Perdão.

Então eu estava ali, parada, sob a chuva, esperando um pouco de amor. Sentindo-me tão devastada, sozinha, arruinada. Tão imensamente desesperada por algo ou alguém, e as gotas gélidas me caiam sobre a face, enrugando-me a expressão.

Eu era a dor em sua imensidão. A agonia em sua plenitude. Eu sufocava em meu próprio corpo, lutando contra algo infinitamente superior. Em meu peito aquele vazio horripilante, aquele grito fraco de vida.

Quanto tempo eu poderia ter ficado ali eu desconheço. Só sei que de mim alguém, um completo estranho, se aproximou. E ele, não era como qualquer um. Não tinha os olhos verdes, nem o jeito pretensioso.

Mas tinha o calor mais intenso e sedutor que alguém poderia ter. Mas eu hesitei, eu vacilei. Não me entreguei, não me deixei levar. Eu não queria arriscar, eu tinha medo.

Então eu não o quis. Eu o desprezei, eu mandei-o embora.

- Fora, fora! – sem nenhum pudor.

E o vazio me dominou, se contorcendo impiedosamente como se dilacerasse meus órgãos vitais. Então eu quis espernear de dor, de cansaço, de tristeza. Eu quis urrar, desferir gritos contra o mundo cruel.

Mas era como se nem mais a voz eu tivesse. Era como se eu estivesse muda, incomunicável. Então eu fiz sinais, eu busquei toda a gente. Mas toda a gente não me ouvia, não me entendia.

E quando eu decidi que aquela seria a última hora de sofrimento, ele retornou. Cheio daquele calor, cheio daquela compreensão. E enfim eu compreendi, enfim eu compreendi.

Rafaela Barros
Enviado por Rafaela Barros em 15/06/2010
Reeditado em 15/06/2010
Código do texto: T2321598
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