A wet dream
Acabou o filme e nada ainda tinha ocorrido, nenhuma palavra dita, nenhuma conversa pós fossa. E às onze da noite isso significava cama.
- É, tá na hora de ir – levantei da cama arrastado sem dar tempo de sua mão estendida segurar direito meu braço, mas puxando meu pulso o suficiente pra me atrair a atenção.
- Dorme aqui hoje? – ele podia falar isso olhando nos meus olhos mas eu não podia ouvir isso olhando nos olhos dele.
- É o plano, não? – me fiz de desentendido.
- Aqui. – e o puxão no pulso não deixou eu responder se queria ou não. E quando falei que não podia, falei só com os lábios, enquanto perdia toda a minha calma acalmando alguém que não sabia o efeito que tinha em mim. E enquanto ele agradecia, sem saber que aquilo que cobrava era caro demais para aquele momento, eu só sentia a respiração dele ficar mais branda no meu rosto. E agradecia mudo.
Virei de costas sem desgrudar do corpo dele, roendo a unha do polegar e com vontade de correr dali para respirar um pouco. E foi a mão dele tirando a minha da boca (Tá me atrapalhando a dormir) que tornou impossível respirar, mas impossível sair dali. Seguraria o fôlego até sufocar se fosse preciso, mas não moveria uma peça daquele tétris humano. E assim segurei o fôlego o suficiente para acordar no meio da madrugada com lembranças impagáveis daquele jogo que durou uma infinidade de tempo e resultou nos encaixes mais seguros. E mesmo que momentâneos, mesmo que na hora errada, foram a coisa certa.