MUDANÇA DE PLANOS

MUDANÇA DE PLANOS

“Vende-se vestido de noiva em fase de provas, festa com DJ e Buffet completo já contratados para daqui a 3 meses. Incluído o aluguel do salão de festas, decoração, álbum com 200 fotos e pacote turístico de 2 semanas para o casal conhecer Canelas, Florianópolis, Praia da Joaquina, Balneário Camburiu com café colonial incluso. Tudo pela metade do preço. Motivo: Mudança de planos. TRATAR COM VANESSA: 2207-1192”

Vanessa perdeu a conta de quantas vezes leu e releu o anúncio que ela mesma colocou no jornal há um dia atrás. E raras foram as vezes que não ficou com os olhos úmidos a cada vez que lia: mudanças de planos...

Quem mudou os planos? Poderia culpar ao destino? A si? Ao noivo? Haveria um culpado?

Paulo ganhou 2 passagens para o Caribe num sorteio... O sonho da mãe de Paulo, viúva e que quase não saía de casa, era conhecer o Caribe. Atarefada com os preparativos para o casamento, foi ela, Vanessa quem insistiu que a futura sogra acompanhasse o filho em seu lugar... Burra, mil vezes burra!

Achou que o amor deles era infinito... Tão infinito como o calor caribenho, as maracás e as muchachas rebolantes, cheias de tempero e malícia...

Estranhou que Paulo não tivesse ligado, mas com certeza estava se divertindo... E estava mesmo... Sem caráter... Sem-vergonha! Sem-sem... Sem tudo de ruim... Sentia um misto de raiva, tristeza e frustração...

Ligou para Paulo para saber se estava se divertindo e ele, sem consideração, numa alegria exuberante, disse sem rodeios:- Você não vai acreditar... Olha só como é o destino... Ficamos tanto tempo juntos e nas vésperas do nosso casamento, descubro que te amo como a uma irmãzinha...

Só poderia ser uma brincadeira de mau- gosto... Paulo estaria bêbado? Não poderia estar falando sério... Perguntou pausadamente: - Como assim? Não estou entendendo...

Do outro lado, Paulo continuou: - Sabe aquelas paixões arrebatadoras que a gente só vê em filmes? Nunca achei que seria possível, Van. Eu estou de quatro, com os pneus arriados... Completamente apaixonado! Estou tão feliz! Sei que você quer a minha felicidade! Nem preciso dizer que não vamos mais nos casar... Van,um dia você vai encontrar alguém que te mereça. Van... Você diz pra todo mundo que não vamos mais nos casar? Pode dizer que você não me quis mais, sei lá... Inventa um desculpa, Van...

Vanessa queria gritar, chorar, xingar, mas não conseguiu dizer nada e desligou o telefone, quando percebeu que ela segurava o telefone e não tinha ninguém do outro lado da linha...

Queria sentir raiva, mas só sentia dor, além de uma sensação estranha no estômago, como se tivesse levado um soco...

Será que Paulo tinha razão? O amor deles não passava de um mal-entendido fraternal? E o vazio que estava sentindo? Era só a dor do abandono?

Saiu de casa e andou sem rumo, até começar escurecer e se dar conta dos pés doloridos...

Na cabeça nenhum pensamento... Precisava andar, andar, andar...

Tomou um banho de horas... Entrou na banheira e ficou lá olhando pro teto até os dedos enrugarem... Não queria pensar, não queria sentir, não queria respirar...

Afundou-se na água já fria e ficou imersa debaixo da água, até que seus pulmões pediram ar... Levantou-se da banheira num pulo, como se tivesse acabado de acordar... Era um pesadelo real... Nem precisava se beliscar...

Ainda enrolada na toalha, rascunhou umas palavras num papel qualquer e ligou para o setor de anúncios de um jornal, pedindo que publicassem por uma semana seguida...

Pronto... Parte prática resolvida, mas e os cacos do coração? Algo dentro dela se quebrou...

Olhou para o espelho e não gostou do que viu... Era como se tivessem tirado a vida de seus olhos...

Fez um chá de camomila, sentou-se encolhida no sofá, sorveu o chá aos golinhos, como se fosse a coisa mais importante do mundo a fazer, até que adormeceu...

O sol entrava pelas frestas das cortinas e com uma careta, Vanessa acordou... Tinha que ser prática... Não agüentaria dizer um a um de seus amigos e a seus pais e parentes que não haveria casamento...

Ligou para a sua irmã e sem alarde, disse que queria reunir os pais, parentes mais próximos e amigos mais chegados... Mesmo com a insistência da irmã, não adiantou o motivo da reunião...

À noitinha, todos chegaram para a reunião com ares de festa e logo estranharam o jeito apagado de Vanessa! Mesmo assim, havia alguns salgadinhos, petiscos, torradinhas com patês diversos, sucos e refrigerantes...

Quando todos estavam reunidos, Vanessa disse que tinha um comunicado a fazer: - Chamei vocês aqui e já devem ter percebido que não ganhei na loteria... Talvez um dia até ache que foi bom ter sido assim... Eu simplesmente não agüentaria ter de contar muitas vezes a mesma história... O Paulo conheceu alguém sensacional e simplesmente comunicou que não haverá mais casamento...

Todos olhavam para Vanessa em silêncio, sentindo a sua dor e ouvindo com respeito o que parecia tão difícil de falar...

Enquanto falava, lágrimas teimosas desciam pelo rosto de Vanessa e ela as enxugava com as costas das mãos... Queria dizer também, continuou... – Vou vender todos os preparativos do casamento e com o dinheiro vou viajar. Ainda não tenho um roteiro planejado, mas preciso ficar inteira de novo! Não vou sumir... Terão notícias boas, espero... Não quero que se entristeçam por mim... Essa tristeza é só minha e vai passar e quero vê-los aqui, me esperando felizes quando eu voltar... Também vou mudar de ares, mudar meus planos, seguir minha vida!

Todos se juntaram em volta de Vanessa num abraço gigante, apertado e embolado...

Nesse abraço, Vanessa sentiu uma pequena alegria se acender em seu coração! Estava entre amigos... Nem precisou contar-lhes os detalhes. Era um abraço por sua felicidade!

sukie hikari
Enviado por sukie hikari em 19/06/2010
Código do texto: T2328333
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