Último Adeus - Parte 1
O sol reluzia fraco entre as nuvens escuras do outono. O frio crescia a cada hora do dia. Não havia sentido sair de casa sem ao menos estar com um cachecol ou se não com luvas para aquecer as mãos.
Amanda, estava sentada próxima a lareira. Suas tardes eram sempre as mesmas, sentar-se na poltrona, tomar um delicioso chá de maçã com canela, comer alguns biscoitos de chocolate e ler algo que a prendesse ou a levasse para outro mundo, um mundo que somente para ela existia. Morava com sua avó, sua mãe e seu irmão de 17 anos, se bem que para ela, era a pior coisa do mundo, pois em certo ponto, ela se sentia uma idosa como sua avó, ultrapassada como sua mãe e toda estranha como seu irmão. Aos dezenove anos, tendo este pensamento, estas características era como se estivesse vivendo um futuro que ainda nem estava projetado, como se ela estivesse esquecendo-se de aproveitar a sua adolescencia e viver uma quase vida adulta.
Em meio a tantos papeis, começou a revirar um por um, retirá-los de seus supostos lugares para ver qual seria sua leitura do dia. Pensou em ler um romance, entretanto, decidiu não fazê-la porque não estava em uma atmosfera muito boa (há dias vinha brigando com o namorado que era o mais cobiçado da escola). Pensou em ler algo no gênero policial, mas desistiu de imediato, pois os fatos que se passam nos livros poderiam aflorar em sua mente idéias para fazer algo que, naquele momento não teria nenhum sentido (ela em certos momentos tinha suas neuras e, como qualquer ser humano tem seus defeitos).
Ao abrir uma caixa, encontrou ali entre o livro de Clarice Lispector e um caderno de anotação um envelope alaranjado com um enorme celo da cidade de paris. Um perfume adocicado, misturado com cheiro de cravo sentia ao balançar a carta. Então, olhou pra ele não reconhecendo, já que estava intacto. Um ponto de duvida pairava sobre sua mente, era estranho, muito estranho.
- De quem será essa carta? – perguntou para si mesma.
Ela virou a carta e olhou o remetente, que com enormes letras bem desenhadas já responderam a sua pergunta: Felipe Duboix.
Sentiu então sua perna tremer; seu coração bateu em tons alternados, indo de um passo normal a um acelerado. Muitas coisas atravessaram inesperadamente pela sua cabeça. Não tinha mais nenhum entusiasmo em pensar algo relacionado ao seu namoro, a única coisa que queria, era saber o que estava escrito dentro daquela misteriosa carta.
Amanda é uma típica romântica shakesperiana, sua vida é o ápice de uma vida que nenhum membro de sua familia adotava, o famoso cultivo ao amor platônico. Para ela o amor em si é a dádiva dos deuses e que poucos conseguem sentí-lo de verdade, no entanto, de um tempo pra cá, ou melhor, após começar a namorar viu que esta sua teoria não era real, era mais uma alusão que criou em sua mente. Seu namorado, Felipe, é o oposto dela. Quando estudavam, ele tinha o famoso apelido de garanhão, galinha, o pegador, o cara que gosta de aventura e liberdade, o cara dos segredos e, para Amanda era o que mais irritava e, por incrível que pareça na época da escola ambos se odiavam. Por ironia do destino, estão juntos há um ano e sete meses (até onde eu sei).
Amanda respirou fundo e levantou-se em um único impulso. Pegou a carta entre as mãos, olhou atentamente, e aos poucos foi abrindo-a. O cheiro, a letra e até mesmo o modo que foi entregue foi suspeito, como alguém conseguiria colocar algo tão fácil num lugar que pra você é especial e mesmo assim não suspeitar de nada; é algo para se pensar, porém, o que ela naquele momento estava realmente queria saber, era o que estava escrito na tal carta. Ela respirou mais uma vez e finalmente leu a primeira frase:
“... este pra mim é o fim”.