A rosa palestina e o colibri israelense



Uma roseira germinou ao lado do Muro de Sharon na Cisjordânia. Com os galhos leves e frios se escorava na proximidade da cerca do lado israelense, desenvolvendo uma haste preponderante. E naquela manhã de sol ardente, abrolhou uma esplêndida rosa azul com a sua corola aberta, e respingando o orvalho da manhã.


E neste momento, um colibri de coloração azulada revoando naquelas instâncias da cerca que separa o coração palestino, este, empreendeu um maravilhoso voo na atração da exuberante florzinha aberta. Insinuando o minúsculo pássaro, e dando marcha à ré. Logo,  pairou no ar, admirando a beleza daquela solitária rosa azul refletida pela luz solar. Sem qualquer embargo e confuso, o colibri indagou:

-Ei minha rosa azul! Como tu nasceste aí no lado Palestino?

A rosinha hirta entre o belo olhar, respondeu:

-Eu vim para que todos tenham vida e que paz seja semeada por minhas pétalas com perfume que agrada a todos.

O pássaro analisando a florzinha, indagou imediatamente:


-Por que choras minha rosa azul?


Calada, retorceu em direção ao pequeno pássaro. Insistentemente inquiriu novamente:

-Não vais me responder? Diga-me por que choras? Diga-me? Falas-me dos problemas, eu preciso saber.

A roseira balançou a sua flor com a brisa que assoprava naquele espaço caótico, e disse:

-Por ser abandonada pela minha própria natureza. Salve-me colibri! Leva-me em teu precioso bico o pólen da minha existência, e fazes a paz para o teu povo. Ah! Como eu ficaria feliz se tu atravessasses esta imponente cerca para deleitar no meu perfume. Não vês que sou a flor mais querida do mundo e a mais antiga do planeta?

Confirmando, o colibri ainda assustado, complementou:

-Sim, eu sei. Mas, eu não posso minha rosa azul. Os homens separaram as nossas almas e as nossas alegrias. É muito perigoso atravessar este muro com tantas trincheiras escondidas, fios elétricos de proteção, patrulhas, e demais dispositivos eletrônicos capazes de medir até quantas vezes bato as minhas asas. Por isso, tenho medo de voar e não mais voltar.

Inclinando um elo de amizade, a flor exora:

-Ó colibri. Tu que reinas nas alturas, atravessas os oceanos e mares, és céleres mais que todos os pássaros. Não me deixe só. Mergulhas agora no infinito azul e desce verticalmente do céu e fazes uma manobra invisível nas tuas asas. Compreendo que o homem jamais verá as tuas asas bateram no tempo. Suplico-te que preciso do teu carinho, conforto e amizade. Quem sabe! Eu poderei matar a tua sede com o doce que vive dentro de mim.

Rapidamente, o passarinho argumentou:

-Ó rosa azul e bela! Não vês que és uma rosa palestina e eu sou um colibri israelense. Não posso atingir os limites demarcados pelo meu povo. Se eu tivesse poder e domínio, eu destruiria esse muro que nos separa e que machuca a minha liberdade, cercando o meu coração. Sim. É verdade. Eu devolveria ao seu povo todos os territórios ocupados, além de uma recompensa por cem anos.

A rosa azul sorriu, e disse:

-Ainda bem que sabes que o meu povo não tem coração duro. É um povo sofrido desde a maldita divisão pela ONU, e que alicerçada por aqueles dois países após a segunda guerra, doaram ao seu povo judeu nossa única terrinha. Não tivemos mais água e nem alimentos, as casas de nossos filhos foram derrubadas. Sem se falar dos hospitais, escolas e a nossa história toda pisoteada pelos laços de sangue.

-Sim. Eu sei de tudo isso. Mais vocês palestinos nos metem medo, atentam contra a nossa paz e os nossos sonhos.

A rosa imediatamente retrucou:

- Não vês que dói ser arrancado de nossas casas ainda dormindo, dominado por tanques, mísseis teleguiados e outros artefatos que maltrata a nossa alma?. Você gostaria de ser despejado agora do seu lar que tanto lutou para possuir e ser lançado nas areias ardentes do deserto sem um teto para descansar o corpo? Você ficaria sorrindo vendo o seu filho se aproximar desta cerca e ser atingido por uma metralhadora automática?


-Eu sei que tudo isso dói e arde dentro da minha alma. Apesar minha bela rosa azul que eu vivo em adornar a natureza das flores, e sobrevoar os mares. Não tenho me preocupado com isso.

E a rosa sobrepôs, dizendo:

-Veja as minhas pétalas colibri. Eu não tenho uma pátria, um solo onde posso deixar cair as minhas corolas ou até mesmo as minhas folhas. E tão pouco desejar avivar a minha liberdade junto com o meu povo. Se não toca o teu coração, basta olhar o tamanho da Faixa de Gaza e observar que ali moram milhões de pessoas espremidos.

O colibri tenta se explicar:

-Rosa azul! Só quero que entendas que uma nação como Israel precisa oferecer aos seus filhos proteção contra os atos de terrorismo contra os civis. E tudo isto tem maculado todas as formas de uma paz duradoura.


-Não... Não... Eu sou uma rosa azul palestina sem destino e sufocada vinte e quatro horas pelos israelenses. Jamais aceitarei esta cerca nos meus territórios. E não reconheço esta cerca como meio de proteger os filhos de Israel ao longo de nossas terras. Saiba que a intenção está provada com a anexação de mais território e construção de assentamentos ilegais. Devemos sim, edificar a paz e não muros.

Contestando, disse o colibri:

-Ó rosa! Também não aceitamos o grande incentivo dos palestinos e alguns governos Árabes em pregar a destruição de Israel. Compreenda que somos legitimados constitucionalmente. Não podemos sofrer ameaças constantes dos suicidas palestinos. Por isso Ariel Sharon determinou a construção para frear esses impactos negativos.

-Eu discordo de suas ponderações vazias, colibri. Sharon sempre manifestou ódio contra os palestinos. E se protegeu com as cercas na tentativa de incorporar toda a nossa terra. Sempre acusou os palestinos de terroristas. Agora eu lhe faço uma única pergunta. Quem foi Ariel Sharon?

O colibri permaneceu calado, somente batendo asas e observando a rosa discorrer. Instante em que esta disse:

-Você não quer falar. Mais o mundo precisa saber que Ariel Sharon era um terrorista. Tanto é verdade que Yasser Arafat sempre afirmou ao nosso povo o perigo desse militar. Você sabe colibri que ele pertencia ao Haganá constituída pela força paramilitar judaica onde agregava terroristas para destruir a administração britânica da Palestina e espalhar o terror pela Europa, isso há muitos anos em sua idade jovem. Não quero muito falar, mais Sharon sempre foi um açougueiro e incitador dos palestinos.

-Eu não concordo com o que você diz minha rosa.

-Lógico que um israelense jamais irá concordar com a verdade. Você não se lembra da Guerra dos Seis Dias? E também da Operação Chumbo Fundido? Muito bem. Você amigo colibri não se faça de esquecido. Não preciso esclarecer detalhes sobre Sharon, que insatisfeito, colocava espionagem no governo do Líbano, incentivando brigas entre cristões e mulçumanos. Ora bolas... Eu vou sorrir pra não chorar. No entanto, Sharon venceu o seu inimigo mandando envenená-lo, somente assim, ele acabaria com Arafat, nosso mártir. Porém, Deus é justo pelo que se faz aqui na terra, e não demorou Alá deu a Sharon o que bem lhe merecia.

Já ouvindo tantas verdades, o pássaro afirmou:

-Rosa! Estou perdendo a paciência. Não vim aqui pra falar dos problemas. O seu povo nunca respeitou nós israelenses. Desde que saímos da Faixa de Gaza que vocês lançam diariamente mísseis Kassam em nossas cidades.

-Eu não seu colibri por que vocês denotam tanto medo dos palestinos. Apenas nos defendemos para que o nosso solo seja o celeiro dos nossos filhos. Não temos medo dos tanques e mísseis teleguiados. Não temos tanques e nem aviões muito menos navios. Só temos as mãos fortes para lançar as vossas pedras contra o gigante que tudo destrói.

Nesta ocasião disse:

-Vamos parar com isso Rosa. Por favor! Isso me dói por dentro.

Irrequieta e nervosa disse a rosa:

-Eu quero que aflija o teu coração e faça sentir que esta cerca não pode separar os nossos desejos e a nossa liberdade. Todos os dias eu choro e lagrimo em todas as manhãs pelo sofrimento do meu povo. Você não sabe quantas crianças deixaram de sorrir para o futuro e quantos homens partiram sem levar os anseios nas esperanças. Será difícil você atravessar esta cerca e dançar entre minhas pétalas amarguradas pelas angustias de milhares e milhares de almas que choram. Até parece que os israelenses querem se vingar do holocausto massacrando o povo palestino. O que mais poderia fazer os homens em sua plena defesa. Chegar em casa e ver a mulher e filhos estirados nos escombros? Será que não dói? É tão dificílimo você atravessar este muro, assim como é raro um israelense pegar a minha flor azul estendendo a sua mão? Não temos exército constituído e nem arsenal para combater todos vocês. O que temos são apenas crianças e jovens que não admitem um combate desproporcional. Não temos nada, nada mesmo. E a nossa cultura é o pedaço que vocês privam os turistas em nossa terra. Roubar a nossa terra e espalhar o medo na barriga de nossas mulheres. É terrível. E, no entanto, vocês são detentores do maior esquadrão assassino constituído legalmente pelo exército. Isso é política de terrorismo, treinar seus soldados só para matar palestinos.

O colibri ameaça:

-Saiba rosa! Não podemos perder qualquer guerra em um único dia. Apesar de que o Ehud Olmert é muito forte, mesmo com os erros cometidos na guerra do Líbano, ainda é um herói. Mas a defesa israelense ainda tem muito que mostrar para o mundo. O mundo ainda não ouviu os estilhaços pelos ares da força elementar que domina a sua inteligência. Há muitos querendo a nossa destruição, porém, só falam e não se arriscam. Não somos nenhuma Coréia e não tememos a Liga Árabe ou qualquer país. E o nosso PIB é direcionado 70% para as nossas defesas e estudos. O mundo precisa acordar e rever que não existe mais Hitler e nem Hesbolá. Pode haver repúdio internacional ou até mesmo sanções da ONU. Israel mostrará que é único e independente para onde for.

Assustada, a flor implora:

-Pare! Por favor! Colibri. Você está tentando explicar que vai lançar uma bomba atômica sobre nós? Eu sei que vocês possuem bomba atômica e que fizeram o seu teste no ano de 1979, ao norte oceânico da Antártica. Suas intenções serão estas?

-Não rosa! Eu não falei isso. Estou tonto, falei besteiras. Desculpa-me. A minha intenção não é esta. Perdoe-me!

-Eu vou perdoar as tuas palavras, e saibas que eu sou uma rosa palestina e tu um colibri israelense. Estou aqui. Venhas! Abraçar-te-ei como o melhor amigo e irmão. Não... Não terei ódio em minhas pétalas e tão pouco o cheiro de sangue. Mas, podemos viver bem sem esta cerca. Venha e me beije levando a minha geração de amor para todo o teu povo. Não é mais hora de brigarmos e perdemos as nossas esperanças.

O colibri olhou para os lados e rebateu fortemente as asas fazendo várias acrobacias, e disse:

-Não posso atravessar minha rosa azul. Há soldados por todos os lados.

Insistiu a flor dizendo:

-Por favor, colibri! Beija-me! Amanhã não estarei mais aqui e minhas folhas se perderão no tempo, e a rosa azul que tanto te inspira murchará para toda a eternidade.. Venhas! E levas os meus minúsculos grãos no teu bico e espalhe por toda a tua terra. Somente assim, poderemos fazer uma união de paz, amizade e fraternidade. Mesmo que sejamos tão diferentes em nossas almas.

-Ó rosa! Tuas palavras me machucam. E neste exato momento, vou ferir todos os regramentos dos homens israelenses. Nem que eu morra com um choque elétrico ou um tiro de metralhadora. Novamente, em nome do amor e da paz que poderá nascer a qualquer instante entre todos nós, vou dobrar o silêncio no ar, e mostrar para o mundo que também temos sentimentos.

-Venha colibri. Estou aqui no meu lado palestino aguardando a tua honrosa chegada com as minhas pétalas ainda virgem, pois nunca fui beijada.

E o minúsculo pássaro subiu num agigantado voo verticalmente numa altura de trezentos metros e atravessou a cerca da inimizade, descendo num ritual de alegria ao se aproximar da flor. E rosa azul com sua majestade de brilho, aceitou ser beijada no interior dos seus sentimentos, ofertando no afeto o seu melhor néctar com sabores românticos duma substância aquosa da paixão e amizade.

O colibri sionista pontificou numa reverência inusitada, sem dizer uma palavra com olhos, cantava a doçura na plantação da meiguice, mergulhando o bico com maestria no sorriso da rosa azul. E não demorou muito, um jipe patrulha se aproxima, e o colibri se despede da rosa levando em seu pico o mais dignificante gesto de amor – polinizando todo o território de Israel.

Sem demora, a rosa azul virou-se e sorriu, murchando sua intensa corola e deixando cair ao chão como gotas serenas da imensa paixão. E naquele dia, o calendário marcava um domingo com a data de 02 de junho de 2019, oportunidade em que se podia ouvir uma grande festa de união e irmandade entre os povos de Israel e o novo Estado Palestino.


 

ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 12/06/2010
Reeditado em 29/12/2022
Código do texto: T2314934
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