Último Adeus - Parte 2
Por impulso ela caiu na poltrona na mesma posição que estava. A carta passou por entre suas mãos seguindo os movimentos das lágrimas que escorriam de seus olhos.
- Não! Ele não pode fazer isso comigo. Não agora! – ela correu até o banheiro e parou na frente do espelho.
Ao olhar-se viu que estava chorando. A sua maquiagem estava borrada, seus olhos vermelhos e uma sensação de vazio a tomou por dentro. Não havia mais nada para ser feito, para ela estava acabado, sua teoria sobre amor teria de ser revista, pois depois do que acabara de ler, não tinha mais dúvidas, o amor é somente para aqueles que conseguem entender.
- Se ele pensa que isso vai ficar assim, ele está muito enganado. – gritou olhando-se no espelho.
Sua feição não era mais a mesma, ela sabia que o seu namoro não era um dos melhores, contudo, tinha a certeza que queria conversar e esclarecer tudo. As coisas não mudariam do nada. Pegou então uma caneta e um pedaço de papel e escreveu algo tão rapidamente que sua grafia havia mudado completamente.
O tempo fechou. O sol havia sumido completamente entre as nuvens. As folhas caiam das árvores sorrateiras. Era sinal de que iria chover. Tudo estava acabado. Para Amanda a sensação de desgosto descia por sua garganta como um gosto amargo, mas ela era forte, persistente, não ia desistir de nada. Não agora. Então, ela pegou o seu carro enfurecida, deu partida e quase bateu no portão de saída. A rua estava movimentada mesmo com a mudança do tempo, mas para ela a sensação era de que ali, naquele curto espaço de tempo só estava ela na rua e mais ninguém.
- Alô? Dona Antônia? – perguntou ela segurando o celular desesperada.
- Amanda, querida, quando tempo você não liga - respondeu a mulher do outro lado da linha
- Muita correria – disse desconversando - O Felipe está em casa?
- Está sim, quer falar com ele?
- Não! Não precisa!
- Tem certeza? Ele está aqui com um amigo fazendo um trabalho de geografia.
- Trabalho? – gritou – ele não estuda mais. Desculpe gritar Dona Antônia... mas você...
- Eu entendo. Eu entendo.
- Obrigado!
Grito. A reação dela foi apenas gritar de fúria. Uma sensação de tremor subia pelas suas veias. A sensação de água borbulhando em uma caldeira subia pelas suas veias. Ela corria cada vez mais rápido, quase bateu em um ônibus, por pouco não atropelou alguns pedestres que atravessavam à ponte que dava acesso a casa de Felipe.
A casa dele não era grande, mas era bem confortável. Logo na entrada tinha um enorme jardim com algumas rosas brancas próximas aos cravos. Um banco lateral enfeitado com folhas artificiais indicava um aspecto de contos de fadas. Ela estacionou proximo a entrada. Desligou o carro e respirou como de costume.
- Calma amanda! Respira, Respira fundo. Isso, você aprendeu ótimos exercícios. Ele deve estar fazendo o trabalho. Você não está paranóia. TRABALHO? Trabalho que nada, aquele cachorro deve estar me traindo.
Quando se está com raiva exercício nenhum ajuda.
Amanda bateu a porta do carro e correu até a porta da casa. Deu três violentas batidas. Uma mulher uma mulher atarracada, que aparentava mais ou menos 40 anos, abriu lentamente a porta.
- Amanda querida, você não disse...
- Desculpe Dona Antônia, eu preciso ver uma coisa.
Ela entrou, subiu as escadas dois degraus de cada vez. O corredor era extenso, para ela não seria dificil saber qual era o quarto, estava lá quase todo dia antes de tudo em sua vida mudar.
Parou então rente a porta. Apoiou-se e tentou escutar para ver se encontrava algum barulho suspeito. Seu coração palpitava rápido, como se fosse explodir como uma bomba relógio. Para ela, aquele momento era como se estivesse prestes a ver o futuro da sua vida. Naquele momento tudo o que passou em sua vida passou como flashes. Ela se perguntava se seria bom ver o que não queria ou deveria parar com essas paranóias e tentar salvar o seu namoro, porque ela não podia mentir, amava Felipe como nunca amou ninguém.
Nenhuma alma vagou pelo corredor. Ali estava ela é mais ninguém. Tudo estava quieto, até ouvir um gemido vindo de um riso demorado.
- Que putaria é essa aqui? – disse ela escancarando a porta do quarto
O quarto estava escuro, iluminado precariamente somente com abajur de mesa. Felipe ergueu-se da cama espantado. Pegou a pessoa que estava ao seu lado e cobriu-a com o lençol.
- Quem é essa filha de uma égua que está com você?
- Amanda, o que você está fazendo aqui? – perguntou assustado.
- Acha que eu ia receber sua carta e ia ficar tudo por isso mesmo? Você me conhece Felipe, ou melhor, eu pensava que conhecia.
- Quem deixou você entrar assim e...
- Sua mãe é claro ! E não me venha com perguntas. Quero ver quem é essa piranha – gritou correndo para cima da cama tentando tirar o lençol. Felipe a impediu, em sua aparência e até mesmo em seu jeito de falar dava para perceber que estava com medo. Como se fosse um segredo quem estava em baixo daquele lençol vermelho.
- Amanda não faça isso, por favor.
- Vou fazer o que? Ficar parada vendo você me traindo?
- Acho que você não entendeu muito bem minha carta.
- Eu só li o necessário.
- Até onde você leu?
Ela parou e tentou lembrar até que parte conseguiu ler antes de cair em uma profunda decepção.
- Até que você diz ”este pra mim é o fim”
- Você nem leu a carta inteira, então não tem o direito de entrar na minha casa, gritar assim comigo e querer ser a dona da razão.
- Eu só...
- Eu estou falando não viu – interrompeu – entende por que terminei com você? Por isso, por essa sua compulsão doida, por esses ataques de ciumes, não posso continuar com uma pessoa assim.
- Mas eu te amo!
- Eu também, mas minha situação é outra.
Amanda travou por um baque constante. Não conseguia entender o que ele estava dizendo. Como assim a situação é outra? Será que quem estava debaixo daquele lençol era alguém conhecido? Será que ele tinha mesmo um segredo que todos diziam ter? Todas essas perguntas atravessaram sua mente, apesar disso, nenhuma tinha resposta.
- Deixa eu ver quem está ai debaixo.
- JÁ DISSE QUE NÃO! – Gritou empurrando amanda para outra extremidade do quarto. Ela caiu com toda força próximo da penteadeira e bateu as costas com muita força. Do mesmo jeito que caiu, permaneceu. Alí era o espaço ideal para ela colocar toda essa sensação de ódio pra fora. Foi ai, que ela começou a chorar.
- Amanda, desculpe, eu não!
- Não me toque – disse ela se afastando dele. Aos poucos tomou impulso e levantou. Parou bem em frente a ele e disse – agora eu digo, este é o fim.
- EU CANSEI! – Disse uma voz vinda debaixo do lençol vermelho.