O Fotógrafo (Pintando um momento)

Manhã de quinta feira, sol que brilha, mas não se sobre sai sobre o clima frio. Sempre antes de cada dia de trabalho, antes de cada sessão de fotos, procuro algo que me inspire, que me traga novos ares, amplie meus horizontes. Recebi um convite para ir a uma exposição de quadros, pinturas de famosos e anônimos e achei que poderia ser algo bom para o meu trabalho, sendo assim, aceitei. Chegando ao local, uma enorme sala oval, me deparei com inúmeros quadros, alguns eu não entendia nada, tão abstratos, mas outros me chamaram atenção, na verdade um em especial. Era de um pintor anônimo, não havia assinaturas nem nada que o identificasse. Geralmente em uma fotografia, a imagem é real, capta exatamente como ela é, já em uma pintura, o pintor geralmente a faz a sua maneira, algo que me fez viajar e refletir diante de cada traço. O quadro mostrava um lugar lindo, flores, céu azul, uma cachoeira azul quase que transparente, que caía em águas tão limpas que me permitiam ver peixes e conchas por debaixo delas. Árvores cheias de frutas coloridas e de vida, era como se o lugar jamais tivesse sido tocado por alguém, eu até acreditaria nisso não fosse a linda mulher ajoelhada sobre a grama e colhendo tulipas. Teus cabelos ruivos escorriam sobre a tua pele clara. Ela usava um vestido branco, todo delicado... Teus pés descalços não ofereciam atrito às flores, era como se ela fosse capaz de andar sobre elas, como também fosse capaz de andar sobre as águas. Um beija flor pousara em teu ombro direito, era como se eles se conhecessem, um momento único, como se o pintor estivesse tentando pintar o paraíso a sua maneira, envolta de sua musa. O quadro estava à venda, não pensei duas vezes e o comprei. Não resisti e logo o coloquei exposto em meu estúdio, eu não conseguia parar de olhar.

Eu sempre gostei de fotografar paisagens, pois é sempre um momento de reflexão pra mim, não envolve apenas cores, um ambiente ou uma imagem, vai além disso. Tem também a ver com o auto conhecimento, sentir o meu momento, o meu estado de espírito. Quando me proponho a fotografar algo assim, eu procuro esquecer a câmera, a mantenho longe das mãos e me concentro apenas em mim mesmo. Não olho a minha volta, pois sei que a inspiração está dentro e não fora, então apenas penso e viajo para dentro de mim, pois assim, transmito o meu momento para a imagem, seja triste, feliz, apaixonado, desiludido, que seja, vivo o que sinto e dessa forma, sigo meu trabalho procurando o meu momento e não a imagem perfeita.

Vivendo aquele momento, era notável minha inspiração, sendo assim, iniciei meu dia de trabalho cheio de expectativas. Logo fui surpreendido, eu teria que fazer uma sessão em meio a um jardim, parece que a modelo tem uma paixão por flores e sendo assim, escolheu ser fotografada diante da natureza, o que foi perfeito, era justamente o clima que existia em mim. Ela mesma escolheu o ambiente e ao chegar lá, a surpresa maior, pois o lugar era exatamente como no quadro, a cachoeira, o jardim, e eu podia até jurar que vi aquele mesmo beija-flor... Aquilo me impressionou e diante de toda aquela surpresa, iniciei minha sessão. A modelo era diferente, geralmente me apareciam moças entre dezessete e vinte cinco anos, já ela, era mais madura e a sua segurança era admirável. Números nunca definiram uma pessoa para mim, mas vejo que o tempo fez muito bem a ela, de maneira que ela se mostrava muito segura de si e aquilo me inspirava ainda mais. Eu não precisei dizer nada, ela se conhecia, sabia onde e como poderia se fazer notar. Ela era muito bonita, mas tinha algo nela que era incrível, talvez toda aquela confiança, que era contagiante, até a lente se encantou com teus gestos, olhares e traços. De fato ela parecia amar a natureza, a forma como colhia uma flor, como a cheirava, como interagia diante daquilo tudo... Era incrível!

Após a sessão, eu tentei de alguma forma chamar sua atenção, eu queria muito conhecê-la, eu estava encantado com ela. Passaríamos um fim de semana inteiro em uma pousada ali perto, até a sessão acabar por completa, sendo assim, não resisti e a chamei para um jantar, para conversarmos e nos conhecermos. Ela sempre tão gentil, sempre com um sorriso aberto, aceitou o convite. Passamos uma noite muito agradável, sua segurança se fez presente em cada momento. Tuas idéias, teus gostos, teus olhares, traços, gestos, tudo era encantador, eu até achei possível aquilo ser proposital, se não fosse tão natural. Após um belo jantar, mantivemos o dialogo em meio a taças de vinho, eu não queria que aquela noite acabasse ali e percebi que ela também não, e para minha surpresa, tínhamos algo mais em comum: “Prorrogadores de prazer”. Onde o ato em si não nos convidava, estávamos amando viver aquele momento de sedução, onde o sangue ferve e os instintos nos enlouquecem... Sexo é bom, não vou negar, mas ele é só um detalhe. Prazeroso mesmo é viver o momento pré-sexo, onde os sentidos ficam mais aguçados, o toque fica mais sensível, o beijo tão mais prazeroso, onde sentimos nosso coração bater forte e todo o nosso desejo explodir diante de nós sem que possamos impedir, é incrível isso. O sexo é o clímax, como uma lâmpada que brilha intensamente como nunca brilhara, antes de se apagar por completa. Vivemos o nosso momento a nossa maneira, e o vinho só fazia ainda mais os instintos gritarem. A noite passou sem que nos despedíssemos, ao acordar, lá estava ela, deitada, usando uma roupa leve, macia, que contornava bem os teus traços, que se sobre-saiam diante do tecido quase que transparente na cor salmão, bem clarinho. Cabelos espalhados sobre a cama, respirando calma, relaxada... A imagem mexeu comigo, então me vi indo ao teu encontro, já era dia, um dia pos uma noite agradável. Fiquei observando-a, teus traços, reações, aquele momento tão dela, mas querendo de alguma forma fazer parte daquilo. Logo me aproximei mais, pude sentir o teu perfume, minhas mãos deslizando de leve sobre tua pele macia e ela então sorriu. Abriu os olhos e logo eu a beijei, minhas mãos acariciaram teus seios, ela de costas pra mim, teus pés ja inquietos, e enquanto eu a beijava, pude sentir no meu pecado, tua pétala fervendo, teus gemidos abafados pelos meus beijos, tuas mãos cariciando meu rosto...

No encontro do beijo, nossos lábios que dançam,

Se moldam, desejam, se beijam e não se cansam.

Teus suspiros que se calam, sufocam, diante dos meus beijos,

Nos teus olhos ja fechados,

Diante da intensidade, de prazeses e desejos.

Na tua pele o vinho, que deslisa, passeia,

Aguça os desejos e o momento encendeia.

Meus labios a contorna, sinto o gosto do teu prazer,

Pele clara, ficam marcas, diante dos pecados, não pude me conter.

Teu prazer no meu prazer, olhos nos olhos, Sinto tua pétala fervendo.

Teus dedos me rasgarem, teu corpo se rendendo.

Uma dama na cama, uma lady desvairada,

Me atrevo, a rendo, mocinha malvada.

Olhos nos olhos, olhar de garoto,

Atrevido, seguro e um sorriso maroto.

Menino desejo, a deseja inteirinha,

Morde os lábios, provoca, desflora a mocinha.

Teu mel na minha boca, eu aprecio o sabor,

Nos meus lábios o teu pecado, o bebo com fervor.

Meus lábios molhados, molhados por teu mel,

Massageiam teu corpo, te levam ao céu.

Tua pele macia, suada e cheirosa,

Na minha boca ela arde tão apetitosa.

Te olho nos olhos, então beijo tua boca,

Seguro os teus cabelos, no ouvido a tua voz ja rouca.

Ao pé do ouvido os anseios, palavreados e desejos,

Mesclando em suspiros, entre toques e beijos.

Mãos que deslizam, bocas que mordem e que beijam,

Prazeres intensos, que gritam e latejam.

Nossas mãos entrelaçadas,

Levo o teu dedo a minha boca, vinho é o sabor.

O desfruto como um controle,

Beija meu pecado, conforme beijo teu dedo indicador.

Sentir tua boca, beijar meu pecado,

Fazendo o prazer cada vez mais se expandir.

Enquanto me olha nos olhos,

Bebe o meu prazer e me faz explodir.

Aquilo foi incrível, pecar ao nascer do sol, ela nos meus braços, os raios de sol tocando teu corpo nu sobre o meu, todo o momento em si, perfeito. Após aquilo, as sessões de fotos foram ainda mais incríveis, mas logo acabaram e tivemos que partir. Ao chegar na agencia, a convidei para ir até a minha sala, logo que ela entrou se deparou com o quadro e disse:

“Eu pintei esse quadro”

(Sujeito a mudanças)