MÃE, LIÇÃO ATÉ NA PARTIDA
 
      Minha doce e terna Maria, sempre que eu abria os olhos, lá estava, com seu sorriso franco, sua voz firme e suas mãos carinhosas a me proporcionar um afago, ou tentar me ensinar mais uma lição; e foram tantas . Escreveria um livro de muitas páginas, se fosse enumerar todas e contá-las. Mas essa,que me proponho agora, em sua homenagem pós-passagem ao plano superior, foi uma das mais importantes em minha infância pobre, mas feliz, pela mãe que eu tinha.
     Maria, era uma fumante compulsória. Ao ponto de não passar sem o cigarro nem um minuto sequer- a não ser dormindo, ou no trabalho- Juntava tocos de cigarro e desmanchava para fazer um novo ,com outro papel, ou com palha seca. E foi nesse clima de vicio incontido que convivi por dezenove anos de minha vida.
    Ao completar meus dez anos, Maria me presenteou com uma carteira de cigarros, da marca Mistura Fina, existente naquela época. Olhando bem nos meus olhos disse:
   - Meu querido, isso que estou te passando as mãos, é veneno puro, mas como sei que se eu não te der , irás ganhar dos outros ; que não te dirão nada sobre os venenos do fumo, quero que saibas o quanto te amo, pois eu nunca negaria nada para ti meu filho Eu quero parar e não consigo, por mais que tente, por mais que me esforce , não tem jeito.
   Sai dali faceiro, e fui mostrar aos amiguinhos a carteira que havia ganho . Acabei fumando apenas um ou dois, pois os outros, “filaram” o restante . Alguns dias depois, minha doce Maria veio perguntar:
 - E ai filho!... Como foi a experiência com o cigarro, e como teus amigos te trataram?
 - Olha mãezinha, não poderia ter sido pior. Resolvi que ,não quero ser um viciado e muito menos ter que pedir aos outros, ou juntar tocos , como tu fazes.- Respondi .
   Ela deu um sorriso, ascendeu o seu cigarro, e foi fazer o café. Passados alguns anos baixou o hospital repentinamente, com fortes dores estomacais e vômitos sucessivos. O diagnóstico do médico que atendeu Maria, foi : Pedras na Vesícula. 
 Operada em regime de urgência, foi constatado o pior: Cancer generalizado no Duodeno e no Estomago; Não havia cura!  Descobri isso amargamente.
 Minha doce Maria, antes de entrar em coma profundo, disse-me com a voz fraca pelas
medicações que tomava contra as dores terríveis que sentiria sem elas:
     - Olha no que deu esse vicio maldito, (parece que sabia de tudo) meu querido, mas eu te prometo, que ao sair daqui, nunca mais coloco um cigarro em minha boca...juro!
     - Ora, mãezinha, tu já prometeu tantas vezes antes, que eu não acredito mais- brinquei tentando animá-la.
     - É,... mas dessa vez estou decidida a nunca mais fumar. Retrucou
      Agarrei sua mão,dei-lhe um beijo na testa e a ouvi cantar; mesmo ela estando de olhos fechados:
Mamãe, mamãe, mamãe...
Não te lembras o chinelo nas mãos,
O avental todo sujo de ovo,
Se pudesse queria outra vez mamãe,
Começar tudo , tudo de novo .
     Adormeceu e não mais acordou!... Morreu cantando!... Nunca mais fumou!... Ensinou-me uma lição dolorida, mas fundamental, para que eu pudesse hoje homenageá-la, e com a saúde perfeita aos sessenta e um anos , poder dizer:
       Obrigado Maria ; minha doce e amada mãezinha, por essa e tantas outras lições de vida que me ensinaste. 
  
       
       Que Deus ilumine todas as mães, pois elas distribuem essa luz por onde passam
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 08/05/2010
Código do texto: T2245151
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