OS GALANTEADORES
Eu odeio os galanteadores de varandas!
Ou odiava?
Acho que ainda odeio, afinal, não se pode deixar de odiar.
Esses nobres de espírito cavalheiresco protagonizam situações embaraçosas.
O orgulho sobranceiro não os absolve das merecidas censuras.
As varandas não estão sempre vazias?
As donzelas não dormem ao som das músicas?
Se não dão o ar da graça é porque dormem!
As que dormem em um momento de romantismo
Fazem das varandas túmulos ausentes.
Ando eu agora por sobre a calçada que tão bem conhece meu caminhar
A calçada do tráfego de meu dia-dia
No meio da passagem que me era sempre livre agora se encontra um belo jovem
Um joelho no chão, sentado por sobre a perna, carrega nas mãos um afinado violão
Olha para algo, no alto, como a procurar...
Demonstra não encontrar o que tanto anseia ver
Mesmo assim têm um olhar brilhante e um sorriso estonteante
Percebo que se trata de um apaixonado
Pobre diabo; imaginei, mais um que não é apego a razão e é refém da ignorância
Paro como para observá-lo e assim o faço por um bom tempo.
De tanto olhá-lo, surge em meu coração o ânimo de também invejá-lo
As notas que produz no violão e o cantar suave que também entoa parecem não produzir efeito na figura da pessoa a que é dirigida, mas em mim causou uma impressão tamanha.
Há um último menear da mão direita sobre a corda
No mesmo instante a mão esquerda elabora um último acorde
Seu sorriso é ainda maior
Todo ele é sofisticado harmonia
Levanta-se da calçada que o escolhera, faz uma mesura respeitosa ao descer o tronco ao chão, gira por sobre os calcanhares e segue em direção à rua.
Sou tomado pela angustia, pela frustração e, sobretudo sou tomado pela indignação.
O gesto mais cortês que pudera testemunhar fora renegado por uma ausência atroz de donzela.
Acredito que a dona daquela varanda seja realmente uma donzela
Mas têm o coração vazio de dádivas humanas
Porque o amor é sentimento para ser sentido
Ser admirado
Prestigiado, ora, pois!
Acho que a bem da verdade já não mais odeio os galanteadores de varandas.
Ao expressar seus sentimentos á luz de uma simples janela
Separados pela altura muitas vezes inalcançável de um amor impossível
Traduzem o que nós seres humanos temos de mais belo a conservar
A espontaneidade de uma vida repleta de sensações várias
Que explodem no peito na luta para serem ouvidas
Restituiu-me a vida rapaz!
Já agora prevejo não mais enxergar o mundo da forma como outrora via.
Mas a confirmação doce que ganhara serenou-me ainda mais o coração.
Sou, de repente, brindado pelo infortúnio destino.
Olho a janela da varanda a pouco tão desejada pelo violinista
Nela vejo um rosto enrubescido de uma jovem moça que se esconde por detrás de uma cortina azul do mar.
Nela está abraçada, como a suspirar, levando um sorriso que me parece bastante familiar...
Watson Cortez