Vermelho
Ela era costumeira no mercadinho da esquina da Rua Sem Nome. As rosas eram mais vermelhas, o amor em si. Mais vermelho. O vestido, os lábios carmim eram sobremaneira mais vermelhos que de hábito. O atendente da padaria: dono de um sorriso ímpar que lhe devotava com peculiaridade; a mais ninguém.
A mais ninguém deveria fazê-lo. Ela, apaixonada, mas com a cabeça no “lugar”. Ele, desesperado. De jeito maneira ela o olharia sem que fosse por educação – assim o rapaz pensava consigo.
Porém, num belo dia de sol, as coisas inverteram-se. Ela, asfalto. Ele, pés velozes em direção à saída do mercado. Lágrimas adiantaram-se. Ajoelhou-se ao lado de todo aquele lago de sangue que envolvia a jovem vermelha, não mais por seu vestido ou lábios. Lágrimas. Palavras e sorrisos em meio à água salgada que lhe saía dos olhos e fazia arder às feridas que tocavam.
Ao menos uma vez o sorriso que ele tanto queria. Ao menos nessa vez.
E mais vermelho. E mais. Mais.
Sempre mais.