sobre o amor que sentia. No último dia de monitoria, Luana resolveu aproximar-se dele de uma maneira indireta. Em um pedaço de papel, escreveu: “Horácio, não consigo mais sufocar dentro de mim o amor que sinto por você. Por favor, me ligue ou me escreva. Luana.” E anotou o número de seu telefone celular e e-mail. Colocou o papel dentro de um envelope e deixou-o no pára-brisa do carro de Horácio.
Passou o dia seguinte angustiada, esperando que o telefone tocasse e ela pudesse ouvir a voz de Horácio convidando-a para sair, declarando-se para ela... Mas Horácio não ligou. Em todas as oportunidades que tinha, verificava seu e-mail, mas não havia mensagem alguma de Horácio.
Manteve seu telefone celular preso à cintura por dias a fio, apesar de achar esteticamente horrível, mas não poderia perder uma ligação sequer. Não perdeu. Mas nenhuma delas era de Horácio. Os dias passavam lentamente durante as férias escolares e Luana vivia angustiada, sempre à espera de algum acontecimento que mudasse sua vida.
Assim passaram-se seis angustiantes meses. Na faculdade, Horácio sequer olhava para ela. Por vezes, fingia que não a conhecia. E Luana sentia um aperto no peito, uma agonia todas as vezes que via Horácio. Um dia, quando entrava em uma pizzaria, viu Horácio sentado em uma das mesas com sua namorada. Ele a viu, mas sequer acenou ou cumprimentou. Virou o rosto, abraçou e beijou a namorada.
E foi em meio a esse turbilhão de lembranças que Luana subiu ao altar, vestida de noiva. Era uma noite triste. Chovia copiosamente do lado de fora da igreja. Seu noivo sorriu ao vê-la entrando de braço dado com seu pai. Ao ver esse sorriso, Luana não conseguiu conter as lágrimas. Sentia remorsos. Não teve coragem de dizer a ele que ela não era digna de seu amor, pois havia se apaixonado por outro homem enquanto estavam noivos e o amava. E esse homem a desprezara. Não teve coragem de dizer ao seu noivo que tinha muita consideração por ele e, por isso, não o enganaria mais, que era melhor terminarem. Mas ela foi covarde durante todo esse tempo e permitiu que seus pais organizassem uma linda cerimônia de casamento. E agora, naquele altar, perante Deus e a comunidade, perante todos os convidados, Luana era covarde ao prometer fazer Eduardo feliz...
Luana aguardava ansiosa o início da aula de Parasitologia. O professor, Horácio, entregaria o resultado do primeiro relatório de aulas práticas. Luana havia se esforçado muito para fazer um relatório digno de ser considerado brilhante. Queria de todas as formas agradar Horácio e chamar sua atenção. O professor era um homem jovem, na faixa de seus 35 anos, másculo e charmoso, muito charmoso. E era solteiro.
Os esforços de Luana foram reconhecidos. Horácio elogiou seu relatório, embora não tenha atribuído o adjetivo “brilhante”. Mesmo assim, Luana continuava a esforçar-se. Tinha 29 anos e a faculdade de Enfermagem era a segunda que cursava. Todas as tardes, trabalhava como supervisora em uma escola pública da rede estadual de ensino. Estava completamente encantada e apaixonada por Horácio. Este, por sua vez, tratava-a com a mesma cordialidade com que tratava todas as outras alunas.
A cada dia que passava, Luana sentia-se ainda mais atraída por Horácio e mais confusa. Sofria com sua indiferença e esforçava-se por ter sempre o melhor desempenho da turma, seja nas provas, nos trabalhos ou nos relatórios. Ao final do semestre, suas notas realmente se destacaram em relação à turma e Horácio perguntou se ela estaria interessada em ser monitora da disciplina no próximo semestre. Luana ficou radiante. Ser monitora significava que ela teria contato por mais tempo com Horácio. Contudo, havia o problema de seu emprego. Sem ele, Luana não poderia pagar a faculdade. Horácio explicou-lhe que ela poderia ser monitora no período noturno, pois o monitor da tarde continuaria por mais um semestre. Luana aceitou, sem titubear.
E assim, três vezes por semana à noite, Luana ia para o Laboratório de Ensino de Parasitologia, ajudar Horácio e os alunos da disciplina durante as aulas práticas. Depois das aulas, próximo às provas, alunos permaneciam no laboratório para tirarem suas dúvidas com Horácio e Luana, que continuava estudando Parasitologia com afinco. Afinal, não poderia decepcionar Horácio, que lhe confiou uma tarefa da maior responsabilidade. A monitoria fez com que Luana se aproximasse de Horácio. Conversavam sobre muitas coisas: política, religião, esportes, a profissão de enfermeiro, a profissão de professor, as disciplinas que Luana cursava naquele semestre, provas, família...
Essa proximidade, mesmo que incipiente e amena, fez com que Luana se encantasse ainda mais com Horácio. E ela podia jurar que Horácio estava se interessando por ela. Contudo, Horácio não tomava qualquer iniciativa de aproximação mais ousada. E Luana ficava perturbada com isso. Um dia, criou coragem e perguntou se Horácio era casado.
- Não, não sou casado. Mas tenho uma namorada.
- É? Há quanto tempo namoram? Pensa em se casar com ela? – indagou Luana.
Horácio sorriu. Disse que namorava há quase um ano e que não pensava em se casar, afinal sua namorada tinha apenas 22 anos e estava começando o mestrado no mesmo laboratório onde Horácio fazia seu doutorado. Ambos precisavam ter uma situação profissional e financeira mais segura para isso.
Caíram os castelos de areia de Luana. A namorada de Horácio era mais jovem do que ela e era mestranda. Ela era supervisora de escola e estudante de enfermagem. A moça devia ser bastante inteligente, pois tão jovem já havia sido aprovada em uma seleção de pós-graduação numa área bastante concorrida.
Luana passou algum tempo pensando numa maneira de fazer Horácio interessar-se por ela e ambos ficarem juntos. Depois de algumas noites em claro, concluiu que era uma mulher madura, razoavelmente experiente e que poderia muito bem declarar-se para Horácio. Mas faltou-lhe coragem. Quando Horácio se aproximava, Luana não conseguia falar o discurso que havia ensaiado várias vezes na frente do espelho do banheiro.
O semestre chegou ao fim e Luana não havia conversado com Horácio sobre o amor que sentia. No último dia de monitoria, Luana resolveu aproximar-se dele de uma maneira indireta. Em um pedaço de papel, escreveu: “Horácio, não consigo mais sufocar dentro de mim o amor que sinto por você. Por favor, me ligue ou me escreva. Luana.” E anotou o número de seu telefone celular e e-mail. Colocou o papel dentro de um envelope e deixou-o no pára-brisa do carro de Horácio.
Passou o dia seguinte angustiada, esperando que o telefone tocasse e ela pudesse ouvir a voz de Horácio convidando-a para sair, declarando-se para ela... Mas Horácio não ligou. Em todas as oportunidades que tinha, verificava seu e-mail, mas não havia mensagem alguma de Horácio.
Manteve seu telefone celular preso à cintura por dias a fio, apesar de achar esteticamente horrível, mas não poderia perder uma ligação sequer. Não perdeu. Mas nenhuma delas era de Horácio. Os dias passavam lentamente durante as férias escolares e Luana vivia angustiada, sempre à espera de algum acontecimento que mudasse sua vida.
Assim passaram-se seis angustiantes meses. Na faculdade, Horácio sequer olhava para ela. Por vezes, fingia que não a conhecia. E Luana sentia um aperto no peito, uma agonia todas as vezes que via Horácio. Um dia, quando entrava em uma pizzaria, viu Horácio sentado em uma das mesas com sua namorada. Ele a viu, mas sequer acenou ou cumprimentou. Virou o rosto, abraçou e beijou a namorada.
E foi em meio a esse turbilhão de lembranças que Luana subiu ao altar, vestida de noiva. Era uma noite triste. Chovia copiosamente do lado de fora da igreja. Seu noivo sorriu ao vê-la entrando de braço dado com seu pai. Ao ver esse sorriso, Luana não conseguiu conter as lágrimas. Sentia remorsos. Não teve coragem de dizer a ele que ela não era digna de seu amor, pois havia se apaixonado por outro homem enquanto estavam noivos e o amava. E esse homem a desprezara. Não teve coragem de dizer ao seu noivo que tinha muita consideração por ele e, por isso, não o enganaria mais, que era melhor terminarem. Mas ela foi covarde durante todo esse tempo e permitiu que seus pais organizassem uma linda cerimônia de casamento. E agora, naquele altar, perante Deus e a comunidade, perante todos os convidados, Luana era covarde ao prometer fazer Eduardo feliz...