Aconteceu em 12 de Junho
Era uma vez um garoto e uma garota. Por 16 anos de suas vidas, não sabiam da existência um do outro, não faziam a mínima ideia. Acidentalmente encontraram-se quando ele ficou propositalmente até tarde num lugar, conversando com uma amiga.
As amigas da amiga se apresentam, e na semana seguinte se encontram novamente, quando quase esquece o nome das duas, lembrando só o da garota com um pouco de esforço. Poucos dias depois, pede o MSN de cada uma, vendo que ambas são muito simpáticas.
Na primeira vez que conversara com ela, percebeu de primeira a personalidade da garota ali mesmo na conversa pela limitação das frases pequenas. Sem muita demora, identificou-se com ela de várias maneiras, com os pensamentos sobre os silêncios da música, a beleza do céu noturno e diurno, das pessoas que passam na rua e nunca se encontram.
Na terceira conversa, mais ou menos, marcaram um encontro na praça da cidade, lugar que ambos consideravam calmo e confortável, por onde sempre passavam quando possível, nunca acidentalmente esbarrando um no outro até então.
Sentados na grama, encostados num tronco forte, a uma hora que passou foi rápida, mas ao mesmo tempo, duradoura. Devanearam sobre amores, gostos e desgostos, a música novamente, pequenos momentos... passando um pouco de frio enquanto anoitecia, trocando olhares longos e intensos, alguma coisa estranha acontecia.
Despedidaram-se depois, quando acompanhou-a até uma esquina próxima ao seu destino. Algo estranho tinha acontecido, um frio na barriga perseguia-o, aparecendo como sustos repentinamente até o fim da noite. "Impressionante", pensava. A palavra soava errada, mas não conseguia pensar em nenhuma outra.
Foi então que na semana seguinte, se encontraram novamente de uma maneira totalmente inesperada. Planejada, mas inesperada. Muito conversaram sobre o intenso primeiro encontro na praça, sobre o que pensavam sentir, sobre o que parecia ter mudado, sobre medo de se expressar. Assim que se viram, ele entregou-a uma carta, e ela entregou-lhe uma rosa de papel que fez em casa.
Tudo não apenas "parecia" mais. Era tudo claro, tudo cristalmente perfeitamente claro, mas mascararam por um tempo, como se não estivessem ali para revelar o que realmente sentiam. Ele tocou violão por uns momentos, com medo de errar alguma nota. Muito conversaram por todos os minutos ali, sobre o céu novamente, sobre pedidos à estrelas, sobre como deve ser a vida de um passarinho, sobre infância...
Mas logo, um momento de silêncios breves começaram a provocar. Ele achou melhor tirar a máscara.
A cortina começou a cair quando ela pediu o primeiro toque. Com a ponta de um dedo, tocou sua mão que estava apoiada no joelho. Ele sentiu o coração não acelerar, mas bater mais forte. Acariciou o dedo dela, em seguida, dois, três, até ter a mão inteira. A sensação era indescritível. Disse que aquele era um dos momentos que poderia durar pra sempre.
Não muito depois, levantaram, e de mãos dadas, passearam pelo centro da cidade em direção ao bairro onde ela mora. Ela riu um momento, dizendo que era engraçada a situação, naquele segundo encontro marcado ser tão deliciosamente acidental e imprevisível. A certo ponto, ele disse que poderia escrever disso mais tarde, sem precisar inventar nada. Talvez um final misterioso, que daria um ar diferente, de fazer ficar pensando a respeito um tempo.
Muitas ruas depois, chegaram na casa em que ela parava. Era a despedida. Ele não era dormente o suficiente para não se tocar do que estava sentindo. Conversaram mais cedo sobre o beijo, que era tratado como o começo de algo. Seus amigos o incomodaram por não tê-la beijado antes, mas estava esperando o momento certo para começar algo, não queria beijá-la para satisfazer os outros.
Abraçaram-se por bons segundos. Seu coração agora batia forte e rapidamente. Perguntou-a se podia sentí-lo, ela disse que sim.
Perguntou-a se era a hora. Ela entendeu. Disse sorrindo, que talvez já tivessem acontecido coisas demais para um dia. Ele disse que talvez, tudo tenha sido um plano para chegarem naquele momento.
Você não se importa se eu tentar?, perguntou, lembrando de que lhe falaram para nunca perguntar tal coisa. Ela sorriu.
Aproximou-se, deixando os lábios se tocarem devagar. Como se fosse mágica, o tempo parou. Ali, muito próximos, ela perguntou o que estava acontecendo. Ficando? Não, fraca demais, ele disse. Namorando? Forte demais, ela disse. Não precisamos rotular, ele finalizou.
Trocaram sorrisos, mais um beijo, e ele partiu.
Ele acordou do sonho, extasiado, meio perdido. Sentou na cama, ainda se perguntando se podia mesmo ter sido tudo tão real e nunca ter acontecido.
Bocejou um pouco decepcionado, até ver uma rosa de papel ao lado de seu travesseiro.