Motivo

Desligou a TV, respirou fundo e sentiu o gelado do chão com seus pés descalços. Milhões de pensamentos formavam um nada em sua mente, estava estarrecida, confusa e só. Caminhou até o balcão e acendeu sua vareta predileta de rosas, a fumaça subia e enchia seu coração de um sentimento estranho, chorava e sorria. Em sua mente sem motivos.

Chorou pelo passado, pelas pessoas que perdera no caminho, sorria pelo presente, por que conseguia encontrar todas dentro de si. Olhou para o calendário, a fragilidade da data não a afetava, naquele instante era tocada apenas pelo aroma de rosa em seus pulmões, pelas lágrimas escorridas na face rosada e pelos olhares perdidos em seus pensamentos. Questionou-se alguns instantes, mas o que menos queria naquele momento era respostas.

Ficou ali, num misto de alegria e estranha tristeza. Queria entender as emoções, o que a provocava. Fixando o olhar na fumaça dançando no ar foi remetida a algo maior, tocou o divino em sua mente, entendeu que tudo era amor. Soube ali que qualquer que seja ele, toca na alma e só o que toca na alma pode provocar o choro e o riso ao mesmo instante. Também se chora de felicidade, de saudade, de dor. A vontade de ver e tocar novamente o inalcançável é impulsionada pelo amor que se foi em alguém, mas permanece indelével na alma.

Enxugou a face com a palma das mãos, tremeu o queixo de frio e sorriu. Naquela noite, se aqueceu com a certeza dos amores. Entendeu que sempre haverá motivos de sobra para rir ou chorar, mas apenas um para uni-los.