O Fotógrafo - (Despedida)

È tarde de inverno, em meio ao imenso horizonte,

Uma brisa que passa me beija e me acalma.

Vento que sopra, traz consigo caminhos e experiências,

Que alimentam meu espírito e também a minha alma.

Sem sincronismo algum, dança em meio ao infinito,

Me atrai, me convida, me traz paz e me mantém envolvido.

Brisa quente que me afaga e traz o teu perfume consigo,

Traz até mim de volta lembranças e me oferece abrigo.

Lente que observa, atravessa o horizonte e capta cada detalhe, cada cor, cada movimento, cada imagem. Em meio a uma bela paisagem sinto o ar puro entrar e sair dos meus pulmões, sinto minha mente fluir e se moldar ao imenso horizonte a minha volta. A lente me traz grandes prazeres, mas em meio a minha busca pessoal, nunca em uma imagem, pude suprir meus maiores anseios. Sentado e perdido em meio a lembranças, me entrego ao silêncio e me refugio para dentro de mim, diante da solidão, vozes que gritam desejando um afago, uma resposta, um algo que cale suas dores e frustrações. Procuro em cada voz uma única, que há algum tempo deixou de se fazer presente, que dolorosamente se calou em meio ao acaso. Sinto sua falta e a mantenho sempre de alguma forma em mim, seja nos meus sonhos, nos meus pensamentos ou nos meus anseios. Às vezes me pergunto se estou tão presente para ela como ela para mim, na verdade nem sei se isso seria possível ou se seria o certo, só sei que para cada lugar que eu olho, me sinto rodeado pela sua graça, sinto sua luz que me afaga, que me contorna quase que me abraçando e não me deixando seguir na sua contramão. Talvez seja coisa da minha cabeça, fantasias criadas pelas dores, pois o sentimento se manteve, alimentando sua presença, alimentando a frustração e alimentando a dor. Às vezes me pergunto o porquê desse dom de ouvir, se nem ao menos ouço uma palavra sua... A emoção toma conta e em meio às lembranças, me perco em lágrimas e mais uma vez, nessa busca incansável, já sem qualquer esperança de ouvi-la ou de qualquer contato, pego minha câmera e me levanto, pronto para voltar a frustrante realidade, mas ao me levantar, sinto um forte vento bater em meu peito e derrubar minha câmera sobre o chão, quase como se estivesse me pedindo para ficar. Logo senti meu coração pulsar forte, uma batida que me fez estremecer, minha visão tremeu, as cores e as imagens se distorceram e o ar me faltou. Senti o chão sumir, minhas mãos passaram a formigar e minhas pernas passaram a tremer. Pude senti-la em minha alma, tomando conta de todo o meu ser, eu jamais esqueceria aquela voz, a tua maneira doce de falar, eu estava anestesiado, suando frio:

-Ainda posso admirá-lo, apreciá-lo,

Senti-lo perto, sentir as tuas emoções.

Sei que sofre, escuto teus chamados,

Tuas lagrimas e as tuas frustrações.

O que tivemos se eternizou,

Ainda vive em mim, és minha realidade.

Ouça-me, sinta-me, saiba que a tua verdade,

È a minha verdade!

Estarei presente em cada lembrança,

È hora de seguir em frente e me deixar ir.

Não me perdeu e jamais me perderá,

O que vivemos sempre irá reluzir.

-Ainda guardo em mim os teus traços,

Os teus risos, teus olhares e reações.

Quase que ainda posso sentir,

E ouvir a sintonia de cada batida de nossos corações.

Sinto sua falta, a procuro em cada voz,

Em cada momento, em cada lugar.

Procuro o teu beijo, o teu toque,

O teu carisma, o teu jeitinho, o teu olhar.

Ouço tudo e ouço todos,

Mas o teu silencio é que é sempre ensurdecedor.

Eu precisava te ouvir, me despedir,

Trazer paz a esse amor.

A brisa então a contornou por inteira, dando forma a todos os teus traços. Nossos olhares então se encontram, pude assim sentir tuas mãos afagarem meu rosto, pude novamente sentir os teus cabelos encaracolados entrelaçarem sobre os meus dedos, o teu belo sorriso e cada traço que sempre se fizeram presentes em meus sonhos e pensamentos. Em meio a tanta emoção e intensidade, sinto os meus lábios tocarem os teus e a brisa já aquecida, faz jus ao teu toque sutil, permitindo nossos lábios se moldarem e dançarem num beijo tão desesperadamente desejado, no entanto, um beijo de despedida.

(SUJEITO A MUDANÇAS)