A HISTORIA DE UM CORAÇÃO EMPRESTADO

EXTRA! EXTRA!

PROCURA-SE DONO DO CORAÇÃO ABANDONADO!!!

Na rua ecoam os gritos. A manchete do dia grita o menino. Extra, extra! Fato inusitado, na cidade foi encontrado um pobre coração abandonado...

A curiosidade matou o gato e muitos cidadãos desse mal não querem morrer. Logo compraram o jornal e se puseram a ler. O depoimento do culpado foi lido com atenção, todos queriam saber do acontecido àquele coração...

Assim começa a do “meliante” em questão:

_ Não foi por maldade, foi uma idéia que tirei da televisão. É assim no cinema, além dos atores, tem outra importante profissão, são os dublês. Eles fazem ação de todo tipo: dublês de pés, de corpo e do perigo. Então pensei comigo, podia usar isso no campo da emoção, de tanto sofrer desilusão, pensei em usar um dublê de coração

Confesso que tinha uma paixão, não sabia se ela me correspondia, ficava zonzo de tanto pensar, se apenas de mim gostava ou podia até me amar?! Mas por já conhecer essa dor, queria evitar tal sofrimento, que da última vez quase me arranca o órgão do peito. Foi quando usei da minha influência e de um corpo acidentado, consegui um coração emprestado.

Todo dia minha amada eu via e quando voltava da visita, sentava de fronte do vidrinho que continha o poderoso cardíaco, contava minhas venturas e desventuras, feito doido varrido até que resolvi a ele perguntar, afinal tanto já tinha ouvido... se coisa parecida já tinha sentido, à sua chegada e partida como tinha reagido. Achei que era coisa da minha confusa cabeça, mas ouvia uma bela voz a responder, isso podia jurar!

Tanto me envolvi que parei de sair e com ela passei a ficar, com a voz e o coração. Estranho pensamento invadiu minha mente, diante dessa singular companheira, estaria enlouquecendo de vez? Por falar confidencias com um músculo que não mais batia, por horas a fio?

Intrigado, me coloquei a investigar e descobri com pesar, que linda figura o portava, antes que eu pudesse me apresentar. Quem teve a oportunidade, afirmava com veemência, como era ruim sua ausência, pois que essa doce mulher se foi ainda solteira, mestra querida às crianças o beaba ensinava; pelas colegas respeitada; a família devotada; em outras horas a benevolência se dedicava; no trato com as pessoas era suavidade e leveza. Toda qualidade descrita ainda cabia em formas curvilíneas bem formadas, sorriso largo e cativante, olhar simpático e penetrante, piscadas insinuantes de um rosto de delicado contorno com perfeição de negros cabelos longos.

Essas descobertas me deixaram muito incomodado, a Deus me vi perguntando, como podia esse anjo da terra ser previamente tirado?! Foi quando percebi que a velha paixão havia esquecido e que amor realmente senti, por alguém que após sua morte conheci. Com tristeza conclui mais um amor impossível, de nada me adiantou um dublê de coração...

Não podíamos assim continuar, o fim era eminente e seu último pedido precisava ser atendido. A rosa perfumada com bons sentimentos, que em vida dentro si carregava a bombear-le a vida, depositá-la-ia em formoso jardim, junto a outras rosas de cores sem fim. Injusta acusação, como poderia a tanto amor abandonar, se a queria perto mim, ainda que fosse em um jardim a admirar?

O que pensava ser certo ao meus olhos enamorados, aos olhos alheios foi considerado errado. Agora a todos posso confirmar, grande lição foi meu aprendizado: o amor não se busca, somos por ele encontrados. De nada adianta ter um coração emprestado.

Novo dia, nova manchete era comentada:

_ Extra, extra!!! O mistério foi resolvido. O dono do coração não era bandido, nem relaxado ou esquecido. Era só um homem solitário com o sentimento dolorido. O homem apaixonado foi absolvido.

GABI BORIN
Enviado por GABI BORIN em 04/06/2010
Código do texto: T2298439
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